Toda a discussão a respeito do novo cenário cibernético, com a aproximação do metaverso e a popularização das criptomoedas, faz com que alguns dos produtos do momento comecem a ser questionados. Entre eles, a tecnologia NFT (tokens não fungíveis) tem gerado uma série de opiniões contrárias, sobretudo quanto a sua segurança e perpetuação no mercado — posto que o metaverso já deu indícios de que deve funcionar com a comercialização desse produto digital.
No entanto, ainda que esse seja o mais lógico e tecnológico avanço do momento, é preciso ter cuidado. Sem a devida regulamentação, as NFTs e até mesmo o metaverso podem se tornar, em um piscar de olhos, em um ambiente hostil para os usuários.
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Especificamente para os NFTs o risco aumenta, posto que essa é uma tecnologia comercializada em muitas regras, mas que oferece uma sensação de propriedade e certificação, e que já apresentou, mesmo que por pouco tempo no mercado, algumas complicações.
Roubos e uma comunidade artística desvalorizada
Embora se apresentem como uma alternativa muito segura — a mesma utilizada para garantir as transações de criptomoedas, por meio de blockchain —, nem sempre o trâmite de NFTs é seguro (e lucrativo) para todas as partes. Há inúmeros registros de roubos de artes digitais através dos tokens não fungíveis, o que representa uma falha neste mercado que tem como seu principal mercado as obras visuais.
Um caso não tão recente ocorreu com a ilustradora norte-americana Loish, que viu suas artes divulgadas em seu próprio portfólio serem comercializadas em NFT sem sua permissão, o que configura roubo e retira o principal propósito “vendido” por essa tecnologia: autenticidade, certificação e direito a royalties e direitos autorais ao autor original da obra a cada revenda.
“Hoje eu descobri, procurando pelo meu próprio nome no Open Sea, 132 ocasiões em que minha arte foi designada como NFT sem a minha permissão. Aparentemente, o único jeito de removê-los é escrevendo e-mails individuais para cada um dos casos, algo que eu realmente não tenho tempo para fazer”, descreve Loish em seu Twitter. “Um desses NFTs é inclusive um desenho que fiz em homenagem a um amigo, meu que faleceu anos atrás”, complementa.
Leia mais: Entenda o perfil dos compradores de NFT
Sem fiscalização para proteger os artistas originais
“Os NFTs deveriam ser sobre autenticidade, mas essas plataformas (e isso é sobre você, Open Sea) fazem menos do que o mínimo quando se trata de garantir que as imagens sejam enviadas por seus criadores originais”, escreve a artista. Ela representa uma gama de artistas que sofreram o mesmo e se vêm sem um aparo jurídico e acessível para resolução do problema.
Tudo isso ocorre porque é possível criar um NFT de absolutamente qualquer imagem na internet. Segundo a plataforma de artes digitais DeviantArt — que também funciona como portfólio de muitos artistas —, apenas entre julho e setembro de 2021 foram identificadas mais de 11 mil peças de arte furtadas para revenda como tokens não fungíveis.
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“Quer saber da minha experiência com NFTs? Tenho que passar horas e horas do meu tempo denunciando violações de direitos autorais, às vezes sem sucesso, pois essas plataformas mal respondem. Então sim. Estou tremendo de raiva porque estou cansada disso. Quero que essas plataformas implementem um método mais rápido e intuitivo de denunciar violação de direitos autorais e um sistema de verificação para que as pessoas não possam simplesmente enviar o trabalho de outras pessoas”, explica a artista Loish em seu Twitter.
E esse é apenas um dos principais motivos que apontam riscos que o NFT pode trazer ao mercado, mas não é o único.
Uma visão de cibersegurança para transações de NFT
De acordo com um estudo realizado pela DappRadar, uma startup de análise de criptomoedas, somente em 2021, o setor de NFT movimentou US$ 13,2 bilhões. Mas não exatamente de forma segura.
Para Andrew Martinez, CEO da HackerSec, empresa que oferece cursos sobre cibersegurança, é preciso analisar a inovação do NFT de forma cautelosa. “Os tokens não-fungíveis oferecem um mundo totalmente novo em que a negociação de ativos digitais exclusivos pode ser extremamente rentável. No entanto, é necessário analisar as inúmeras questões relacionadas aos riscos cibernéticos dos NFTs”, inicia o executivo.
Ao todo, o especialista destaca dois possíveis riscos dessa tecnologia, que inclusive se conectam com a história de Loish e tantos outros artistas que promovem e divulgam seus trabalhos nas redes sociais e em plataformas especializadas para portfólio digital: a procedência do ativo e o roubo e a exposição de dados.
Um olhar atento para fiscalizar o que se propôs a ser “livre”
Assim que foi criado, o NFT trouxe consigo não apenas uma inovação tecnológica, como também financeira: comercialização por criptomoedas, sem intervenção bancária, sem fiscalização ou regulamentação por órgãos tradicionais. E isso, como já era esperado, é algo que traz benefícios e malefícios na mesma balança.
E sem regulamentação, o sistema permite que ainda mais artistas tenham suas obras fraudadas por plataformas que comercializam tokens não fungíveis. “Há plataformas inclusive que não se responsabilizam pela autenticidade dos ativos vendidos por meio dela, nem possuem sistemas de prevenção de fraudes. Isto faz com que haja arrecadação por parte de um cibercriminoso e os verdadeiros artistas deixem de receber pelas suas respectivas obras”, explica Martinez.
Leia mais: Por que a NFT poderá ser regulada em um futuro próximo?
Dessa forma, a melhor maneira de entender se aquele ativo não é passível de venda é pesquisar sua origem. Isso implica procurar o nome do artista que assina a obra e contactá-lo — algo que muitas vezes é ainda mais fácil do que parece, posto que a comunidade já está atenta a possíveis fraudes — via redes sociais ou mesmo e-mail corporativo.
“É possível inclusive verificar antes da compra, se o autor original confirmou se obra se tornou um NFT. Isto evita que alguém seja enganado”, complementa o CEO da HackerSec.
Originalidade e certificação de posse até a página dois
Outro ponto relevante é que até mesmo a premissa do NFT pode ser difusa quando o assunto é propriedade do ativo. Afinal, toda a teoria sobre os tokens era justamente a possibilidade de fornecer uma autenticidade única, mas isso não acontece tão bem na prática.
Isso porque a comercialização dos ativos depende de carteiras físicas ou digitais, assim como na Exchange ou mesmo em corretoras de criptoativos. Essas plataformas podem ser clonadas, roubadas ou até mesmo comprometer as credenciais.
“Devemos nos atentar onde armazenamos nossos ativos digitais e em quais mercados os utilizamos. A proteção dos ativos a partir de sites de exchanges e contas de e-mail associadas com senhas fortes e autenticação de dois fatores, minimiza os riscos. Invista sempre em uma solução de segurança robusta para proteção dos dispositivos usados para manusear fundos, principalmente no caso dos NFTs, que ainda é considerado algo novo no mercado”, finaliza o executivo.
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