Os adolescentes estão mais conectados do que nunca, e, assim como a tecnologia evolui, cresce também a preocupação com a saúde mental e a segurança dos jovens no ambiente digital. O desafio é equilibrar liberdade digital com proteção. Diante da pressão por medidas de proteção, a Meta anunciou novas restrições para contas de adolescentes no Instagram.
O Brasil está entre os países que mais consomem redes sociais no mundo, tornando essas medidas relevantes, principalmente, para pais que buscam mais controle sobre o uso das plataformas pelos filhos. Agora, a “Conta de Adolescente” será implementada para usuários de 13 a 17 anos, trazendo limites sobre quem pode interagir com esses perfis. Adolescentes de 16 anos precisarão de autorização dos pais para flexibilizar suas configurações de privacidade.
Novas regras para a Conta de Adolescente
- As contas serão configuradas como privadas por padrão;
- Seguidores precisarão de aprovação para acessar o conteúdo do adolescente;
- Apenas pessoas seguidas pelo adolescente poderão marcá-lo ou mencioná-lo em postagens;
- Para menores de 16 anos, a restrição é ainda mais rigorosa;
- Pais podem ativar a supervisão parental para acompanhar a experiência digital de seus filhos.
Supervisão parental
A Meta também aprimorou o recurso de supervisão parental, que agora inclui:
- Monitoramento de mensagens: embora os pais não possam ler o conteúdo das mensagens dos filhos, eles podem ver com quem os adolescentes conversaram nos últimos sete dias;
- Definição de tempo de uso: os pais podem determinar quantas horas ou minutos seus filhos podem acessar o Instagram diariamente. Ao atingir o limite, o aplicativo se torna inacessível;
- Bloqueio de uso em horários específicos: é possível impedir que os adolescentes usem o Instagram em determinados períodos, como à noite ou durante as aulas.
Desafio
Essas mudanças surgem em um momento crítico, onde adolescentes utilizam vários aplicativos diferentes por semana, dificultando o controle parental sobre o que estão consumindo. Para os pais, pode parecer impossível acompanhar todos os aplicativos que seus filhos adolescentes usam. Somente no Brasil, mais de dois terços dos pais e responsáveis por adolescentes com idade entre 13 e 17 anos não utilizam recursos para filtrar os aplicativos que os jovens podem baixar, de acordo recente pesquisa da Tic Kids Online.
“Essa abordagem faria com que as lojas de aplicativos verificassem a idade do usuário e obtivessem aprovação dos pais para downloads de aplicativos por adolescentes com menos de 16 anos”, diz a Meta.
A Meta afirma que tem pressionado legisladores para a criação de padrões globais de segurança online para adolescentes, sugerindo que lojas de aplicativos passem a verificar a idade do usuário e exijam aprovação parental para downloads de aplicativos por menores de 16 anos. Isso poderia reduzir a carga sobre os pais e garantir uma proteção mais ampla.
Acusada de “viciar” crianças
No entanto, a própria Meta foi processada em 2023 em ações movidas por mais de 40 estados norte-americanos, incluindo a Califórnia, onde estão sediadas as big techs. As autoridades acusaram a empresa de causar danos a crianças ao utilizar recursos viciantes no Instagram e no Facebook.
O impacto das plataformas da Meta sobre os jovens ganhou destaque, quando uma reportagem do Wall Street Journal revelou uma pesquisa interna vazada pela ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen. O estudo indicava que o Instagram agravava problemas de autoimagem em algumas adolescentes, levando ao escândalo conhecido como Facebook Papers.
As revelações deram início a uma reação política em Washington e nas capitais dos estados de todo o país, com legisladores se mobilizando para restringir o uso de mídias sociais por crianças, e reguladores renovando o escrutínio das práticas de segurança da Meta.
YouTube também implementa restrições
O YouTube também anunciou mudanças para aumentar a segurança e o bem-estar dos adolescentes na plataforma. As principais medidas incluem:
- Lembretes de pausa: a cada 60 minutos, um alerta incentiva os jovens a fazerem intervalos no consumo de vídeos;
- Lembretes de hora de dormir: notificações avisam os usuários no horário definido para descanso;
- Privacidade nos uploads: para criadores entre 13 e 17 anos, os vídeos serão privados por padrão. Caso desejem torná-los públicos, deverão alterar manualmente as configurações;
- Restrição de conteúdo sensível: o YouTube reforçou seus filtros para evitar que adolescentes sejam expostos a conteúdo impróprio.
O tema foi bastante abordado pelo psicólogo social Jonathan Haidt, no livro “A Geração Ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”. Haidt atribui o declínio da saúde mental de jovens a dois fatores principais: o aumento do uso de mídias sociais e a diminuição do brincar sem supervisão.