O Facebook acaba de anunciar a aquisição da empresa desenvolvedora do aplicativo Whats app por US$ 16 bilhões. US$ 4 bilhões em dinheiro e o restante em ações.
Por trás do número absoluto aparentemente chocante – US$ 16 bilhões superam PIBs de um bom número de países – há toda a lógica de uma economia regida por insumos até outro dia considerados intangíveis: informação, conhecimento, tempo e atenção.
O Whats app já possui cerca de 430 milhões usuários ativos mundo afora em dados estimados (Jan Koum, sócio-fundador da empresa, anunciou este número em uma conferência realizada em Munique em janeiro deste ano). Ao final de 2013 contabilizava 400 milhões de usuários e agregando novos clientes ao ritmo de 25 a 30 milhões/mês. Como o leitor deve saber (e usar), o Whats app permite a troca de mensagens entre usuários, com fotos e mensagens e texto gravadas por meio das redes de dados, sejam 2G, 3G, 4G ou wifi. Mais simples, rápido e inteligente que o SMS, o app facilita diálogos e conversas e mudou a forma de uso dos smartphones. Ligações tornam-se quase invasivas. A chamada pelo app permite saber se o usuário está on-line e disponível para a conversa com discrição. Também permite conversas simultâneas entre diversos usuários.
Muitas estudos e outros tantos especialistas divagaram e especularam que o futuro do Facebook trazia nuvens negras no horizonte justamente porque os números de sua audiência indicavam uma redução do tempo e da frequência do público mais jovem no ambiente da rede social. A evasão ou não inclusão de pessoas entre 15 e 25 anos poderia significar uma sangria na estratégia e negócio do Facebook, na medida em que ela poderia ficar confinada a frequentadores mais idosos, sem renovação e, portanto, com futuro limitado.
Pois bem, há pouco mais de um ano (em setembro de 2012) o Facebook comprou o Instagram, app que permite compartilhamento de fotos e vídeos rápidos entre usuários. Pagou US$ 1 bi. E ontem, anunciou o extravagante preço de US$ 16 bilhões pelo Whats app. Qual a lógica?
A resposta é a seguinte: o Facebook comprou tempo. Pagou US$ 16 bilhões pelo tempo de mais de 430 milhões de usuários, dos quais milhões e milhões pagam US$ 1,00 ao ano para utilizar o Whats app. Mais de 430 milhões de usuários que usam muito do seu tempo nesta “rede”. E é sobre a conquista do tempo que o jogo da sobrevivência de empresas no mercado hoje é jogado. Reconsiderem o jogo da fidelidade. Reconsiderem a relevância do “melhor” produto ou do serviço “mais conveniente”. O bem mais precioso que o seu cliente vai transacionar com a sua empresa é tempo. Toda a empresa deve perceber que seu produto, seu serviço, seu negócio significa diluir o que faz em informação relevante. Informação relevante capaz de reter o consumidor em seu ambiente pelo máximo de tempo possível. Quanto mais tempo você tiver do seu cliente – em um mundo repleto de estímulos que requerem o tempo dele – mais chance você tem de conquistar a atenção desse mesmo cliente. Obviamente que o resultado disso é dinheiro.
A tão falada “experiência do cliente” significa criar estímulos que chamem a atenção do cliente e permitam a ele disponibilizar o seu tempo com um produto, um serviço, uma marca. Se a atenção for integral e individual, tanto melhor. Até porque hoje, o cliente dispersa a atenção, divide-a em diversas plataformas , ideias e objetos e informações e visões simultaneamente. Posso estar escrevendo esse texto enquanto escuto um podcast ou ouço música ou uma rádio e à minha frente a TV mostra o noticiário do canal de notícias.
Quanto vale conseguir o tempo do cliente? O Facebook pagou cerca de US$ 10,00 em dinheiro pelo tempo de cada usuário do Whats app. E mais US$ 12 bilhões em ações. Ações as quais o pessoal do Whats app só terá direito se conseguir manter, ampliar e redimensionar o tempo de cada vez mais usuários, garantindo a atenção deles.
Alguém pode falar: “Mas o Whats app não vende publicidade. Ele só custa um US$ 1,00 por ano por usuário. E daí que os clientes passam muito tempo nele. Como o Facebook vai recuperar o investimento?” A lógica aqui novamente não se baseia no modelo de monetização tradicional baseado em venda de “publicidade”. O Facebook vai ter acesso aos usuários do Whats app, vai integrá-los não na plataforma mas pela plataforma. Vai levar ao mercado a seguinte premissa: onde os consumidores passam mais tempo hoje? Na TV, no trabalho, nas ruas, nos cinemas? Não. No Facebook, no Instagram e no Whats app. E é neste conjunto de plataformas que geram informações pelas quais você, empresa, quer pagar. Informações que você precisa para organizar seu Big Data. Informações que podem orientar a sua empresa a ganhar a atenção do cliente. Você não quer o cliente. Quer o TEMPO e a ATENÇÃO dele.
Sim, amigo leitor. Sim, amiga leitora. O nome do jogo é tempo. NO filme “O Preço do Amanhã” (2011, direção de Andrew Niccol), Justin Timberlake a Amanda Seyfried vivem em uma sociedae na qual o tempo é literalmente a moeda de troca. Para conter o crescimento populacional, as pessoas precisam transacionar e receber em tempo. Quanto mais tempo uma pessoa tem, mais rica ela é. Sim, porque a tecnologia permite às pessoas viverem quase que eternamente. Desse modo, o mundo poderia ser inabitável – com a redução sensível da mortalidade. Os pobres precisam trabalhar e se virar para terem mais tempo de vida ou simplesmente “desligam” aos 25 anos. Ao adquirir o Whats app, o Facebook literalmente inaugura a era de que tempo é dinheiro, e a informação advinda do tempo do cliente é a matéria-prima para criar um produto capaz de atrair a atenção e conquistar cada vez mais tempo do cliente. Quanto mais tempo você adquirir do seu cliente, maior será o tempo de existência da sua empresa.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Inteligência de Negócios do Grupo Padrão.
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