A notícia do momento é que a Netflix está planejando criar um serviço de assinatura mais barato, porém, com a inserção de anúncios publicitários.
O formato dos anúncios e o modelo como isso será adaptado à plataforma ainda não se sabe. O que sabemos é que essa possibilidade foi noticiada alguns dias atrás durante uma conferência da companhia quando foram apresentados os resultados do seu primeiro trimestre, que indicaram, pela primeira vez, uma perda significativa de assinantes (200 mil a menos).
Estaria a era do streaming pesando no bolso do consumidor? Ou seria a competitividade de outros concorrentes do setor? Ou ainda, a falta de receita para investimentos em novos conteúdos pela própria Netflix que determinaram essa mudança?
Para Amber Benson, VP, Diretora Executiva de Mídia & Conexões da agência R/GA a competição por conteúdos que sejam incríveis e premiados é feroz e, provavelmente, é o maior condutor da erosão de assinantes da Netflix.
“Honestamente, é realmente uma bola de neve: com menos assinantes, a Netflix lentamente começou a cobrar mais dos seus assinantes fiéis porque desacelerar a produção de conteúdos de primeira-linha não é uma opção para se manter competitivo no cenário de streaming”, avalia Benson.
Para o executivo da R/GA, a Netflix encontra-se agora em uma nova encruzilhada, pois aumentar o preço da assinatura provavelmente aumentaria essa erosão.
“De repente, um modelo que inclui dinheiro de anunciantes torna-se mais atraente – e até mesmo necessário – para continuar a financiar conteúdos e talentos necessários para permanecer relevante e desejável. Minha intuição, ou talvez esperança, é que antes da Netflix apostar tudo em interrupções comerciais, eles invistam em product placement e outros programas de publicidade mais passivos”, avalia Benson.
Product Placement: de volta para o futuro
Product Placement uma estratégia de marketing baseada na introdução natural de marcas e seus produtos em filmes, novela e seriados de TV. O modelo não é nenhuma inovação e já é usado há muito tempo.
Na estratégia, um ator, por exemplo, age dentro do enredo se relacionando com um produto que faz parte da cena, assim como todos os elementos que a compõem. Pode ser uma garrafa de bebida, um alimento embalado, um tênis sendo calçado, um carro, um aparelho doméstico… enfim, são inúmeras suas possibilidades. O formato consiste em não anunciar de forma direta esse produto e sua venda, mas, sim, exibir sua marca com destaque num contexto.
Um exemplo clássico e muito marcante é o do filme E.T (1980). Na época, a marca de chocolates Hershey’s pagou alguns milhares de dólares para aparecer em cena.
E.T. não é da sua época? Tudo bem, vamos lembrar então de uma das séries mais famosas da Netflix “Stranger Things”. Na segunda temporada, a cena da personagem Eleven em um supermercado com caixas e caixas de waffles Eggo nos braços é um outro bom exemplo.
Na época, em nota ao portal CNN Businesss, a fabricante dos waffles Eggo disse que essa inserção no seriado impulsionou de forma acentuada as vendas do produto nos EUA. Na carona do sucesso da série a Eggo lançou receitas especiais de waffle em sintonia com cada um dos episódios da nova temporada de “Stranger Things”.
Netflix acertou nessa nova estratégia?
Voltando a análise sobre os novos passos da Netflix, muitos especialistas acreditam que em vez de buscar receitas para ampliar seu catálogo, a Netflix também está tentando diversificar seu conteúdo além de filmes e séries. Investimentos na sua equipe de serviços de games, lançada em novembro de 2021, pode ser um deles.
Pela análise, a Netflix investirá para se ramificar em diferentes tipos de conteúdo para diferentes públicos para seguir sendo a principal referência em plataforma de streaming do mercado.
Contudo, mesmo com o alto número de assinantes caindo nos EUA e Canadá, alguns especialistas também afirmam que a Netflix continuará fazendo suas maiores apostas em mercados onde potenciais novos assinantes podem ser encontrados.
Basta olharmos para os números cada vez maiores de produções coreanas, turcas, ou de países nórdicos e outras nacionalidades (incluindo Brasil) fora do eixo mainstream de criação e produção de entretenimento para TV. Para especialistas do entretenimento “erro de programação” está fora dessa análise.
Cabe aqui um recorte: um estudo recente apontou que 81% dos espectadores do Brasil compram produtos ou serviços após verem anúncios no streaming.
Por outro lado, seus concorrentes de streaming como Apple, Amazon e Disney, possuem outras fontes de receita com outros produtos em tecnologia e outras frentes. E, embora ainda tenha alguns acordos de licenciamento, a Netflix parece em grande parte sobreviver da sua própria biblioteca de títulos.
Por fim, em um mercado global onde escalada de preços não é nenhuma novidade hoje – independentemente do setor -, o desafio de elevar os preços em plataformas de entretenimento, mesmo em um momento de incerteza macroeconômica, parece não ser um negócio arriscado para empresas como Netflix.
Se essa é uma saída para novos projetos e novas produções, novos formatos de propaganda, ou atrair um novo público com preços mais acessíveis, ainda é cedo para encontrar uma resposta para este movimento da Netflix (e com o tempo talvez encontremos mais do que uma). Enfim, no curto-médio prazo os números e, certamente, o público dirão se a Netflix acertou ou não nessa nova estratégia.
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