O cenário atual, não só no Brasil, mas em todo o mundo, apresenta um dilema significativo: como a interação entre humanos e Inteligência Artificial (IA) pode transformar pessoas e empresas?
Pensemos, por alguns instantes, em toda essa transformação: no setor da saúde, a IA auxilia médicos a diagnosticar doenças com precisão. Ao analisar grandes volumes de dados, pode prever surtos e oferecer tratamentos personalizados, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Por sua vez, na educação, a IA cria experiências de aprendizado personalizadas. Ferramentas adaptativas podem identificar lacunas no conhecimento dos alunos e sugerir conteúdos específicos, promovendo um aprendizado mais eficaz.
A indústria é outro setor que está se beneficiando com a automação inteligente. Isso porque a IA otimiza processos de produção, reduz desperdícios e aumenta a eficiência, permitindo que as empresas sejam mais competitivas no mercado global.
Os benefícios da IA
No ambiente corporativo, assistentes virtuais estão revolucionando a forma de trabalho. Afinal, eles ajudam na organização de tarefas, respondendo a perguntas frequentes e permitindo que os colaboradores se concentrem em atividades estratégicas. Já no setor financeiro, algoritmos de IA detectam fraudes em tempo real e analisam padrões financeiros, garantindo segurança e inteligência nas operações, protegendo tanto empresas quanto consumidores.
“A interação entre humanos e IA não é apenas uma tendência, mas uma transformação inevitável. Ao adotarmos essa tecnologia, podemos alcançar novos patamares de eficiência e inovação em diversas áreas.” Esse é o pensamento de Paula Tempelaars, CEO da Neurowits, empresa dinamarquesa especializada em estudos de neurociência aplicada, que permite não apenas teorizar, mas também aplicar dados e comprovações científicas no contexto dos negócios.
Durante o CONAREC 2024, Paula enfatiza que nosso cérebro gosta de padrões de comportamento. Essa é a razão pela qual frequentemente buscamos repetição e familiaridade em nossas ações diárias. “Essa predisposição nos permite economizar energia mental, facilitando a tomada de decisões e a adaptação a novas situações. Por exemplo, ao seguir uma rotina, seja no trabalho ou em casa, conseguimos automatizar tarefas, permitindo que nossa mente se concentre em atividades mais complexas ou criativas”, explica a especialista, enfatizando que a identificação de padrões nos ajuda a prever resultados e respostas, o que é essencial em contextos sociais e profissionais.
“Apenas como exemplo, ao perceber comportamentos recorrentes em colegas ou clientes, é possível adaptar nossa comunicação e estratégias, criando interações mais eficazes”, diz.
Padrões de previsibilidade
Contudo, a especialista destaca o quanto é importante estar atento à armadilha da complacência. Embora os padrões ofereçam conforto e previsibilidade, eles também podem limitar a capacidade das pessoas de inovar e se adaptarem a mudanças. O desafio, na visão de Paula, reside em encontrar um equilíbrio entre o aproveitamento dos padrões já estabelecidos e a abertura para novas possibilidades. “Isso garantirá que continuemos a evoluir e a desenvolver habilidades ainda mais avançadas.”
No painel “Human + AI: oportunidade ou ameaça”, do CONARC 2024, Paula destaca ainda que a incorporação da IA nas atividades cotidianas pode otimizar processos, aumentar a eficiência e fornecer insights valiosos. No entanto, essa integração também suscita preocupações. A automação de tarefas pode levar à substituição de empregos, criando insegurança no mercado de trabalho.
Nesse sentido, profissionais de diversas áreas precisam se requalificar e se adaptar às novas tecnologias para se manterem relevantes. Ademais, questões éticas relacionadas à privacidade e ao viés nos algoritmos demandam um debate aprofundado, uma vez que decisões automatizadas podem perpetuar desigualdades já existentes.
IA e neurociência
Mas, e então: como ficamos com toda essa situação? Do ponto de vista da neurociência, apesar de todos os benefícios da IA, os seres humanos tendem a resistir a mudanças. “Inovações e transformações, quando não são bem fundamentadas e comunicadas, geram sensações de risco e ambiguidade.”
Essa ambiguidade, segundo Paula, provoca um impacto negativo em nosso cérebro, pois não temos certeza do que irá ocorrer. A tendência então é que as pessoas evitem essas situações e trabalhem de forma pessimista. A chave para transformar essa relação em uma oportunidade está no investimento em educação e capacitação, preparando a força de trabalho para um futuro onde humanos e máquinas convivem de maneira produtiva.
Dessa forma, a colaboração, em vez da competição, pode ser o caminho a seguir, com a IA atuando como uma parceira que potencializa as capacidades humanas, permitindo que as pessoas se dediquem a tarefas criativas e de alto valor.
Assim, é fundamental abordar essa transformação de maneira equilibrada, reconhecendo tanto os benefícios quanto os desafios. “Ao desenvolver incentivos a inovação responsável, atrelada ao uso da ética e da inclusão social, será possível maximizar as oportunidades criadas pela IA, assegurando que essa evolução tecnológica beneficie a todos”, prevê Paula.
Futuro promissor?
A IA pode ser a chave para um futuro muito promissor ou pode intensificar desafios.
A diferença reside na forma como utilizaremos essas tecnologias. Elas vieram para ficar, mas não substituirão o trabalho humano. O cérebro humano é quem cria a IA, utiliza seus recursos e maximiza sua capacidade de entrega. É essencial promover o uso responsável e ético da tecnologia, para que ela se torne uma força poderosa para o bem. “É um convite para nos tornarmos protagonistas do futuro, garantindo que a IA funcione como uma aliada e não como uma ameaça.”