De algum tempo para cá, tornou-se impensável começar um novo negócio sem um propósito. Essa perspectiva marcou o começo de “um tempo mais fácil para os sonhadores” – e peço licença para discordar do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que cita um momento complicado para quem sonha.
Contudo, tudo ficou mais complicado para quem buscava a inovação pela inovação, o lucro pelo lucro ou a tecnologia pela tecnologia. Já não é possível pensar apenas no que foi feito durante o dia e no quanto será ganho com isso pois, de repente, alguns malucos resolveram fazer perguntas: Por que? Por quem? Para que?
São muitas as questões do dia de hoje – e também são muitos os stakeholders, os propósitos, as demandas. Para quem já nasceu nesse cenário, as coisas não são tão difíceis assim – exemplos disso são algumas empresas ou startups que nasceram a partir do desenvolvimento de tecnologias focadas em solucionar problemas sociais. Para quem nasceu em outro tempo e ainda não encontrou um propósito, fica a recomendação: corra e encontre um.
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Mas há também companhias que nasceram em uma época diferente e que, mesmo assim, já tinham uma ideia maior sobre aquilo que queriam criar – mais do que um resultado puro e simples. A Natura é um exemplo claro disso: a empresa foi criada em 1969, mas carrega em sua história o símbolo da natureza. Quando ainda não se falava tanto em sustentabilidade, quando esse termo se resumia ao “ecologicamente correto”, a Natura se destacava de forma automática – e tem se esforçado para se manter como referência depois das mudanças da sociedade.
O case da Natura foi citado, inclusive, pelo fundador do Sistema B, como uma referência positiva, durante a II Conferência Sodexo de Qualidade de Vida. No evento também foi dito que não é suficiente ter um propósito, mas é fundamental demonstrá-lo, colocá-lo em prática. Curiosamente, foi isso o que aconteceu durante a própria conferência.
O propósito da empresa está ligado à qualidade de vida e, não por acaso, à alimentação. O tema, identificado inclusive como um direito básico do ser humano, esteve presente desde o começo na empresa e continua sendo fundamental. Para os presentes no evento, contudo, isso ganhou uma dimensão muito maior. O assunto se tornou palpável, literalmente: do começo ao fim, clientes da Sodexo serviram os mais variados pratos aos convidados. Um dos presentes foi o Lenôtre – restaurante francês reconhecido mundialmente, que conta inclusive com uma escola de gastronomia.
Comida = interação
A presença dos alimentos causou – como costuma causar – um efeito curioso: de repente, o diálogo se torna mais fácil, as pessoas se tornam mais abertas ao contato. O clássico “networking” se torna uma agradável conversa entre colegas. Esse aspecto foi observado inclusive por um dos chefs da Sodexo, durante um almoço com o CEO da empresa, Michel Landel. O especialista contou que muitos dos chefs jamais haviam se encontrado mas, ao se posicionarem diante dos alimentos, tornaram-se amigos, parceiros na arte da culinária – a arte que une todos os povos. De fato, tivemos acesso a refeições do mundo todo – e, enquanto isso, fomos cidadãos do mundo.
Mesmo com toda essa oferta, é preciso dizer que a preocupação da Sodexo com o desperdício de alimento – uma triste realidade global – esteve presente também por lá. E toda a experiência gastronômica tornou real a questão da qualidade de vida, da preocupação com os indivíduos ao redor do mundo e, é claro, com aqueles que produzem esses alimentos.
Não por acaso, a preocupação com o estado das pessoas foi discutida no mesmo painel em que Sophie fez o seu discurso final, na conclusão da Conferência. Quem falou sobre o tema foi Angel Gurría, secretário-geral da OECD. Para eles, empresas precisam ser baseadas em pessoas e na forma como desejam impactá-las. “Com isso em mente, é preciso pensar na qualidade de vida que está sendo entregue a todos os indivíduos”, argumenta. Ele acredita, ainda, que o trabalho é um dos fatores que afetam o envolvimento cívico das pessoas – e, hoje, ele não vê esse aspecto com bons olhos, julgando que estamos pouco engajados, em nível global.
Engajamento
“As pessoas não sentem que estão compartilhando a situação econômica”, defende. “Colocar as pessoas no centro, inclusive por meio de políticas públicas, é uma estratégia que se refletiria no trabalho e que é fundamental para a qualidade de vida”. Como exemplo, ele cita a votação do Brexit – a separação do Reino Unido da União Europeia –, da qual 60% dos jovens não participaram. O sinal, para o secretário-geral, é de que as pessoas estão desencantadas.
Sophie comentou que a Sodexo, como outras empresas globais, tem um papel que envolve a realização das pessoas. Afinal, a empresa emprega pessoas de muitos países e movimenta a economia de diversas formas – inclusive porque conta com fornecedores e colaboradores, envolvendo as mais diversas áreas de negócio.
Por fim, ela agradeceu pela presença de pessoas apaixonadas pela causa da qualidade de vida e lembrou que a Sodexo tem lutado para fazer com que seu crescimento tenha um sentido – justamente para se manter alinhada ao mundo de hoje. Por fim, diz que investir em qualidade de vida é a visão e a meta de empresa, porque essa é a única forma de obter evolução em negócios, sustentabilidade e na humanidade. “Minha visão é de que vamos precisar de pessoas para cuidar de pessoas – e é isso o que nossos funcionários são orientados a fazer hoje e é o que eles farão cada vez mais”, conclui.