O senador Cory Booker, ex-prefeito de Newark, é um dos grandes inovadores do mundo político norte-americano. Ele é considerado um “resolvedor de problemas” comprometido com o desenvolvimento de soluções colaborativas que são direcionadas aos mais complexos desafios. Sua atuação em prol da recuperação de New Jersey, região devastada pelo furacão Sandy, foi considerada exemplar, com políticas de incentivo à economia baseadas em pequenos negócios, gerando um grande número de oportunidades para milhares de cidadãos.
Sua palestra foi uma defesa apaixonada da capacidade humana de atuar com paixão e dignidade para a redução das desigualdades. Ele fez a palestra de abertura do eixo Interativo do SXSW e demonstrou imenso carisma. Sua empatia com a plateia, cerca de 2 mil pessoas, foi imediata.
O atual senador por New Jersey falou sobre os dilemas que a humanidade encara com as novas tecnologias e os novos perfis de liderança necessários para conduzir os povos à uma era menos violenta e rude.
Cory diz que o compromisso dos homens públicos é criar condições para que as pessoas viver com dignidade. Sua visão sobre fenômenos como o culto às celebridades e a ausência de propósitos arrancou aplausos frequentes da plateia. O político, com muita simplicidade, repetia diversas vezes sobre a necessidade de cuidarmos de sentimentos básicos como o amor, a fé, a espiritualidade. “Eu vejo, eu amo. Eu vejo, eu amo. Eu vejo, eu amo”, repetiu diversas vezes provocando pequenas catarses coletivas.
De certa maneira, Cory Booker explicitou o que nós brasileiros já sentimos: a tecnologia nos isola e a verdadeira interatividade significa a capacidade de conectar-nos a nós mesmos, de forma autêntica.
Logo depois, conversou com Malika Saada Saar, a conselheira civil de políticas públicas e relações governamentais do Google. Malika quis saber do político quais as expectativas das políticas de direitos humanos em um momento no qual o ódio parece tão latente.
“Um dia após a eleição (de Donald Trump), minha filha falou comigo: não sei o que é viver em um país no qual meu presidente não diz que me ama e que se importa comigo. Esta é a mensagem que devemos considerar de agora em diante?”, disse Malika, endereçando a pergunta para Cory. Sua resposta: “é necessário entendermos como isso aconteceu, até que ponto estamos preparados para compreender de que forma podemos manter um sistema que nos permite comprar uma camiseta de US$ 5? Esse desajuste foi evidenciado na eleição”. e continuou: “eleições trazem consequências… Eu sinto muita dor com essas feridas que existem no país. Somos a fonte dos problemas e precisamos repará-los”.
Malika provocou o senador dos EUA sobre como agir diante das pessoas que vivem em “bolhas de pensamento” impermeáveis ao diálogo e às novas ideias. Cory disse que vem se utilizando com frequência de vídeos distribuídos nas redes sociais, assumindo a obrigação de falar mais diretamente aos americanos, procurando se conectar de modo autêntico com pessoas reais. Se as pessoas despertarem a si mesmas para o exercício da compaixão e da emoção, do amor ao próximo, certamente deixarão de viver encapsuladas nessas “bolhas”.
Uma mensagem importante e corajosa não só para o público americano, mas para todo o mundo. Em uma palavra: tolerância. Até que ponto estamos dispostos a exercitar a tolerância para aproveitar o nosso mais profundo potencial interativo para realmente criar conexões reais com pessoas reais?
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento, Conteúdo e Comunicação do Grupo Padrão.