Por trás de cada alimento que colocamos na mesa, um longo caminho é percorrido. A força do agronegócio brasileiro é indiscutível. Não à toa, as projeções do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) indicam que até o fim do ano o PIB do setor poderá alcançar R$ 2,63 trilhões.

Transformar essa riqueza em potência de consumo para centenas de famílias é tarefa para os grandes. Para entender os caminhos do campo até à mesa, a Consumidor Moderno foi até Hortolândia, no interior do estado de São Paulo, cidade reconhecida como inteligente e sustentável.

É lá que a gigante norte americana, ADM, empresa global de nutrição humana e animal escolheu para liderar o caminho da inovação. O Customer Creation & Innovation Center (CCIC) brasileiro é a quinta maior infraestrutura tecnológica da empresa em todo o mundo, depois dos centros de Berlim e Heidelberg (Alemanha), Crunbury (Estados Unidos) e Xangai (China)

No Brasil, a companhia é forte no processamento de soja e milho, além de investir na produção de ingredientes para nutrição animal, produtos químicos e ingredientes especiais para a indústria. Além dos biocombustíveis, a ADM também vem se consolidando no país como um dos principais produtores de óleos vegetais engarrafados e um dos maiores exportadores globais do país.

Há aproximadamente um ano, o centro de inovação recebeu investimentos de US$ 4,7 milhões. A empresa não abre os números atuais no Brasil, no entanto, a América Latina representa de 15 a 20% do faturamento global da empresa. O Brasil é a maior fatia desse mercado. “Hoje, a ADM é uma companhia que fatura entre 90 e 100 milhões de dólares” afirma Domingues Lastra, presidente da ADM da América Latina.

A estrutura do CCIC da ADM é bastante robusta, com processos automatizados e integrados, o que permite a rastreabilidade de toda produção alimentícia. O espaço é utilizado em projetos pilotos para o desenvolvimento de novos produtos da cadeia alimentar. Além disso, o pólo tem a capacidade de simular processos industriais dos parceiros com foco em aplicações inovadoras para alimentos, e bebidas e opera como parceira na pesquisa e desenvolvimento da indústria.

Por exemplo, se uma empresa pretende expandir uma linha de produtos ou quer criar um novo produto, tem disponível uma equipe multidisciplinar de engenheiros, PHDs, cientistas tecnologistas de alimentos, aromistas, além da times de assuntos regulatórios, marketing, chefs de cozinhas e outros.

Uma equipe é treinada para alguns atributos sensoriais para realizar testes em alguns produtos. No entanto, o consumidor final, sem treinamento, também pode avaliar diferentes aspectos de produtos, desde texturas, aparência, cor, aroma, funcionalidade e outros. Em cabines, eles recebem perguntas que cientistas e pesquisadores pretendem explorar, a começar por essa avaliação para o desenvolvimento, melhorias, aperfeiçoamentos e criação de produtos.

P&D em colaboração com o cliente

Quem nos recebe é Andrea Lunardini, cientista alimentar e diretora técnica da área de nutrição humana da ADM na América Latina. A taxa de sucesso dos projetos desenvolvidos ao longo do último ano aumentou de 45% para 73%, revela.

“Os clientes não apenas se impressionam com nosso espaço físico, mas também com todo o nosso conhecimento e tecnologia disponíveis para atender às principais tendências do mercado. O processo de desenvolvimento de novas soluções é realizado em colaboração com o cliente, visando o público-alvo específico, e isso faz toda a diferença”, afirma a executiva.

Um exemplo recente de desenvolvimento de novos produtos em conjunto com o cliente foi a criação de uma linha de quatro bebidas energéticas para a marca Itts Sero Super Drink Premium, fabricada pela World Beverage. O desafio consistia em criar uma bebida inovadora para diferentes momentos de consumo e surpreender o consumidor.

Para isso, a equipe técnica do CCIC Hortolândia da ADM trabalhou em estreita colaboração com o cliente durante todo o processo, desde a concepção até a formulação final do produto. “A agilidade na entrega de uma solução otimizada, com qualidade e padronização dos ingredientes, foi um aspecto fundamental para conquistar o cliente”, explica Andrea.

Outro case da empresa é marca Plant Plus, joint venture da Marfrig com a ADM. A marca trouxe para o mercado hambúrgueres 100% vegetal, mas com textura e sabor semelhantes à carne animal. A empresa começou a industrializar os produtos e, em menos de um ano, pretende se consolidar no mercado nacional, não somente no varejo, mas também no foodservice.

“Através da Mafrig conseguimos aumentar a nossa penetração no mercado de food service”, revela Andrea Lunardini.

“Consumidor final está mais rigoroso em suas escolhas”

Antes da transformação dos grãos para alimentos sólidos, o processo começa no campo. Isso porque se na indústria, o olhar é voltado para processos, operações de logísticas, tecnologia, automação e inovação, no campo a atenção é voltada para as pessoas e o meio ambiente. De acordo com Luciano Souza, diretor de grãos da ADM América do Sul, o que vem do campo passa por um rigoroso check list de requisitos para atender às mais diversas exigências do mercado global.

“O consumidor final está mais rigoroso em suas escolhas, forçando uma agenda pautada pela sustentabilidade. É importante reconhecer também que uma grande maioria de produtores está mais consciente e faz adoção de boas práticas e o melhor manejo no campo. Do lado agroindustrial, estamos atentos e organizados para apoiar com conhecimento, entregar soluções tecnológicas inovadoras e ajudar o produtor a produzir mais sem a necessidade de abrir novas áreas para cultivo”.

Souza nos conta que são mais de 45 mil fazendas monitoradas diariamente, o que representa mais de 10 milhões de hectares de terras agricultáveis. Em Campo Grande, MS, que é considerada uma das maiores a empresa ganhou fôlego para ampliar a oferta de uma ampla gama de aplicações em produtos plant-based para a indústria de alimentos e bebidas local, da América Latina, África e Ásia.

“São muitas iniciativas que, somadas, vão se aperfeiçoando para atender melhor os nossos parceiros e o consumidor final, colaborando assim para a preservação do meio ambiente e o cumprimento de nossas metas e compromissos globais. Sustentabilidade é um pilar de estratégia para o crescimento da ADM, um princípio transversal que contribui diretamente para o propósito de alimentar o mundo e proteger a natureza. E está mais do que evidente que o caminho para uma economia cada vez mais verde é sem volta”, finaliza Souza.