A preocupação cada vez maior do consumidor com a sustentabilidade tem levado empresas de todos os segmentos a investir na inovação de produtos. Um desses setores que chama atenção é o dos itens voltados para o público feminino.
A pesquisa Consumo Consciente no Brasil, realizado pela consultoria Mandalah em parceria com o portal de insights Stilingue mostra que, em 2020, no Mercado Livre, houve um crescimento de 55% do número de produtos da categoria “sustentáveis”, duplicando a passagem dos usuários pela categoria de março para maio. Os itens mais buscados foram: bicicleta, iluminação LED, sacolas ecológicas, desodorantes sem plástico, coletores menstruais e escovas de bambu.
Um item da lista se destaca. Em 2020, houve um aumento de 53% no número de referências a “coletor menstrual” na internet, quando comparado com o mesmo período de 2019 (entre março a julho), o que mostra que as mulheres estão engajadas em buscar soluções diferentes das tradicionais.
Coletores menstruais, calcinhas absorventes e shampoos em barra, entre outros produtos sustentáveis, estão contribuindo para a diminuição do lixo produzido e, consequentemente, ajudando o meio ambiente. A clientes se sentem satisfeitas e fazendo sua parte. As empresas aproveitam a tendência.
Inovação de produtos femininos cresce no país
A Korui é uma empresa que, desde 2013, comercializa absorventes reutilizáveis, calcinhas absorventes e coletores menstruais de silicone medicinal. Segundo os fundadores da marca, o casal Luisa Cardoso e Pedro Henrique Alves, seus clientes são pessoas que buscam alternativas aos produtos de higiene feminina encontrados hoje.
“Essas pessoas possuem diversos tipos de motivação, incluindo a busca por produtos mais ecológicos, saudáveis ou econômicos ou empoderadores, ou até mesmo os quatro!”, esclarece o casal.
Como os produtos são reutilizáveis e naturalmente sustentáveis, se bem conservados, podem durar muitos anos. O impacto desse negócio inovador para a diminuição do lixo, até o momento, foi que os produtos reutilizáveis evitaram o descarte de 150 milhões de absorventes descartáveis, o equivalente a 2.300 toneladas de lixo.
Além disso, a impressão das embalagens dos produtos é feita com tinta vegetal em papel certificado e 100% reciclável.
A longo prazo a Korui quer, além de crescer ou aumentar vendas, transformar sociedades, quebrar tabus e preconceitos. “Alternativas menstruais reutilizáveis mudam o relacionamento das mulheres com o próprio corpo e empoderam. Nossa missão é incentivar uma forma de higiene íntima natural e honesta, que dá valor ao sangue menstrual e respeita a beleza natural do corpo feminino”, explica o casal.
Um negócio sustentável a partir da riqueza da floresta
A Ekilibre Amazônia é outro case que nasceu a partir de uma proposta sustentável e inovadora. A marca fabrica artesanalmente cosméticos e produtos de higiene pessoal a partir de ervas, raízes, frutas e frutos. Comunidades e cooperativas formadas por ribeirinhos assentados e indígenas são os fornecedores do empreendimento.
A empresa surgiu em 2011, na casa de seu fundador, Kairós Canavarro. Junto com sua companheira, eles fizeram as 10 primeiras unidades de desodorante de óleo de coco de babaçu e as venderam rapidamente na praça principal do distrito. As encomendas não pararam e eles continuaram produzindo.
A marca foi formalizada em 2012. Hoje produz 28 tipos de produtos originais da Amazônia, zero sintéticos, sem conservantes e considerados veganos.
Kairós Canavarro ressalta que 80% das matérias-primas são adquiridas de cooperativas da bacia amazônica, comunidades ribeirinhas e indígenas. Desde sua fundação, a empresa cresceu à taxa de 60% ao ano. Em 2018, subiu para 100%. O sucesso se deve às fórmulas simples, concentradas e extremamente naturais. “A Amazônia é muito poderosa. Respeito muito a floresta”, declara o empresário.
Kairós continua sendo responsável pelo desenvolvimento de todas as fórmulas, mas, já conta com colaboradores no laboratório da empresa. Para reduzir o impacto ambiental de sua produção, toda água utilizada no laboratório é tratada por meio de um biofiltro, composto por plantas e material orgânico, que devolve limpa a água, que já não possui contaminantes.
O saneamento é feito por um sistema fechado de bananeiras. “A gente devolve a parte sólida como adubo para a terra, que faz a bananeira crescer, dando frutos rapidamente. A água é devolvida por evapotranspiração através de folhas de bananeira; o sol bate na folha e puxa água da raiz”, explica o fundador da Ekilibre Amazônia.
As embalagens são em vidro, tecido e plástico reciclado. Em sua unidade em Alter do Chão, no Pará, a empresa recebe as embalagens devolvidas pelos clientes.
No momento, a marca avalia a possibilidade de se tornar uma franquia. O objetivo da empresa, segundo Kairós Canavarro, é se tornar referência nacional e também internacional.
Consumidor mais consciente: uma tendência que veio para ficar
Adotar um consumo consciente tornou-se uma questão de identidade. Muitas pessoas se sentem marginalizadas se não estiverem fazendo parte de movimentos conscientes e sustentáveis, segundo a pesquisa da Mandalah em parceria com a Stilingue.
De acordo com o estudo Sustentabilidade: O impacto no hábito dos brasileiros e nas marcas, realizada pela FGV em parceria com a Toluna, 75,44% das pessoas mudaram de alguma forma seus hábitos de consumo devido às preocupações com o planeta. Para 41,1% dos entrevistados, a adoção de um estilo de vida sustentável será definitiva.
Os números revelam a importância de as marcas pensarem cada vez mais na questão. E, além da pressão dos consumidores, os governos têm assumido compromissos ambientais que certamente afetarão o modo de operação na produção industrial.
Na Cúpula do Clima de 2021, o presidente norte-americano Joe Biden reconheceu que o país não está fazendo o suficiente para conter o aquecimento global e anunciou metas mais ambiciosas de corte nas emissões dos Estados Unidos.
No Brasil, o governo federal se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2030, o que significará uma redução de quase 50% nas emissões brasileiras. Além disso, o País acompanhou os EUA na antecipação da meta brasileira de neutralidade climática, de 2060 a 2050.
O mercado está mudando. A preocupação com o meio ambiente não é uma moda ou fase passageira e toda a sociedade está se movimentando nesse sentido.
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