O dia 8 de março é reconhecido pela ONU como o Dia Internacional da Mulher, data responsável por dar reconhecimento à luta feminina por igualdade. O tema é necessário, afinal, segundo um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV, aproximadamente 53,2% da população feminina está empregada ou em busca de emprego, enquanto, entre os homens, o alcança os 72,6%. E, quando o assunto é liderança feminina, o desafio é ainda maior.
De acordo com um relatório divulgado em 2022 pela Women in the Workplace 2022 da McKinsey & Company em parceria com o LeanIn.Org, quando falamos em liderança sênior, apenas 1 em cada 4 líderes de alto escalão é uma mulher e apenas 1 em 20 é uma mulher negra.
Outra informação que chama atenção é que, apesar do progresso ao longo dos anos, as mulheres ainda estão drasticamente sub-representadas na liderança, já que para cada 100 homens promovidos de nível básico a gerente, apenas 87 mulheres são promovidas e 82 mulheres negras chegam ao cargo de gerência. Preconceitos, falta de investimentos, conversações e estereótipos do passado, infelizmente, ainda estão presentes em empresas mundo afora.
Há mudanças nesse sentido? Sim! A maior delas é o fato de uma nova geração de mulheres profissionais superando esses obstáculos (muito por conta do interesse por profissões antes “masculinas”, como TI, por exemplo) e construindo novos caminhos para se destacarem e alcançarem postos de liderança dentro das empresas.
Para entender mais a fundo esse cenário, conversarmos com quatro executivas: Cristiane Nascimento, CFO da Full Time, Tatiane Zornoff, superintendente de governança corporativa da Cielo, Amanda Almeida, diretora Jurídica, Compliance, Privacidade & Seguros na Infracommerce e Carla Beltrão, diretora de Experiência do Cliente B2B e B2C da Vivo.
O papel da mulher e a liderança feminina no Brasil
CM – Como você percebe o papel da liderança feminina hoje dentro de uma empresa? O que tem mudado? Ainda existem preconceitos e convenções do passado, ou não? Quais são os desafios atuais nesse sentido?
Cristiane Nascimento (Full Time)– As mulheres já são um público real e atuante no mercado brasileiro e Global. No entanto, isso não significa que os desafios para o crescimento do empreendedorismo feminino são pequenos, muito pelo contrário. As barreiras são diversas, desde a falta de investimentos até questões mais gerais, como o preconceito real da sociedade com relação a liderança feminina. Ainda existe muito o que mudar. Com situações machistas acontecendo diariamente dentro das companhias, a busca por igualdade é uma luta constante e real para a mulher que pertence ao universo corporativo.
“A diversidade de gênero em cargos de liderança propicia criatividade e inovação, e impacta positivamente a imagem da empresa em relação à responsabilidade social”
Tatiane Zornoff (Cielo) – Infelizmente, ainda existe preconceito. Uma das razões para isso é que há estereótipos de gênero enraizados na sociedade que associam características como assertividade, ambição e liderança com o masculino. Para as empresas, os maiores desafios incluem a perda de talentos e habilidades valiosas se as mulheres não estiverem sendo promovidas ou contratadas em posições de liderança. Hoje em dia, a diversidade de gênero em cargos de liderança propicia criatividade e inovação, e impacta positivamente a imagem da empresa em relação à responsabilidade social.
Amanda Almeida (Infracommerce) – Ainda há muito para ser feito, como legislações que precisam evoluir com a mudança da sociedade, por exemplo. Mas enquanto percorremos esse caminho, é importante que todos lutem diariamente por esse papel e pela presença das mulheres nas organizações e empresas.
Carla Beltrão (Vivo) – A presença feminina em posições de liderança é uma fonte de inspiração para o avanço da diversidade de gênero. Mostrar que a mulher compete e é bem sucedida é um incentivo para que mais jovens mulheres apostem em carreiras em diferentes áreas, especialmente naquelas onde a presença feminina é minoritária. Na Vivo já temos essa visão, pois a diversidade é um pilar primordial da nossa cultura e reconhecida como um diferencial para a inovação. Hoje, 44% do quadro da Vivo é composto por mulheres, sendo 36% em cargos de liderança executiva – diretoras, VPs e Gerentes.
A nova geração de profissionais mulheres tem mais curiosidade, determinação,
e exigência quanto ao propósito da empresa
CM- Como tem sido trabalhar com a nova geração de profissionais mulheres? Quais as vantagens, desafios e particularidades que você percebe nessa relação?
Cristiane Nascimento (Full Time) –Tem sido muito desafiador e motivacional, ao mesmo tempo. Dentre seus pontos fortes, destaco a flexibilização, colaboração e maior fortalecimento da diversidade, criatividade e inovação – fatores essenciais para que as empresas se mantenham competitivas. Além disso, elas atuam em um momento de mudança mundial, onde há uma maior visibilidade para a mulher, o que para nós é ótimo, pois fortalece a busca por mais igualdade e oportunidades dentro e fora das organizações.
Tatiane Zornoff (Cielo) – A minha percepção é que a nova geração de profissionais mulheres tem mais curiosidade e determinação, e exigência quanto ao propósito da empresa. Isso traz uma riqueza de experiência e perspectivas diversas.
Amanda Almeida (Infracommerce) – Trabalhar com a nova geração de profissionais mulheres, da qual me incluo, me permite vivenciar novas ideias todos os dias, sair da zona de conforto, evoluir como ser humano e ter mais empatia. Sou solteira e não tenho filhos, tenho mães e esposas na minha equipe e precisei entender esse universo tão singular para ter uma gestão mais real, factível, que funcionasse. É claro que as vezes existem desafios, mas essa é a beleza da relação, e da relação que é um contraste da sua realidade. Te provoca e te faz evoluir, assim como o outro. As mulheres da nova geração são práticas, entendem as diferenças, tem uma responsabilidade social forte. É sempre um aprendizado.
Carla Beltrão (Vivo) – Essa vivência traz impacto positivo não só para a empresa, mas também para os próprios profissionais, por isso, no meu dia a dia, valorizo muito a oportunidade de conviver com pessoas de diferentes faixas etárias, formações, experiências. Com minha trajetória de mais de 25 anos de carreira, considero uma honra ter a oportunidade de trabalhar com tantas mulheres inspiradoras… No time digital que lidero, temos mais representatividade feminina do que masculina nas posições de gestão, mesmo sendo uma área muito ligada a tecnologia.
CM – Como consumidora, você avalia que hoje as marcas trabalham novos diferenciais importantes na criação de ofertas, serviços e produtos para o público feminino?
Cristiane Nascimento (Full Time) – Sem dúvida, o setor de serviços é o campeão na oferta para mulheres. Mas também percebo isso quando vou comprar um carro novo, um imóvel ou “qualquer outro bem”. São segmentos que têm se voltado com muita sabedoria no trato com as mulheres consumidoras oferecendo novas formas de abordagens, produtos e serviços. Pois, sabemos que o poder da decisão desta compra está na maioria das vezes nas mãos das mulheres.
Tatiane Zornoff (Cielo) – Com certeza! Tanto para as mulheres como para outros grupos minorizados, conseguimos observar que as marcas estão investindo em criar uma conexão real e empática com as pessoas. Na Cielo, por exemplo, o conceito de oferecer a melhor experiência e personalização de ofertas de serviços e produtos aos clientes está inserido em tudo que se conecta com o negócio, impactando toda sociedade.
Amanda Almeida (Infracommerce)– As marcas estão cada vez mais contribuindo para a consolidação da presença das mulheres na sociedade, incluindo no mercado de consumo. Ainda existem muitas oportunidades e sempre vão existir, mas é importante que a marca acompanhe e esteja disposta a fazer parte dessa evolução. Além disso, as mulheres possuem um forte poder de influência, se ela aprovou, ela recomenda para seu círculo de amigas, colegas e familiares.
Esperamos ver cada vez mais mulheres ocupando o espaço que elas desejarem ocupar
e que não sejam excluídas pelo simples fato de serem mulheres
CM- No Dia Internacional da Mulher, que mensagem você gostaria de deixar para nossos leitores sobre mulheres e mercado de trabalho?
Cristiane Nascimento (Full Time) – Esperamos ver cada vez mais mulheres ocupando o espaço que elas desejarem ocupar e que não sejam excluídas pelo simples fato de serem mulheres. O desafio ainda é grande, porém, acredito que para as próximas gerações isso estará mais equilibrado, até porque os homens de hoje estão sendo educados por essas mulheres que são líderes e que transmitem aos seus filhos o quão poderoso pode ser a pluralidade na diversidade de gênero nos cargos de liderança das empresas.
Tatiane Zornoff (Cielo) – Gostaria de ressaltar a importância do nosso papel no mundo corporativo. De que precisamos trabalhar todos os dias para que a diversidade dos nossos pensamentos, ideias e objetivos sejam ouvidas e aplicadas. Busquem entender o contexto que a empresa está inserida e a realidade das mulheres. Isso é importante para garantir um ambiente mais inclusivo e empático. A liderança feminina promove desenvolvimento econômico, além da atração de novos talentos. Recomendo que continuemos aplicando ações de equidade de gênero para que possamos inspirar e conscientizar as pessoas.
Amanda Almeida (Infracommerce) – Que esta data seja sobre refletir o papel de cada uma na sociedade, seja como mãe, esposa, filha, profissional, empresária, e o quanto essa presença é importante e nos ajuda a avançar cada vez mais. Que todos, inclusive homens, possam refletir e rever a nossa forma de tratar a colega de trabalho.
Carla Beltrão (Vivo) – Quero reforçar que a diversidade de gêneros, comportamentos, habilidades e atitudes é um diferencial de inovação. E é a capacidade de inovar, de se reinventar, que faz com que empresas sejam bem-sucedidas no longo prazo, afinal o consumidor também é diverso. Mulheres, mesmo com todos os desafios, filhos, família, vida pessoal, acreditem que vocês podem chegar longe e, mais importante, aonde quiserem.
+ Notícias