O dia de trabalho começa e você acessa uma planilha no Google Drive para saber suas atribuições. Ao longo da jornada, edita e troca informações em diversos serviços online. Depois, ao chegar em casa, confere fotos no celular – salvas na nuvem – e termina a noite assistindo a conteúdo no streaming.
Poucos usuários param para pensar, afinal, tudo isso não passa de rotina, mas para que ele possa executar cada uma dessas simples tarefas cotidianas estão trabalhando diversos hardwares de empresas espalhados no mundo todo. É o que o professor chefe do Departamento de Ciências de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, José Fernando Rodrigues Jr., chama de comodidade abstraída: você apenas usa, sem ter que saber como.
No entanto, a baixa percepção do usuário final não diminui a importância deste mercado da computação em nuvem e armazenamento de dados, que é bilionário. “Em 2022, ele movimentou cerca de US$ 480 bilhões, incluindo serviços como edição/armazenamento de documentos, armazenamento de fotos e vídeos, plataformas de videoconferência, bases de dados, processamento de inteligência artificial, streaming de vídeo, desenvolvimento de software, entre outros”, explica o professor.
Já o diretor-geral para o Setor Corporativo da AWS no Brasil, Cleber Morais, vai além e acredita ser provável que nas próximas décadas, praticamente todos os servidores das empresas estejam na nuvem. “É muito mais econômico utilizar a nuvem, pois favorece a inovação e agiliza o crescimento dos negócios. E o armazenamento em nuvem também precisa dos hardwares como parte da infraestrutura”, diz.
Afinal, ele lembra que a economia digital é baseada em dados, que tem que ser armazenados. Com milhões deles gerados a cada minuto, os hardwares das empresas acabam tendo uma importância proporcionalmente grande.
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Principais empresas que gerenciam dados em nuvem
Amazon Web Service (AWS), Google e Microsoft são hoje as principais fornecedoras de nuvem no cenário global. Por isso, são elas que concentram o maior volume de informação que precisa ser processado.
Para se ter uma ideia, o professor da USP, José Fernando Rodrigues Jr., passa alguns números consideráveis. A AWS é um desses casos: figurando entre as maiores empresas do mundo, ela domina atualmente 34% deste mercado e tem em torno de 70% de seus lucros decorrentes da venda de serviços de cloud computing.
“Para entender esta lógica, basta saber, por exemplo, que a Netflix não possui servidores próprios, ela usa os serviços vendidos pela Amazon. Então, toda vez que um usuário inicia um filme via Netflix, ele, indiretamente, torna-se cliente da Amazon”, exemplifica.
O diretor-geral para o Setor Corporativo da AWS no Brasil, Cleber Morais, reafirma que a empresa é a plataforma de nuvem mais abrangente e amplamente adotada no mundo. E isso reflete na sua infraestrutura, inclusive de hardwares.
“Nossa infraestrutura consiste em 90 zonas de disponibilidade em 28 regiões geográficas, e já temos planos para mais 21 zonas de disponibilidade e mais sete regiões na Austrália, Canadá, Índia, Israel, Nova Zelândia, Espanha, Suíça e Tailândia. No Brasil, estamos presentes nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza”, afirma, lembrando que, por motivos de segurança, não divulgam as localizações específicas dos data centers.
Hardwares de empresas: fatores determinantes
para definir onde ficam
O cientista da computação e pesquisador de GovTech do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), Pedro Braga, faz uma analogia simples para se entender a importância dos hardwares para empresas que gerenciam e armazenam dados: eles são o coração do negócio.
“Como empresas como Amazon, Google e Microsoft precisam processar um volume grande de informações, necessitam de uma quantidade de equipamentos igualmente gigantesca. Estamos falando de dezenas de armazéns em diversos locais do mundo, processando uma quantidade enorme de dados 24h por dia, 7 dias por semana”, fala.
Segundo o pesquisador, a prioridade é fornecer o serviço de nuvem mais rápido para seus clientes, que muitas vezes também são grandes empresas que se preocupam com atrasos na ordem de milissegundos para acessar seus sistemas. Para cumprir com este objetivo, os equipamentos até podem funcionar como um computador normal, mas em uma escala imensamente maior.
Os locais onde estes hardwares se encontram também são determinantes e é por essa razão que uma combinação de fatores é considerada para defini-los. Alguns destes fatores são:
Oferta de energia
“O fator mais óbvio para determinar a localização de um data center é a oferta de energia elétrica confiável, abundante, com redundância e, de preferência, com custo reduzido. Não são raros os data centers construídos próximos a distribuidoras de energia elétrica”, comenta o professor da USP, José Fernando Rodrigues Jr.
Telecomunicações
Para o professor da USP, este é o segundo fator prioritário para definir as regiões de instalação. “As telecomunicações estabelecem comunicação com clientes de todo um país, ou mesmo do mundo. Para vencer tais distâncias em tempo imperceptível são necessárias redes de fibra óptica, preferencialmente, oferecidas por mais de um provedor”.
Clima
Menos óbvio, o clima é um tópico que pode representar uma diferença nos custos dos data centers. “Computadores dissipam muito calor; um processador pode chegar a 90º se não for devidamente”, explica o chefe de departamento. Por isso, alguns graus a menos no clima da região acabam sendo determinantes.
Potencial de clientes
Para o pesquisador do ITS, Pedro Braga, para pensar onde ficam os hardwares das empresas de gerenciamento de dados, é interessante também observar onde se concentra o capital financeiro do mundo. “A internet como um todo e o poder computacional é muito concentrado nos países do Norte Global, porque é lá que estão os principais clientes dessas empresas provedoras de infraestrutura”, argumenta.
Por essa razão é que, na hora de contratar uma máquina virtual, existem mais opções (e com menor preço) nos EUA do que no Brasil.
Infraestrutura geral
A regulamentação governamental, a infraestrutura que envolve questões de transporte, segurança e outros, e até a disponibilidade de mão de obra qualificada influenciam na decisão final sobre onde instalar os hardwares das empresas. Inclusive como estes itens combinados irão resultar na capacidade de oferecer baixa latência ao executar aplicativos e serviços.
“O início de nossa operação está atrelado a alguns fatores, entre eles qualidade da infraestrutura, conectividade da rede, fontes de energia disponíveis e base de funcionários que podem começar a trabalhar rapidamente com nossos clientes. Em alguns locais, leva mais tempo para construir a experiência que achamos que atende aos padrões que nossos clientes esperam”, comenta diretor-geral para o Setor Corporativo da AWS no Brasil, Cleber Morais.
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