Muito se fala sobre como a Inteligência Artificial impacta o indivíduo, empoderando seu talento como assistente pessoal ou vista como ameaça ao seu emprego. Mas a verdadeira revolução está acontecendo dentro das organizações, onde a IA está se tornando um elemento central para a tomada de decisão, a adaptação contínua e a inovação estratégica (como, aliás, a Consumidor Moderno defende há algum tempo).
No SXSW 2025, a professora Melissa Valentine, do Institute for Human-Centered AI (HAI) da Universidade de Stanford, e autora do livro Flash Teams, trouxe insights instigantes sobre como empresas estão incorporando a IA não apenas como ferramenta, mas como um verdadeiro parceiro no trabalho.
O painel apresentou três casos reais de aplicação de IAs à práticas de gestão, com objetivos de transformar fluxos de trabalho, otimizar a coordenação entre equipes e potencializar a inteligência coletiva. Em vez de substituir talentos, a IA funcionou como modelo de amplificação da capacidade humana, permitindo que as empresas tomassem decisões mais precisas, inovassem de maneira mais ágil e se adaptassem a cenários complexos com maior eficiência. Para além dos clichês e emoções, é necessário refletir sobre os rumos práticos e escaláveis da IA nas organizações que impulsionam a economia e a sociedade.
O chart organizacional é “A mais importante invenção da história humana dos últimos 200 anos”. O velho instrumento de desenho de organogramas, ganhou aplicações notáveis combinado com os sistemas de Inteligência Artificial. Esse foi o ponto de partida dos estudos de Melissa Valentine sobre Change Management e que serviram de base para seu livro. Ela é uma estudiosa e pesquisadora da complexidade das organizações. E a beleza das empresas é a competência de criar soluções para problemas complexos. Cada vez mais, temos que nos debruçar e enfrentar problemas de dificuldade crescente em negócios que combinam fundamentos físicos e digitais. Falamos de inventário, cenários, omnicanalidade, atendimento, marketing, especializações, tomada de decisão. Todas as atividades podem ser pensadas e gerenciadas com a metodologia dos charts, redefinidas com o uso das IAs.
Isso porque os charts permitem desdobrar e identificar as atividades, dividir a complexidade e enxergar as relações entre elas. E onde a Inteligência Artificial entra nessa história? A base está na criação de um algoritmo que consiga produzir análises a partir de uma tarefa fundamental devidamente mapeada (e desdobrada). A partir do algoritmo, uma IA acoplada a um chart gera um motor de tomada de decisão, capaz de desenhar cenários, simulações e gêmeos digitais. A ideia central é criar um cenário de simulações que antecipa e testa funções das atividades – de inventário, por exemplo – para trazer novas informações que possam ser aplicadas no cenário real. O gêmeo funciona, então, como um campo de experimento para observar a performance das decisões e os ganhos possíveis de eficiência, produtividade e performance.
A combinação do chart com IA assegura decisões descentralizadas e unifica a resposta estratégica para problemas predefinidos. O chart subdivide as ações necessárias ao desenvolvimento da estratégia e habilita a compreensão das informações associadas a cada ação. Nesse ponto, a IA explora as possibilidades e customiza a informação para cada colaborador envolvido na estratégia, define as instruções e cria os “nudges”, os alertas e motivadores que incentivem a execução. Nesse sentido, a Inteligência Artificial associada ao chart organizacional gera um motor de aprendizado contínuo.
E quando a organização trabalha com profissionais especializados de alto nível? É possível aplicar a mesma metodologia? Melissa trouxe o case de um hospital, com toda a sua complexidade de atividades, da emergência às cirurgias, do serviço de ambulância até os diagnósticos. Pois bem, um hospital sempre tem profissionais especializados em resolver problemas específicos. E é sempre um desafio encontrar recursos e pessoas com expertise para se somarem a essa estrutura altamente especializada. Melissa novamente mostra como a atividade central do hospital pode ser fracionada e visualizada em um chart. A partir daí, um motor de IA orientado a busca, à alocação de mão de obra e à estrutura, consegue criar os matches necessários que associam os profissionais certos para cada atividade, de forma que consigam agregar competências que potencializem as atividades especializadas.
Organizações são poderosas. A partir dos exemplos mostrados, é realmente possível enxergar que os modelos de trabalho, gestão e tomada de decisão serão profundamente modificados nos próximos 5 anos. Ao contrário, do pensamento comum, dos impactos da IA sobre a força de trabalho, a metodologias de gestão organizacional apresentada pela professora de Stanford sinaliza a obsolescência próxima dos modelos atuais de gestão. Estratégias e decisões baseadas em mentalidades personalistas e decisões intuitivas farão com que empresas gerenciadas nesse modelo sejam duramente afetadas por competidoras nas quais a Inteligência Artificial expande as habilidades de mentes coletivas e colegiadas.
A velocidade e potencial de adaptação a cenários vai acelerar empresas e criar distâncias imensas entre as “AI-Powered Organizations” e as demais. É crível estimar uma janela de 5 anos para que empresas relevantes e vencedoras sejam aquelas mais hábeis na aplicação de IA à alta gestão, e não apenas a exercícios de automação e redução de custos.
As empresas centradas no humano serão aquelas capazes de entender como impulsionar o talento de seus times e a qualidade das decisões da liderança a partir de metodologias que assimilem a IA como aceleradora.
No fim dia, a famigerada transformação digital é, antes de tudo, transformação mental. As organizações mais poderosas são e serão aquelas com mentalidade orientada a encontrar as melhores formas de utilizar IA como motor de gestão.