Muitos idosos ainda têm dificuldade de fazer uma transação bancária, viajar de avião, chamar um táxi, pesquisar preços de produtos. Ao passo em que cresce o número de pessoas com 65 anos ou mais no ambiente digital, muitos estão enfrentando verdadeiros contratempos para consumir.
Os obstáculos digitais podem ser constatados no estudo da Federação Nacional dos Bancos (Febraban) e do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe). Intitulado “A inclusão digital os idosos“, a análise indica que, ao passo que esse público está mais familiarizado com as redes sociais e videochamadas, sente medo e insegurança quando o assunto é consumo.
Entre os principais desafios apontados pelos idosos, destaque a utilização dos serviços bancários digitais, pagamento de contas ou nas consultas em telemedicina.
Um país cada vez mais velho
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta nos dados mais recentes do censo, que a população de idosos é de 22.169.101, o que representa 10,9% da população. Em relação a censo anterior, de 2010, representa uma alta de 57,4%, quando o contingente de idosos era de 14.081.477, ou 7,4% da população à época.
O relatório da Febraban e do Ipespe mostra que, desse universo, 32% não têm familiaridade com as ferramentas online. Ademais, 19% têm dificuldade de usar aparelhos como celular, tablet ou notebook.
Outro problema bem frequente é a perda de senhas. Pelo menos 17% dos idosos esquecem a combinação de letras ou números. A consequência é o bloqueio do site ou da plataforma. “Um software é desenvolvido com o pressuposto de que todo mundo tem noção de tecnologia. Ocorre que desde os idosos, passando pelas pessoas com baixa escolaridade, e englobando os analfabetos, a dificuldade se torna é extrema. Infelizmente, não são poucas as plataformas que acabam excluindo, de forma não intencional, esses públicos”, explica o especialista em direito do consumidor e CEO do Grupo Padrão, Roberto Meir.
Constituição
Meir destacou a relevância do tema na palestra “Comunicação: da Informação à Superexposição”, no 35º Encontro Estadual de Defesa do Consumidor, realizado em São Paulo. A inclusão, que trata das diversas maneiras de inserir o ser humano aos seus pares é, para o CEO do Grupo Padrão, essencial por priorizar a igualdade de direitos, também determinada no artigo 5º da Constituição Federal, que determina a igualdade entre todos os cidadãos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
Diante deste problema, na perspectiva de Meir, torna-se fundamental desenvolver um “olhar diferenciado” para atender as necessidades dos idosos e pessoas com baixa escolaridade. “Esses consumidores, além de sofrerem na adaptação à tecnologia, têm seus direitos violados”, alerta.
Usabilidade em pauta
Meir chama a atenção para a questão da “usabilidade”. “É dever das empresas e dos governos começarem a pensar na usabilidade, que corresponde a um produto fácil de usar. O objetivo é ofertar ao usuário melhor experiência, mais produtividade, menor chance de erros ou equívocos, facilidade para a memorização das operações e aprendizado rápido”, recomenda.
Para Roberto Meir, uma interface baseada na usabilidade é sinônimo de interface amigável, determinada pelo design e pelas fácil navegabilidade das funcionalidades da ferramenta. “O objetivo é estabelecer a melhor forma de relação entre usuário, tarefas e ambiente”.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC nº 47/2021), de autoria da então senadora Simone Tebet (MDB-MS), aprovada no Senado Federal, insere a inclusão digital na lista de garantias fundamentais, que representa o conjunto de direitos que asseguram a dignidade da pessoa humana.
A proposta, destacou o relator Fabiano Contarato (PT-ES), considera a internet fundamental para obtenção de direitos como consumo, saúde, educação e trabalho. O projeto atualmente encontra-se em análise pela Câmara dos Deputados.