A revista NOVAREJO conversou nesta tarde (17) com o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Fernando Yamada, durante a 48ª convenção anual do setor, em Atibaia (SP).
NOVAREJO: Como está sendo 2014 para o setor supermercadista?
Estamos em uma baixa de venda considerada estável, nesse índice que vai de 1% a 2%. Na área de alimentos e bebidas, destacam-se algumas categorias que iminentemente dependem de facilidades de crédito e que, pelo próprio modelo de negócio, estão registrando uma retração. Isso porque o cliente está evitando gastar.
Com o crédito em baixa, toda a cadeia de abastecimento sofre. A nossa busca é de como atrair e ativar o cliente, o que muitas vezes não é provocado pelo preço ou por promoção. No final das contas, o que tem sido o diferencial é a facilidade de pagamento.
NV: Esse cenário deve se manter no ano que vem?
Esse panorama foi construído no governo Lula onde a alavancagem do consumo foi toda baseada na área de crédito, então tudo agora depende justamente dos players que oferecem esse crédito. Para se ter uma noção, no Brasil o crédito é 40% do PIB. Em outros países mais adiantados, esse número é de 300% do PIB.
Os índices mostram, evidentemente, que o consumo alavanca o desenvolvimento. No Japão (mesmo sendo uma economia ultradesenvolvida e ultraestabilizada) se o consumo cai, a economia cai. Em 2008, nos Estados Unidos bastou estourar a bolha de imóveis, para cair o consumo de veículos, das lojas e todo o sistema da máquina do consumo. Não existia endividado nos Estados Unidos. Se não tivesse existido o problema dos imóveis, é provável que máquina americana tivesse dobrado de tamanho de 2008 para cá. Foi um dos momentos de menor liquidez em todo o mundo.
E o cenário do Brasil está parecido com esta época. Eu não sou otimista nem pessimista. Eu não acredito que o Presidente da República, seja ele quem for, vá encolher o Brasil. Independente dos indicadores macroeconômicos, das dívidas públicas, eu acho que o presidente que vier tem que fazer o dever de casa, mas ao mesmo tempo fomentar o desenvolvimento.
Não se ajeita um país o encolhendo. Em 2015, o presidente não pode deixar o desemprego aumentar. O nível de renda está baixo, mas ainda está positivo e eu não enxergo que a inflação vá disparar. Um alvo que o setor supermercadista está sempre perseguindo é de ser competitivo e investir na produtividade e tecnologia. A massa laboral está cada vez mais alta, então vai se gerar muito emprego, mas não podemos esquecer-nos de gerar produtividade para se trabalhar com mais eficiência.
NV: Como a entidade busca a exoneração fiscal junto ao poder público?
Criamos um plano chamado Abras Maior, um plano de desenvolvimento que solicita algumas contrapartidas do Governo. Nós fizemos o dever de casa, crescemos nosso PIB (só não aumentamos mais por uma questão de conjuntura). Enquanto todas as indústrias tiveram demissões, nós não demitimos.
Sempre abastecemos o mercado com ofertas acima do que ele necessita. O setor supermercadista não é dependente de um produto fabricado na China, por exemplo. Isso o governante tem que se orgulhar. O parque fabril de alimentos, bebidas, higiene e limpeza cresce cada vez mais enquanto o parque fabril têxtil está diminuindo.
Isso porque prefere produzir no ?quintal do mundo?: a China. Ninguém quer investir no Brasil a não ser o setor supermercadista. Nossa indústria faz o País ficar vivo. Acreditamos que isso é um formato sustentável. O importante é estar sempre movimentando para cima.
NV: O que tem sido feito em relação à produtividade dos trabalhadores?
Estudamos cases a fim de alcançar processos mais eficientes para produzir mais com menos gente. É a tendência do setor, é nossa aposta. Buscamos ajuda de consultores especializados para conseguir colocar em prática processos cada vez mais automatizadas, com menos erros, menos retrabalho, menos sobreposição de serviços. Nos espelhamos em tendências mundiais e a própria trade de tecnologia (equipamentos, softwares, novas práticas) vai se integrando no setor.
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