Consultas, diagnósticos, prescrição de medicamentos: muita gente ainda não sabe, mas é possível fazer todas essas coisas dentro da sua própria casa, usando apenas uma plataforma conectada à internet. As Heath Techs vêm ganhando força no planeta: em alguns países são a escolha da vez dos investidores que buscam empresas unicórnios.
De acordo com dados do Distrito Health Tech Report, relatório mundial dedicado à área, desde 2014, quando muitas empresas de tecnologia entraram na corrida pelo mercado da saúde, os investimentos já chegaram na casa dos US$ 14,6 bilhões, segundo o report.
Desnecessário dizer que, com a pandemia do novo coronavírus, essa situação ficou ainda mais favorável essas techs. Até porque, pisar em um hospital sem medo de se contaminar com Sars-Cov-2 é algo que não há previsão de acontecer em nenhum lugar. Além, claro, de ser o ambiente onde se trata a doença, é também um pólo de aglomerações muito grande. E quem tem consciência do perigo quer passar longe desses lugares.
No Brasil pré-Covid-19, a velocidade das mudanças no mercado de saúde era a de uma marcha contínua, sem grande aceleração. A população ainda se divide entre pagar planos de saúde ou consultas e exames de forma particular, ou usar o SUS, o Sistema Único de Saúde, que é quem está aguentando o tranco dos casos da doença no país.
Entre um lado e outro, porém, começam a surgir alternativas que primam pelo atendimento remoto e por novas formas de cobrança e relação com os pacientes. A mais famosa delas, a rede Dr. Consulta, surgiu em 2011, e atende no Rio de Janeiro, em São Paulo, e em Minas Gerais.
O boom de Health Techs brasileiras foi mapeado: de 160 empresa, em 2014, para 386 em 2019, um aumento de 141% segundo o report da Distrito. Afinal, somos o 8° maior mercado de saúde do mundo. Há muito o que se trabalhar por aqui.
Como está esse mercado atualmente?
Para entender melhor o que pretendem empresas como essas, conversamos com dois fundadores de Heath Techs brasileiras – de áreas diferentes – sobre como eles vêem o mercado agora, em um ano no qual o cuidado com a saúde se tornou a grande preocupação.
Alexandre Gallo, CEO da Pop Saúde, comanda uma empresa que foca em facilitar o acesso das pessoas a consultas, exames e remédios – tudo de forma online. Já Milene Rosenthal, co-fundadora da Televita, está entre as primeiras do mercado de atendimento psicológico, algo que internacionalmente já é mais comum, principalmente nos Estados Unidos e no Canadá. Acompanhe as conversas abaixo:
CONSUMIDOR MODERNO: De onde veio a ideia de criar a plataforma Pop Saúde?
ALEXANDRE GALLO: A maneira que o sistema público de saúde se apresenta hoje não é sustentável, os valores dos planos privados não são viáveis para 70% da população e muita gente ainda procura por diagnósticos no Google. Criamos, então, um sistema de assinatura de saúde para, de uma maneira simples e descomplicada, viabilizar acesso a rede privada, sem as longas filas de espera do sistema de saúde atual e com preços mais atraentes a muitos bolsos.
CM: Com a quarentena aumentou ou diminuiu a procura?
AG: A procura por alternativas de acesso à saúde durante o Covid 19 tem gerado um aumento constante em nossos canais de vendas e atendimento, nossa base cresce diariamente. Nossa meta é chegar a 1 milhão de assinaturas até o final de 2021.
CM: Por que as Health Techs podem ser uma alternativa ao plano de saúde convencional?
AG: As medidas de isolamento social potencializaram a urgência de grandes necessidades da nossa população, principalmente no acesso à serviços de saúde sem precisar se deslocar. Com o cenário atual da economia, as pessoas têm também procurado por alternativas simples, inteligentes, sustentáveis, e que caibam no orçamento familiar mesmo em momento de crise. Nosso modelo atende inclusive MEI e PME, pois finalmente podem proporcionar benefícios aos seus colaboradores sem comprometer o caixa.
Já no âmbito da chamada Telepsicologia, plataformas conectam profissionais com pacientes pelo mundo todo. É possível encontrar até mesmo aplicativos de celular que fazem essa ponte, por exemplo, em inglês e espanhol, muito facilmente. No Brasil, porém, o atendimento remoto para sessões de terapia só bombou mesmo com o impacto do Covid-19. Mesmo assim, Milene Rosenthal, psicóloga e co-fundadora da Telavita, plataforma de psicoterapia online, já vêm tocando negócios do gênero desde 2010.
CM: De onde veio a ideia de criar a plataforma?
MILENE ROSENTHAL: Em uma conversa com uma amiga, ela me questionou o porquê do psicólogo não atender pela internet, uma vez que ela viajava muito e não conseguia realizar consultas presenciais com frequência. A partir daí, imaginei que muitas pessoas também poderiam ter a mesma necessidade e passei a pesquisar mais a fundo o tema e vi que países como Canadá e Estados Unidos estavam bem mais avançados na Telepsicologia.
Foi assim, em 2010, que surgiu a ideia de lançar a startup de atendimento online, pois entendi que ajudaria a democratizar e ampliar o acesso à psicologia no Brasil, seja por falta de profissionais na região ou, até mesmo, pela impossibilidade do paciente se deslocar até o consultório. Essa empresa foi a primeira do país no gênero. Em seguida, em 2016, saí dessa minha primeira startup e conheci os empreendedores Andy Bookas e Lucas Arthur, que já atuavam com um projeto de bem-estar, e decidimos unir esforços para lançar a Telavita.
CM: Como funciona? Quantas pessoas a plataforma já atendeu?
MS: É uma plataforma de consultas online que tem por objetivo conectar profissionais de saúde a pacientes de todo país. Por meio de uma tecnologia robusta, ágil e segura, todo o processo de escolha, agendamento e atendimento de sessão é realizado em ambiente digital, com as devidas autorizações do Conselho Federal de Psicologia. Desde o início da pandemia e do distanciamento social, as demandas por atendimentos na plataforma cresceram exponencialmente, atingindo a margem dos 400% no último trimestre. No comparativo entre maio e junho, a Telavita registrou um aumento de 100% em suas consultas.
CM: Com a quarentena, o atendimento psicológico à distância se tornou rapidamente uma realidade. Vc acha que ele veio para ficar? Quais são os benefícios?
MS: A quarentena e o medo da iminente superlotação de hospitais trouxe uma visibilidade muito grande para essas iniciativas que aliam tecnologia à segurança da população. Elas cresceram exponencialmente nos últimos meses. Creio que, justamente por conta dessa readequação de valores e necessidades, as demandas por essas alternativas tecnológicas devem se manter estáveis a curto e médio prazo. Isso porque os benefícios são vários, desde a praticidade, comodismo e até mesmo ao custo benefício.
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