É possível criar inovações de forma sistemática? Um dos maiores desafios de empreendedores, executivos e visionários é fazer a inovação impulsionar a receita da empresa. Será mesmo viável criar modelos de negócio inovadores para ampliar rendimentos fora do core business atual? Afinal, como escolher em que segmento atuar?
Para traçar um mapa da criação de inovações para a conquista de novos mercados, a plenária ?Inovação como ampliação de receita: como encontrar segmentos ainda inexplorados e lançar novas frentes de negócios? ganhou palco no CONAREC 2015. Executivos de grandes empresas brasileiras se reuniram sob a mediação de Rodrigo Bocardi, jornalista e âncora do Bom Dia São Paulo, da Rede Globo, para investigar os processos de identificação de nichos e negócios potenciais a partir da inovação.
Simbiose de experiências
Para Claudio Bergamo, CEO da Hypermarcas, o próprio surgimento da marca foi uma inovação, uma vez que a empresa conseguiu juntar produtos tradicionalmente considerados bens de consumo, como higiene pessoal e cosméticos, com farmacêuticos. A combinação gerou uma nova classificação: produtos de saúde e bem estar. ?Buscamos aliar tecnologia e consumo, pois não adianta inovar sem ter a correspondência do outro lado. Enxergamos na simbiose da troca de experiências com viés mais científico e o lado do consumidor. Inovação tem que ser na medida certa, senão é apenas um exercício acadêmico?, afirma Bergamo.
Ele cita o exemplo da marca Monange, que carrega uma fórmula de hidratante que conseguiu alcançar a segunda camada e a criação do blister, uma embalagem que passou a facilitar o acesso a medicamentos da população brasileira mais humilde. ?Em termos de lançamento de produtos nosso foco hoje é a nova classe média, principalmente o público feminino?, garante.
Valor que muda a vida das pessoas
Segundo Nelson Armbrust, diretor geral Brasil da Atento, as empresas que buscam inovar precisam estar com os olhos bem atentos ao comportamento do consumidor e do mercado. ?Ao capturar esses momentos você precisa trazer ideias ao seu negócio para que consiga prestar um serviço ou se tornar um produto que mude a vida das pessoas. Como o consumidor está indo cada vez mais para o meio digital, a gente tem que acompanhar ele. Voz é só mais um meio?, sugere Armbrust. ?A empresa não tem que dar ao cliente o que ele quer, mas o que ele precisa. Para alcançar algo único que entregue valor, temos que buscar a inovação olhando para dentro e para fora da empresa.?
Inovar é dar voz ao consumidor
Às vezes a adaptação de uma inovação que funcionou em outros mercados pode ser a saída. De acordo com Eugenio Velasques, diretor executivo da Bradesco Seguros, apesar do mercado segurador ser muito rígido em termos de inovação, no Brasil ele sempre foi pioneiro em adaptar inovações de outros mercados para ganhar custo, transformar em competitividade e eventualmente aumentar a rentabilidade. ?O consumidor tem a interferência do corretor, que traduz muitas vezes o que o cliente não sabe verbalizar?, defende Velasques.
Sergio Gordilho, co-presidente da Africa, concorda: ?O consumidor normalmente não consegue verbalizar o que quer. A gente é que tem que estar preparado para entender e antecipar as expectativas dele. Toda empresa que inova tem futuro garantido ? o desafio é o presente. Inovar não é fácil, pois envolve o erro, que é a grande porta para a inovação?.
Criatividade não é sinônimo de inovação
Gordilho garante que inventar não tem nada a ver com inovar. ?Para inovar você precisa de métrica e, com a revolução tecnológica e a entrada das redes sociais, cada centavo na publicidade precisa ser bem medido. Precisamos saber se estamos passando a mensagem, conseguindo atender o consumidor, gerando riqueza em cima da mudança de processos?, afirma. ?Não adianta fazer primeiro, mas sim fazer melhor?.
Segundo o executivo, o mobile será o grande caminho de inovação à medida que as novas gerações absorvem a internet como meio cada vez mais transparente. ?Para que a inovação seja sistemática, as empresas têm que incorporar uma nova mentalidade e não focar tanto no resultado imediato. As startups introduzem uma nova visão: lançar e ir desenvolvendo no caminho, usar o consumidor como ?cobaia? para testar produtos, pois assim há menos chances de errar. Elas inovam ao colocar mais valor e diminuir o preço?, explica Gordilho.
Conectividade como premissa
Para Roberto Leoncini, vice-presidente de marketing & vendas de caminhões e ônibus Brasil da Mercedes-Benz do Brasil, todos os esforços de inovar valem a pena quando o cliente enxerga o valor. Portanto, é imprescindível ouvir e conseguir entender a necessidade dele antes de encontrar uma solução.
?Antes a gente fazia manutenção na concessionária, hoje a gente faz a manutenção no cliente. Mas nossa maior inovação é trazer conectividade ao caminhão e ônibus: hoje ambos têm que falar com diversos públicos de uma maneira superfácil: desde o motorista até o gerenciador da frota?, conta Leoncini. Segundo o executivo, o capital é necessário para inovar, embora o nível de investimento e assertividade varie de acordo com o desenvolvimento e amadurecimento das ideias. ?É preciso manter um ambiente propício, uma cultura de inovação para então afunilar e filtrar as novas ideias que vão surgindo ao longo do tempo.?