A Estônia é um pequeno país do Leste Europeu. Pequeno mesmo. Com 1,3 milhão de habitantes espalhados com apenas 45 mil quilômetros de extensão, ela equivale a cidades brasileiras do porte de Guarulhos, em São Paulo, e Goiânia, capital de Goiás. Mas algo chama a atenção na Estônia: o país se tornou uma potência tecnológica. Hoje, 99% dos processos de todo o governo são digitalizados.
Mas, afinal, qual é o 1% restante? “São questões que a pessoa realmente precisa estar presente, como casamentos”, diz Slim Sikkut, CIO do governo da Estônia, durante o evento C2, em Montreal. Sim, um país tem um chefe de tecnologia. “E no caso dos casamentos, essa burocracia ajuda as pessoas até a pensarem melhor na decisão”, brinca ele.
Durante a década de 1990, a Estônia decidiu apostar naquela tal de internet que vinha surgindo. Sabia que poderia sair coisas boas dali. Deu resultado. E algo que chama ainda mais a atenção é quanto o papel governamental foi importante para esse avanço. Os governantes adotaram a ideia de que construir um país mais eficiente por meio da tecnologia era possível.
“Queríamos construir uma relação bonita entre empresas, população e governo”, diz Sikkut, vestindo um terno azul bem cortado, que combinavam com os seus tênis All Star azulados.
Internet: um direito da população
Na nossa Constituição há uma série de questões que sabemos que estão bem longe de serem concretizadas. Na Estônia, no entanto, a internet é um direito básico do consumidor. Em qualquer lugar que você for, terá acesso à uma conexão de ótima qualidade. Não por acaso, o país é berço de diversas empresas de tecnologia. O maior exemplo é o Skype, que foi comprado pela Microsoft em 2011, por singelos US$ 8,5 bilhões.
Lá, todas as documentações de pessoas e empresas também são digitalizadas. Para abrir uma empresa, poucos minutos são necessários. O e-Estonia permite uma série de benefícios para a população, como assinar documentos, ter acesso a resultados de exames, além de manter um histórico de toda a vida do habitante. Trata-se de uma espécie de Grande Irmão, que tudo vê, mas de uma maneira benéfica para a população.
Uma pergunta que fica, no entanto, é se esse tipo de informação não pode ser prejudicial no caso de cair em mãos erradas – hackers, governantes mal intencionados e outros. De fato, algo similar aconteceu: em 2007, hackers russos (sempre eles) invadiram o sistema e pararam o país, literalmente. Bancos deixaram de funcionar, governo idem, assim como todo os serviços de internet.
Confira a edição online da revista Consumidor Moderno!
Isso poderia ter resultado em um retrocesso, certo? Porém, foi feito exatamente o contrário. Os estonianos passaram a pesquisar ainda mais soluções para evitar que esse tipo de coisa acontecesse. Não por acaso, aplicações de blockchain tiveram na Estônia um dos seus primeiros laboratórios.
“Na Estônia, independentemente do político, há um Estado forte e com credibilidade – e as pessoas reconhecem isso”, diz Sikkut. “E além da inovação em soluções, investimos muito na segurança.”
A última novidade foi a criação do conceito de “e-residency”. Ou seja, uma residência eletrônica. Qualquer pessoa no mundo pode aplicar e começar um negócio na Estônia, mesmo estando a quilômetros de distância. A ideia é atrair mais pessoas para o país e também para o seu sistema financeiro, diante da limitação de tamanho de mercado.
Entre os benefícios estão a entrada na União Europeia, acesso a todas as tecnologias do governo estoniano e um imposto bem justo: 20% de imposto sobre a renda. E só. “É dessa forma que vamos tomar o mundo”, brinca o chefe de inovação da Estônia.