Os “Grandfluencers” estão provando que a idade é apenas um número quando se trata de influenciar pessoas nas redes sociais. Com um público fiel e crescente, esses criadores de conteúdo com mais de 70 anos estão quebrando estereótipos e conquistando o coração de milhões de seguidores em plataformas como TikTok, Instagram e YouTube. Eles não só estão desafiando as noções convencionais de quem pode ser um influenciador, mas também estão transformando a paisagem digital com seu conteúdo autêntico e envolvente.

O fenômeno dos “Grandfluencers” é evidenciado pelo sucesso do Retirement House, um canal do TikTok que apresenta 6 “idosos” compartilhando suas experiências, histórias e habilidades. Com quase 6 milhões de seguidores, o Retirement House se tornou um dos principais influenciadores da geração mais velha nas redes sociais. Seus vídeos divertidos, inspiradores e informativos atraíram a atenção de grandes marcas, levando a parcerias lucrativas e oportunidades de patrocínio.

Durante o SXSW 2024, os criadores do Retirement House compartilharam insights sobre como construíram sua marca pessoal, cultivaram uma comunidade engajada e estabeleceram colaborações com marcas de renome. Gaylynn Baker e Brandon Chase falaram sobre os desafios e oportunidades de ser um influenciador sênior e ainda compartilharam conselhos práticos para outros que, eventualmente, gostariam de seguir seu exemplo.

É importante analisar o impacto dos “Grandfluencers” na cultura digital e como eles estão redefinindo as narrativas sobre envelhecimento, beleza e relevância nas redes sociais. A questão é entender se estamos diante de uma exceção, ou de um exemplo pontual, ou se há realmente espaço para influenciadores de idades e estilos diferentes. O caso do Retirement House extrapolou a fronteira da internet e já foi repercutido em publicações como The New York Times, Business Insider, AARP, Buzzfeed. Será que os “Grandfluencers” são uma prova de que a idade é apenas um dado normal no marketing e influência?

Quanto mais idade, melhores as piadas

Rosa Bunter, o arquiteto de conteúdo responsável pelo canal, exibiu uma série de vídeos incrivelmente engraçados, com os jovens do Retirment House exibindo um senso de humor em situações muito bem-humoradas, satirizando a própria idade, as manias normalmente associadas aos idosos e paródias de outros vídeos de sucesso na internet (para ver os vídeos, acesse o canal no YouTube aqui.

Já Gaylynn Baker é uma atriz aposentada que assumiu o papel de “Mabel”, uma idosa que se coloca nas situações absurdas, inusitadas e cheias de humor e sarcasmo do canal do Retirement House no TikTok. São mais de 6 milhões de seguidores conquistados e contando. A beleza desse case surpreendente reside justamente em enfrentar e superar o “gap”, a lacuna geracional para explorar situações de humor absurdo, pastelão, leve e rápido. Outro aspecto curioso do canal é que a maior parte dos seguidores tem entre 18 e 25 anos, o que indica que há espaço e mercado para as gerações mais antigas.

Lógico, as pessoas amam autenticidade, espontaneidade, o frescor de pessoas satirizando a si mesmos. E o conteúdo do Retirement House explora intensamente essa capacidade dos personagens rirem de si mesmos. Isso porque, segundo Gaylynn, as pessoas não devem ter a idade, “há muita alegria na velhice”, diz a simpática atriz.

Pontes geracionais

A ideia de criar o canal, de mostrar energia criativa inesgotável funciona como ponte geracional, uma forma de estabelecer conexão genuína entre gerações distintas, com respeito e integridade. Mostrar o lado bem humorado da vida, acessível, verdadeiro em qualquer idade cria vínculos sólidos entre “Mabel” e a audiência. 

É necessário que iniciativas como essa ultrapassem a barreira da idade. Gaylynn é enfática em dizer que a idade não limita, e que outros idosos, longevos e seniores devem estar dispostos a correr riscos e a seguirem seus sonhos. Em qual momento da vida que perdemos o olhar infantil e a coragem de perseguir sonhos? O canal do Retirement House tem como personagens gente com mais de 70 ou 80 anos, e com vontade de fazer as pessoas sorrirem.

Temos aqui um elenco de excepcional valor para as marcas: consistência, alegria, bom humor, resiliência, talento, valores e princípios que são importantes para muitas marcas. Outro paradoxo é pensar que enquanto vemos gente sênior, com talento, encarando a vida de peito aberto, criando, com audácia e vitalidade, há um grande grupo de jovens reclusos, tristes e sem ânimo para perceber o colorido da vida. Em que momentos que a juventude perdeu a conexão com seus sonhos?

Histórias transcendem gerações

Boas histórias, bom conteúdo sempre tem chances de ganhar representatividade e sucesso. Ser um “grandfluencer” é uma forma de confrontar um silo, uma área que foi reservada, supostamente, para pessoas mais jovens. Esse é o lado positivo da internet, sua capacidade de inclusão, as ferramentas que coloca à disposição das pessoas mais diversas para experimentar, testar e criar, superando os preconceitos normalmente associados a apenas um perfil de pessoa, uma identidade majoritária ou dominante.

Além do mais, toda a experiência, vivência e histórias passadas dos mais seniores são um exemplo de como fazer bem para a maior parte das pessoas. Memórias afetivas, inspirações, dicas, sentimentos que se combinam para criar empatia e engajamento em públicos das mais diversas idades. 

A jornada dos “Grandfluencers” é um testemunho brilhante da capacidade ilimitada do ser humano de influenciar, independentemente da etapa de vida em que nos encontremos esses adoráveis idosos não somente desafiam as fronteiras da idade, mas também nos inspiram a redefinir nossas próprias percepções sobre o que é possível, de forma permanente. Ao compartilhar suas histórias, humor e sabedoria, esses influenciadores experientes estão construindo pontes entre gerações, demonstrando que a conexão humana transcende o tempo e as convenções.

Este fenômeno pode ser visto como apenas uma tendência passageira? É possível. Uma aposta melhor é entender essa iniciativa como um movimento cultural significativo que sinaliza uma mudança na sociedade. Esse movimento nos mostra que o respeito, o amor e a admiração não têm idade. À medida que a digitalização continua a moldar nosso mundo, os “Grandfluencers” provam que o espaço digital é para todos, oferecendo uma plataforma onde as vozes de todas as idades podem ser ouvidas e apreciadas.

O sucesso dos “Grandfluencers” no cenário global digital é uma fonte de inspiração para pessoas de todas as idades a buscarem autenticidade, a perseguirem paixões e a nunca subestimarem o poder do engajamento e da influência pessoal. Eles nos lembram de que é possível romper barreiras, superar estereótipos e criar conteúdo que ressoa com audiências vastas e diversas.

E quantas marcas não deveriam olhar para esses valores ao invés de estarem complementarmente embriagadas pela ideia sonolenta e antiquada de juventude eterna?