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Romeu teria montado a marmita do Julieto?

Romeu teria montado a marmita do Julieto?

Mais do que uma simples tendência, o cuidado intencional por trás da preparação de marmitas oferece uma chave de leitura sobre como a Geração Z lida com afeto, rotina e identidade.

O uso de lancheiras já é um tópico nas redes sociais há algum tempo e voltou a ser discutido nos últimos dias depois do viral das publicações de Luiz Felipe Alves, que decidiu compartilhar com os seguidores as lancheiras que prepara para o marido levar para o trabalho presencial. Engana-se quem pensa que é simples, pois o influenciador elevou as lancheiras a outro patamar, com uma produção super elaborada.

A reação do público variou entre o humor e a reflexão. Por um lado, algumas pessoas brincaram que não conseguiriam esperar até o horário do almoço para comer tantas comidas que pareciam deliciosas e que gostariam de ter alguém para preparar suas lancheiras também. Enquanto outras se deram conta da discrepância entre a realidade de Luiz e a delas, seja pelo tempo que ele tem para o preparo dos alimentos ou como tudo que vai na lancheira parece pertencer a uma família de classe social mais rica.

No entanto, mais do que desejar ter um par romântico afetuoso, o que se vê é o desejo por um gesto com intenção. Dar e receber cuidado de forma visível, sensível e até mesmo performática. Mas, performar não no sentido de falsidade, e sim de autoria: Luiz Felipe monta as suas lancheiras como quem assina uma carta. Esse desejo se conecta com a vontade de ser visto e reconhecido em um cotidiano que, para muitos, é cada vez mais automatizado.

Além disso, depois que os vídeos de Luiz viralizaram, muitas pessoas começaram a gravar conteúdos parecidos, seja para demonstrar carinho para quem irá receber a lancheira com as comidas para um dia de trabalho, seja para mostrar a diferença de realidade para a que é apresentada pelo influencer. Esse movimento ficou conhecido como “Trend da Lancheira”. Inclusive, no TikTok, a #lancheira tem 35 mil vídeos, enquanto a #marmita tem 66 mil.

Neste sentido, resolvi elencar 3 grandes tendências que essa situação me fez perceber:

1. A Geração Z valoriza a serendipidade: o ato de descobrir algo de forma inesperada e afortunada, num movimento contrário à certeza dos algoritmos. À medida que a IA melhora a curadoria de experiências, algumas pessoas estão resistindo à essa padronização algorítmica, buscando momentos de espontaneidade em um mundo cada vez mais otimizado. Sim, as capacidades preditivas oferecem conveniência, mas isso tem um custo

2. A Geração Z busca recuperar o controle de sua própria história: a GenZ quer reinventar o próprio cotidiano. Ao performar o cuidado, isso comunica desejo, afeto e poder criativo, altamente “relatable“, que influencia o desejo do compartilhamento pela identificação ou desejo.

3. A emancipação feminina em relação ao ambiente doméstico: permite que esse espaço seja visto de outras formas que não a obrigação diária, mas palco para demonstrações espontâneas de afeto. O cuidado deixa de ser atribuição de um gênero – e passa a ser linguagem.

É claro que a mobilização de Luiz não passou despercebida por algumas marcas que, mais do que só engajarem com a publicação, podem tirar proveito dessa tendência com comunicações que posicionem produtos existentes dentro do fluxo de rotinas de cuidado, como um presente. Afinal, trabalhar em parceria com criadores de conteúdo que tenham quadros similares é uma excelente forma de agregar valor e mostrar a aplicabilidade de produtos.

Dados do estudo “Quem influencia a Geração Z?”, produzido pelo InstitutoZ, instituto de pesquisa e capacitação das novas gerações da Trope (consultoria de Geração Z e Alpha da qual sou fundador) em parceria com a YOUPIX, apontam que 81% da GenZ brasileira já visitou restaurantes ou comprou alimentos indicados por influenciadores. Esse movimento é um dos principais motivos que explicam o fato do TikTok ser o novo buscador das novas gerações.

Além disso, subverter o esperado é o caminho para o engajamento: seja redefinindo o papel dos gêneros ou romantizando um aspecto sem brilho da rotina. A Geração Z aprecia bastante as quebras de expectativa. As lancheiras de Luiz Felipe não são só um viral fofo – são uma chave de leitura para conseguir entender um pouco melhor como a GenZ lida com afeto, rotina e identidade.

A verdade é que em um tempo em que tudo tende à eficiência, o cuidado intencional resgata o valor da presença. Marcas que compreenderem essa nova estética do vínculo, e souberem ocupar esse espaço com autenticidade, estarão um passo à frente na hora de construir relevância cultural. Porque, no fim, a lancheira não é só sobre o que vai dentro: é sobre quem monta, por quê, e o que isso comunica.

Luiz Menezes é fundador da Trope, uma consultoria de Geração Z que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócio. Luiz é nativo digital, creator, apresentador, empresário e empreendedor.

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