É com essa afirmação que o Morpheus convence Neo a descer na toca do coelho como Alice e entender a verdade por trás da Matrix. 25 anos depois, viveríamos para ver os princípios do filme se tornando realidade, e uma das maiores obras de ficção científica pode estar se tornando mais tangível do que poderíamos conceber.
Neste segundo dia de Future of AI na SingularityU, fomos impactados pela nova dimensão de treinamentos de Inteligência Artificial, coincidentemente (ou não) através do mundo das simulações.
Esqueça o metaverso
Depois de ter tido a chance de testar o Apple Vision Pro durante estes dias aqui no Vale do Silício e assistir a palestra de Aaron Frank, um dos maiores especialistas do tema no mundo, não tenho dúvidas de que o conceito de metaverso já morreu. O que está por vir é, literalmente, o Multiverso!
O que acontecerá é a intercessão das tecnologias relacionadas a VR/AR/XR – que a Apple tem promovido como computação espacial –, com a IA generativa, cuja própria Apple tem feito significativos avanços para rodar LLMs (a tecnologia por trás do ChatGPT) diretamente no dispositivo, ao invés da nuvem.
É aí que nasce o Multiverso, pois ao invés de irmos a um determinado metaverso como Roblox, Horizons da Meta ou OASIS, do filme “Jogador nº1”, cada um de nós estará pedindo para Siri, assistente virtual da Apple, construir o nosso ambiente, mudar nossos avatares ou mesmo criar novos produtos virtuais, tudo isso instantaneamente e através de voice prompts, ou comandos de voz. Milhões de metaversos, ou um Multiverso de possibilidades.
Temos dados pra isso?
Como você já deve saber, a qualidade de uma Inteligência Artificial está diretamente ligada à qualidade dos dados que foram usados durante a fase de treinamento. É a velha máxima da Engenharia de Dados: Garbage In, Garbage Out. Ou seja, para termos uma Siri criando novas realidades virtuais indistinguíveis do nosso mundo, precisaríamos de uma quantidade surreal de bons dados. Não mais!
A grande tendência apontada no treinamento de hoje foi o uso de simulações, mundos virtuais e dados sintéticos, para criar bases enormes de dados que se aproximam de dados do mundo real para treinar sistemas de Inteligência Artificial. Um caso marcante foi demonstrado pela NVIDIA, que treinou um robô para manipular objetos no mundo físico no equivalente a 10 anos de movimentos diários do robô em uma simulação de um dia! Ao finalizar o treinamento, o robô no mundo real realizou as tarefas perfeitamente.
Aqui temos uma grande lição para os projetos de Inteligência Artificial que você possa estar querendo desenvolver, antes de ir a mercado, faça inúmeras simulações. A própria IA pode simular diferentes situações em escala para garantir a qualidade das respostas, reduzindo por exemplo as pavorosas alucinações das IAs generativas.
Mas e o consumidor exponencial?
No texto de ontem, comentei como cada vez mais o consumidor está adotando as tecnologias, atualmente em um ritmo mais acelerado do que as próprias marcas conseguem absorver. Um exemplo simples é este vídeo abaixo que capturei durante a fala do Aaron sobre vídeos espaciais, um novo conceito introduzido pela Apple através do Vision Pro. A princípio parece um vídeo normal, mas se você assistir em um Apple Vision Pro, verá que na verdade é um vídeo capturado em 3D através da câmera do iPhone 15 Pro Max! Um vídeo espacial sobre vídeo espacial, rsrs.
O que há poucos anos custaria milhões de dólares em câmeras, computadores de alta potência e especialistas em efeitos visuais, foi feito por mim com um smartphone instantaneamente.
Se o melhor CX é uma relação genuína entre marca e cliente, mas cada vez mais a marca e o cliente são AI-powered, então na verdade, não fará diferença se o cliente tenha sido simulado por dados sintéticos, e a marca criada por uma IA generativa através de um prompt.
O que importará é a verdade por trás desta relação.
Mas como perguntou o Neo para Morpheus antes do título deste artigo: “qual verdade?”.
*Harold Schultz é Chief AI Officer da MakeOne e sócio do MakeOne lab.