A segurança pública nas grandes cidades sempre foi um desafio complexo, que exige decisões rápidas baseadas em informações confiáveis. Nesse cenário, apesar de polêmica, a Inteligência Artificial surge como uma aliada estratégica na construção de cidades mais seguras.
Um exemplo prático de aplicação da tecnologia está no Smart Sampa – programa iniciado em novembro passado na cidade de São Paulo que hoje opera com 25 mil câmeras inteligentes espalhadas em pontos estratégicos do município.
Os equipamentos passam 24 horas por dia mirando rostos e as “câmeras operam com algoritmos capazes de identificar em tempo real procurados pela Justiça ou pessoas desaparecidas, placas veiculares com indicação de furto ou roubo e possíveis tentativas de invasão em unidades escolares”, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU-SP).
Até 26 de janeiro, 512 foragidos foram presos com o auxílio do monitoramento por reconhecimento facial do programa.
Na avaliação da prefeitura, o ecossistema tecnológico amplia significativamente a capacidade de vigilância e resposta da cidade, promovendo um modelo mais “eficiente, proativo e conectado” à realidade urbana.
A IA na segurança pública
A SMSU explica que a IA tem um papel cada vez mais estratégico na complexa pasta da segurança pública das grandes cidades e a principal força está na capacidade de processar grandes volumes de dados, estruturados e não estruturados, de forma rápida e contínua.
“Por meio de algoritmos avançados e modelos preditivos, a IA identifica padrões, antecipa cenários e aponta riscos com alta confiabilidade”, garante a Secretaria.
Segundo o órgão, a tecnologia fortalece a atuação dos gestores, reduzindo o tempo de resposta em situações críticas e aprimorando a alocação de recursos. “Ao transformar dados brutos em informações estratégicas em tempo real, a IA contribui diretamente para a integração entre setores e o aprimoramento de políticas públicas, especialmente em áreas como segurança, mobilidade, saúde e educação”, complementa.
Desafios da tecnologia
Os sistemas de Inteligência Artificial do programa geram alertas automáticos validados por operadores da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e “em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)”.
As imagens captadas são imediatamente processadas e cruzadas com bancos de dados oficiais, permitindo a geração automática de alertas para a Central.
“Vale destacar que os alertas só são emitidos quando a similaridade entre a imagem capturada pelas câmeras e a que consta nos registros obtiver similaridade maior que 90%”, reforça a SMSU.
Embora haja avanços, a implementação desses sistemas ainda enfrenta tanto desafios técnicos quanto regulatórios, com destaque para questões relacionadas à privacidade, capacitação das equipes e controle de falsos positivos.
“O uso de tecnologias como reconhecimento facial e leitura de placas exige um alto nível de segurança da informação e conformidade legal”, afirma a pasta. Para lidar com esses pontos sensíveis, o município diz adotar políticas rígidas de proteção de dados, como “o uso de criptografia, controle de acesso, auditoria contínua e o cumprimento integral da LGPD”.
A SMSU também destaca que, para evitar falhas de identificação, todos os alertas gerados por IA passam por validação humana antes de qualquer encaminhamento. “A tecnologia funciona apenas como ferramenta de apoio e nunca como decisão autônoma”, reforça o órgão que ainda garante que realiza ajustes contínuos para reduzir erros e ampliar a precisão dos algoritmos.
“Todos os alertas validados, mesmo os descartados, são registrados e auditados. Esse processo retroalimenta o sistema, permitindo identificar padrões de erro e treinar os algoritmos para serem cada vez mais eficientes”.
Limites éticos
Apesar dos avanços, o uso de tecnologias de vigilância com apoio de Inteligência Artificial ainda levanta debates importantes sobre privacidade, discriminação algorítmica e o risco de uso excessivo do monitoramento em espaços públicos.
À medida em que a IA se torna mais presente nas políticas públicas, cresce também a responsabilidade dos gestores em garantir que a inovação não ultrapasse os limites éticos e legais da vigilância urbana.
Para muitos especialistas, o tema é ainda sensível e o desafio é equilibrar o ganho em segurança com o respeito aos direitos fundamentais da população.
O que vem pela frente
De olho no futuro, a cidade de São Paulo pretende ampliar o uso da IA em iniciativas ainda mais ousadas e centradas na proteção dos cidadãos – a prefeitura avalia, por exemplo, o uso de IA no monitoramento de tornozeleiras eletrônicas em casos de violência contra a mulher.
A proposta é integrar georreferenciamento e Inteligência Artificial para acompanhar em tempo real a localização de agressores com medidas protetivas expedidas pela Justiça. “Se um monitorado se aproximar de uma área restrita como, residência, local de trabalho ou trajeto habitual da vítima, um alerta automático será enviado à Central Smart Sampa, permitindo uma resposta rápida e preventiva”, explica a SMSU.
A Secretaria reforça que todas as novas tecnologias passarão por testes controlados, auditorias técnicas e avaliação de órgãos reguladores antes de entrarem em operação.
“O foco do programa continua sendo o uso da IA como ferramenta assistiva, reforçando a capacidade humana de tomada de decisão, sem substituir a supervisão pública”, finaliza.