Em meu último artigo citei a tragédia de 8 de março de 1857 em que mulheres de uma indústria têxtil de Nova York morreram carbonizadas, ao iniciar uma greve por melhores condições de trabalho.
A data, oficializada pela ONU em 1975 como Dia Internacional da Mulher, em suas formas de celebração, talvez em nada (ou muito pouco) façam jus à importância das transformações sociais vividas ao longo destes 157 anos.
Talvez não tenhamos condições de compreender, por meio do exercício da alteridade, a intensidade dos significados construídos nas experiências vividas por estas mulheres. Nascemos em tempos de maior liberdade, reconhecimento e espaço de expressão. As conquistas que acompanhamos (eu e as mulheres contemporâneas a mim) aconteceram em 50 anos, curto espaço de tempo quando falamos em mudanças históricas.
Entretanto, carregamos conosco diariamente as marcas históricas, que mesmo inconscientes nos constituem.
Num país em que a população é predominantemente feminina (51% de acordo com o IBGE – 2010), aproximadamente 50% é economicamente ativa. Onze milhões de mulheres são responsáveis pela casa e pelo menos 6 milhões são mães.
Mulheres…
Cada vez mais inseridas no mercado de trabalho e mais responsáveis pelo orçamento doméstico, cada vez mais envolvidas no planejamento de suas carreiras e nos resultados que podem alcançar por meio do trabalho. Um universo de aspirações e realizações passam a integrar sua vida. O que por muito tempo foi ocupado pelo casamento e pela maternidade, agora precisa dividir espaço com a carreira e os frutos que dela vierem. Porém, estamos falando de um rearranjo e não necessariamente do abandono de um ou outro quesito.
Algumas empresas, sensíveis à presença das mulheres e sua força de trabalho encontraram formas de contemplar os anseios das que desejam se dedicar à carreira sem perder de vista a realização pessoal advinda da maternidade. Estas empresas compreenderam que num universo em que a educação dos filhos ficou predominantemente a cargo das mulheres, a dedicação à carreira implicaria na divisão de responsabilidades com alguém ou alguma instituição. Entenderam que a energia humana dedicada ao trabalho não pode prescindir da mesma energia dedicada à formação de seres humanos. Por conta disso, decidiram oferecer creche aos filhos de seus colaboradores.
São empresas que valorizam e investem em relações humanas, principalmente na mais elementar de todas: a existente entre mãe e filho.
Se a vida feminina sofreu mudanças estruturais ao assumir novos papeis sociais, a maternidade ganhou novos contornos. Trabalhar numa empresa que oferece creche aos filhos das colaboradoras e poder viver a vida profissional e pessoal de forma mais equilibrada é ainda realidade para poucos no Brasil. Entretanto temos algumas boas experiências que revelam a importância do investimento humano que a creche na empresa representa. Compartilhar a educação dos filhos com profissionais competentes e cuidadosos e viver os desafios da profissão no ambiente de trabalho é um diferencial extremamente reconhecido pela mulher trabalhadora.
Tenho o privilégio de fazer parte deste universo ainda restrito, mas muito importante, do mundo corporativo. Sou fundadora de uma empresa que faz gestão de creches corporativas: o CEDUC.
Estamos há quinze anos contribuindo para que as mulheres construam uma história mais harmônica de relação entre família e profissão. Temos nos dedicado a entender a relação das empresas com seus profissionais e de que forma um projeto de creche pode acolher a identidade da empresa que nos contrata ao mesmo tempo em que garanta às crianças um atendimento que respeite seus ritmos, necessidades, características e direitos.
A creche dentro da empresa tem seu “DNA” definido pela cultura organizacional. Existe uma relação mais direta com mundo do trabalho e, especificamente, com a rotina profissional das mães das crianças que a frequentam. Acompanhamos diariamente os desafios de muitas mulheres que se dedicam à carreira e à família. Muitas são as expectativas, muitas são as exigências, muitas são as interrogações diante da necessidade de conciliar tudo que a maternidade lhes atribui, bem como a vida no trabalho. Muitos são os compartilhamentos. Nos relacionamos e crescemos a cada dia, aprendendo a viver os desafios do mundo feminino tão fortemente transformado no último século. Somos construtores de nossa cultura e de uma cultura corporativa que tende cada vez mais a reconhecer e dar visibilidade à mulher e sua força de trabalho, acolhendo as peculiaridades do feminino no mundo de hoje. Temos nas mãos uma oportunidade ímpar de escrever um capítulo da história das mulheres trabalhadoras e sabemos a medida desta responsabilidade.
Os detalhes da vida na creche corporativa são inúmeros, mas este será o foco de meu próximo artigo. Até lá.
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