Não estranhe se você passar por alguns dos cinemas de São Paulo e ainda encontrar sessões de Parasita, o longa-metragem coreano que estreou oficialmente no Brasil em 7 de novembro de 2019. Pois quase três meses depois, a produção sul-coreana segue firme graças à boa sacada do roteiro e aos prêmios famosos que vêm conquistando nas últimas semanas.
Parasita é um drama com pitadas cômicas. Trata essencialmente de criticar a diferença social de duas famílias coreanas: uma bem rica e outra que está passando por todos os maus bocados possíveis – mora em um porão sujo, apertado, e não tem dinheiro para se manter. Um acontecimento coloca um núcleo familiar na vida do outro e, a partir daí, situações que questionam ética e desigualdade social contemporâneas entram em cena. Tem gente que assiste ao filme e se choca; outras pessoas o consideram muito pesado nas decisões que toma através dos protagonistas. Mas o fato é: se o assunto é cinema, só se fala de Parasita e é necessário entender o porquê.
Confira um top 5 que faz um raio-X desse sucesso:
1. CAPTURE O ESPÍRITO DO TEMPO
O diretor e roteirista foi certeiro em notar o tema do momento: os embates de classes causados pela extrema desigualdade social no globo. O assunto, cada vez mais citado, foi tema, inclusive, do último encontro dos países mais ricos, em Davos, na Suíça. Pesquisas recentes, como a da organização internacional Oxfam, por exemplo, revelam como os atuais bilionários do mundo acumulam 60% de toda riqueza existente no planeta. Isso tem um impacto. Na tela do cinema, essa tensão social está excepcionalmente bem retratada pelo filme e pelo questionamento que ele provoca: afinal, quem parasita quem?
2. TENHA UMA ASSINATURA PESSOAL
Bong Joon Ho, o nome por trás do filme, já conseguiu um feito: ser indicado ao Oscar de Melhor Direção em um ano no qual concorre com figurões como Martin Scorsese e Quentin Tarantino. Até escrever e lançar Parasita, ele era pouco conhecido pelo grande público do Ocidente – ainda que tenha 20 anos de carreira. Seu trabalho mais famoso foi o longa-metragem Okja (2017), da Netflix. A trama de Parasita é tão única (sem spoilers!) que acabou conquistando críticos e espectadores pela ousadia. “Segui meu instinto com esse filme. Foi apenas o que tentei fazer”, disse o diretor em uma entrevista em Cannes.Vale lembrar que mesmo a sensação de “embrulhar o estômago” é um fator relevante na hora de diferenciar um produto cultural do outro.
3. PRESTÍGIO É TUDO: INVISTA NELE
Foram quase 200 indicações à prêmios até agora, desde o lançamento oficial, em 2019. E destas um aproveitamento excelente: mais de 160 vitórias. Ou seja: prestígio e reconhecimento devem ser usados a seu favor de todas as formas, como ensina a trajetória ascendente de Parasita. Entre as estatuetas que ele levou para casa, estão a Palma de Ouro, maior prêmio do Festival de Cannes; além do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e do SAG Awards de Melhor Elenco em Filme. Este último, aliás, foi um reconhecimento inédito, já que se trata do primeiro cast totalmente não-americano a ganhar essa categoria.
4. USE A EMPATIA A SEU FAVOR
Um dos acertos de Bong Joon Ho ao escrever o roteiro é simplesmente não determinar quem é bom ou quem é mal entre os personagens. É a história que vai dizer, a cada virada, como o espectador irá encarar o que está sendo apresentado. Essa decisão torna a trama extremamente real e, por isso mesmo, tem poder de atração com as audiências. No mundo ultra complexo em que se vive hoje, não reduzir os protagonistas de forma maniqueísta (vilão X herói) é um ponto de atração e uma lição a ser aprendida: “Os personagens vivem em uma área cinzenta. A família pobre comete erros, mas é adorável, e a família rica é mesquinha, mas amigável ao mesmo tempo. Não há vilões”, disse ele em entrevista. Pode marcar ponto no placar.
5. NÃO PERCA DE VISTA A RENTABILIDADE
Números são importantes quando se está falando de sucesso, certo? Afinal, não é só a boa avaliação crítica que conta – senão Parasita já teria entrado no hall de filmes cults, de pequeno público, mas grandes reconhecimentos. Não é o caso aqui. O filme ainda tem mais esse elemento a seu fator. A produção de custo modesto de 11 milhões de dólares arrecadou simplesmente mais de 10 vezes esse valor e já bateu a casa dos 140 milhões mundo afora. A “cereja do bolo” dessa trajetória é o contrato que Bong Joon Ho aparentemente já fechou com a HBO: a gigante da TV americana fará uma adaptação de Parasita em versão minissérie para o streaming. É a barreira final para que a história seja vista por ainda mais pessoas.
UPDATE
A produção foi o grande destaque do Oscar 2020, que aconteceu na noite de domingo (9). Não à toa abocanhou quatro estatuetas, incluindo Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Internacional e Melhor Filme – este último conquistado pela primeira vez por uma produção não falada em língua inglesa
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