Nos últimos anos, falar de Inteligência Emocional se tornou quase um clichê – especialmente no universo corporativo. Não porque perdeu sua importância, pelo contrário: concretizou-se como uma habilidade essencial para as lideranças de uma realidade cada vez mais dinâmica e mutável. Mas as obras que se aprofundam no tema se tornaram presentes nas mesas de cabeceira dos gestores e colaboradores de organizações dos mais diversos segmentos
Se conhecemos a chamada Inteligência Emocional hoje, isso se deve ao psicólogo e jornalista Daniel Goleman. Ele foi o responsável por popularizar o conceito, definido como a capacidade de identificar, compreender, gerenciar e utilizar as emoções de forma eficaz. Seu livro “Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente”, publicado pela primeira vez em 1995, é até hoje um best-seller por trazer um novo entendimento sobre o significado da inteligência.
Segundo o autor, o desenvolvimento da Inteligência Emocional possibilita inúmeros ganhos nas relações interpessoais, na vida profissional, e no bem-estar. Significa desenvolver empatia, habilidades sociais, ter autoconsciência das emoções e, assim, conseguir gerenciá-las de forma adequada para cada vivência.
Em “Optimal: como atingir o desempenho máximo nas equipes e na liderança” (Objetiva), Goleman, junto ao psicólogo e professor Cary Cherniss, mostra como a Inteligência Emocional permanece uma habilidade essencial para o século XXI. Na obra, os autores exploram a ideia do estado “optimal” ou “otimizado”, que permite a máxima eficiência mental e emocional.
Por dentro do estado otimizado
“Pense em quando você consegue dar o seu melhor”, convidam os autores. “Qual é sua condição interna durante um pico de eficiência, em que seus talentos, sejam quais forem, manifestam-se com plena capacidade?”.
Acontece que, segundo Goleman e Cherniss, esse tipo de excelência vai além dos limites de um raro momento no estado de flow, definido por Mihaly Csikszentmihalyi como um estado mental em que um indivíduo está completamento imerso em uma atividade, com foco, envolvimento e prazer total. O estado otimizado, portanto, está mais relacionado à experiência de um dia muito satisfatório, quando a pessoa desfruta de um estado de espírito que facilita suas realizações.
Trata-se de uma condição de “eficiência cognitiva máxima”, no qual a menta opera com todo o seu potencial. “Esse pico em nossa vida mental depende, por sua vez, do nosso estado emocional. As áreas do cérebro que nos permitem usar nossos talentos em seu auge florescem quando conseguimos manter a turbulência das emoções sob controle e nosso envolvimento elevado”.
O livro traz como ilustração uma pesquisa da Harvard Business School, para a qual os pesquisadores solicitaram a centenas de pessoas que anotassem em um diário seu dia de trabalho, o que sentiram e suas realizações. Foram quase 12 mil relatos que mostraram que as conquistas cotidianas representaram uma evidência de efetividade cognitiva. Além disso, todos os participantes afirmaram que o bom desempenho no trabalho estava ligado a um estado de ânimo elevado.
O colaborador engajado
Os autores convidam o leitor a pensar as diferenças entre uma equipe de colaboradores com um bom desenho e uma equipe engajada. “Uma meta-análise revelou que o engajamento dos funcionários estava diretamente ligado ao grau de satisfação do cliente, à produtividade e até aos lucros da empresa”, destacam os autores.
No entanto, o engajamento está em queda. Segundo levantamento do Instituto Gallup, a proporção de profissionais engajados no mundo era de 32% em 2016, e caiu para 21% em 2022.
No entanto, Goleman e Cherniss destacam que maiores índices de Inteligência Emocional estão ligados ao maior engajamento. Um dos motivos para isso é que essa habilidade ajuda os profissionais a procurar situações que lhe sejam mais adequadas. “Indivíduos com autoconsciência emocional elevada são mais eficazes em identificar quando determinada oportunidade profissional será gratificante e significativa ou encontrar maneiras de tornar seu trabalho mais envolvente”.
O livro é dividido em quatro partes: a primeira, o caminho para o desempenho optimal; a segunda sobre os detalhes da Inteligência Emocional e suas aplicações; a terceira sobre a aplicação no trabalho; e por fim, o futuro da Inteligência Emocional. Cada uma dessas seções oferece um mergulho que possibilita o autoconhecimento e autodesenvolvimento dessa habilidade.
Liderar com inteligência emocional
Há um capítulo dedicado a falar sobre a liderança com Inteligência Emocional – um dos centrais da obra. “Quando os líderes de uma organização são habilidosos em gerir não só os próprios sentimentos como também os daqueles com quem se relacionam, a empresa e todas as equipes se beneficiam, resultando em melhor desempenho geral”, explicam os autores.
Um dos exemplos citados na obra é a demissão de Bob Chapek do cargo de CEO da Walt Disney Company, em 2022. Uma das justificativas para o desligamento foi sua dificuldade em lidar com pessoas, falta de empatia e inteligência emocional, o que o impedia de se relacionar com a comunidade criativa de Hollywood. Em seu lugar, a empresa convidou o CEO anterior, Bob Iger.
Esse acontecimento aponta para uma necessidade cada vez maior de lideranças capazes de saber controlar as próprias emoções e usá-las de forma positiva para a gestão de um negócio e suas equipes.
Um líder com forte Inteligência Emocional também conta no desempenho dos funcionários. “O relacionamento de um funcionário com o chefe é o melhor indicador de satisfação no trabalho, que por sua vez é um importante indicador de satisfação geral com a vida”. Essa afirmação foi constatada por uma meta-análise que reuniu 20 estudos com um total de 4.665 colaboradores. Nesse cenário, os colegas de trabalho também fazem a diferença.
É possível ver reflexos disso nas taxas de rotatividade, pedidos de demissão – ainda mais de colaboradores bons –, bem-estar e burnout, por exemplo. “Inicialmente os pesquisadores pensavam que o burnout se devia a estilos de personalidade como o perfeccionismo; hoje está claro que o relacionamento com o superior é mais importante. Quando o líder gerencia bem as próprias emoções e oferece apoio e empatia, o subordinado suporta maior estresse sem sofrer esgotamento”.
Desenvolvendo o estado otimizado
Em suma, o livro “Optimal”, explora como o estado de desempenho máximo pode ser alcançado por meio da combinação de Inteligência Emocional e controle cognitivo. Goleman e Cherniss apresentam uma abordagem científica e prática para ajudar indivíduos a atingirem um nível elevado de foco, controle emocional e equilíbrio entre desafios e habilidades.
Segundo os autores, o sucesso no ambiente de trabalho não depende apenas de habilidades técnicas. Mas também da capacidade de gerenciar emoções, tanto as próprias quanto as de outros. Ao integrar conceitos da neurociência e inteligência emocional, a obra oferece ferramentas práticas para aumentar a produtividade e o bem-estar, fundamentais para o crescimento pessoal e organizacional.
Para líderes, a leitura é essencial, vez que aborda como a Inteligência Emocional desempenha um papel central na liderança eficaz. Líderes que desenvolvem essa habilidade conseguem não só gerenciar suas emoções em situações de alta pressão, mas também inspirar suas equipes, promover um ambiente de trabalho colaborativo e produtivo, e lidar melhor com conflitos e desafios.
Goleman demonstra que a liderança com alta Inteligência Emocional não apenas melhora o desempenho individual. Também aumenta o engajamento e a motivação da equipe, contribuindo para uma cultura organizacional mais saudável e eficaz. Ao dominar essas habilidades, líderes podem criar organizações mais resilientes e inovadoras.
Foto: Companhia das Letras.