Assim como grande parte das instituições de ensino do País, a Kroton cresceu regada ao dinheiro estatal do programa de financiamento estudantil Fies. Com a crise financeira, no entanto, a torneira do governo fechou. As empresas de educação, então, precisaram se reinventar.
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A Kroton, que é a maior empresa de educação privada do mundo, com um faturamento na ordem de R$ 5 bilhões, escolheu o plano para os próximos anos. Além de atacar alguns segmentos em que não atuava de maneira significativa, como o de educação básica, a companhia presidida pelo executivo Rodrigo Galindo decidiu se reinventar digitalmente.
E a ideia aqui não é simplesmente trazer mais tecnologia para dentro da sala de aula. Isso é algo que toda as empresas de educação são obrigadas a fazer para não ficarem para trás. A meta da Kroton é trazer uma mentalidade vista em empresas de tecnologia, que permitem o erro em busca de um ganho maior.
“Isso é algo difícil até para nós de dentro da companhia”, afirmou Rodrigo Galindo durante encontro com jornalistas. “É como mudar uma chave dentro da cabeça, que não veja o erro como algo ruim. Essa mentalidade mostra como não estávamos preparados para esse mundo digital.”
Não por acaso, transformação digital é um dos quatro pilares de crescimento da Kroton nos próximos anos. Os outros três são eficiência operacional, crescimento sustentável e sucesso do aluno.
Novo modelo de gestão
Por conta disso, a estratégia digital da companhia passa pela mudança de comportamento dos próprios colaboradores.
Não à toa, a empresa passará a adotar a metodologia do Scaled Agile Framework (SAFe). Trata-se da criação de equipes de desenvolvimento multidisciplinares, o que ajuda no desenvolvimento de um produto ou serviço de maneira mais ágil e completa.
“Com essa transformação que começaremos agora, através do Safe, teremos esses grupos para objetivos de negócios e não somente para a área de TI”, diz Paulo de Tarso, vice-presidente de negócios e inovação da Kroton.
Ameaça das “edtechs”?
Setores tradicionais da economia estão batendo de frente com o surgimento de startups disruptivas. No setor financeiro, há as fintechs. Já em seguros, diversas insurtechs estão desafiando a maneira convencional de vender apólices. E assim vai. Na educação, o termo designado para as companhias novatas é a edutech.
Seja de educação à distância, seja de novos modelos de ensino, algumas empresas já vêm se destacando. A americana Udacity, que tem parceria com gigantes do porte de Google e Microsoft, é o primeiro unicórnio do setor: está avaliada em exatos US$ 1 bilhão.
A Kroton está de olho nesse movimento. Por isso, não descarta alguma compra futura de uma empresa que surgir nesse meio. Em 2016, a empresa comprou a startup Studiare, especializada em softwares para a educação, por R$ 4,1 milhões. Atualmente, no entanto, não há nenhuma empresa no alvo.
“Queremos gerar a disrupção na própria indústria e a meta de longo prazo é ser conhecida como a empresa de educação mais inovadora do mundo”, afirma Galindo.
Internacionalização e curto prazo
Além dos planos tecnológicos, a empresa também espera fincar a sua bandeira em outras regiões do mundo. Segundo o presidente da companhia, há times criados dentro da Kroton para estudar a possibilidade. Ao enxergarem sinergias e oportunidades, esse caminho poderá ser adotado pela Kroton.
Outro fator que ganhou bastante destaque na conversa foi a expansão fora do ensino superior, a grande especialidade de companhia que detém marcas como Anhanguera, Unopar e Uniderp.
A companhia já está em vias de fechar 16 ativos na educação básica, a fim de incorporar escolas do segmento premium, que cobram mensalidades acima dos R$ 1,2 mil. Elas estão em processo de due dilligence e, segundo Mario Ghio, vice-presidente acadêmico da Kroton, tratam-se de marcas reconhecidas a fim de facilitar e acelerar a expansão.
Além disso, há também um avanço no segmento de educação continuada, que abrange cursos de pós-graduação e cursos profissionalizantes. A meta é de saltar dos 2% atuais para entre 5% e 10% até 2022.
Quanto ao ensino superior, a grande mina de ouro da companhia, a expansão tende a ser orgânica. Isso ocorre após a negativa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) negar a fusão da Kroton com a Estácio, segunda maior empresa do setor no País.
“Sabemos que o Cade não está aberto para negócios desse tamanho, então optamos pelo caminho do crescimento orgânico”, afirmou Galindo. “Isso não quer dizer que não estamos olhando o mercado.”