A idade nunca foi apenas um número – ela define quem toma as decisões mais importantes sobre direitos, meio ambiente e economia. Nos Estados Unidos, no Brasil, e praticamente em todos países mais importantes global e regionalmente, as lideranças políticas e corporativas são dominadas por gerações mais velhas. E o debate sobre a necessidade de renovação está em ascensão. A Geração Z, que já transforma mercados e narrativas culturais, agora, em seu processo de amadurecimento, desperta para assumir um papel mais ativo no poder, questionando a resistência institucional à transição geracional.
No SXSW 2025, Dillon St. Bernard (Amplify Pledge), Tiana Day (Youth Advocates For Change), Alex Edgar (Made By Us) e Andrew Roth (dcdx) debateram como a sociedade pode abrir espaço para novos líderes. O painel discutiu estratégias para convencer as gerações mais velhas a passar o bastão, garantindo que suas conquistas sejam preservadas sem impedir a inovação. Como as instituições podem se preparar para a ascensão de uma nova mentalidade no poder? O futuro pertence a quem ousar construí-lo.
Quatro lideranças da Geração Z, engajadas, ativistas e decididamente incomodadas com a apatia dos jovens diante do seu pouco apego a liderar e a participar das decisões que envolvem, bem, todas as gerações. Sim, os Zs estão amadurecendo, mas sem perder a própria espontaneidade e a irreverência. A ideia dessa participação nas decisões envolve reconhecer a importância das gerações anteriores e buscar colaboração. Os Zs são pragmáticos, ainda que enxerguem o mundo de modo diferente, mas não se sentem à vontade querendo “quebrar todas as regras”.
Os participantes do painel, sem exceção, buscaram mentores de gerações anteriores, para descobrir o que liderança significa e o que pode representar. Cocriar, colaborar, abrir mão do “fazer sozinho” e das verdades absolutas parece ser a forma desses jovens tomarem decisões. Nada gratifica mais a Geração Z do que ver pessoas mais maduras que acreditam nelas e se apaixonam por suas histórias. Alex Edgar, por exemplo, disse que só subiu ao palco para participar desse painel no SXW depois que recebeu o apoio de um professor de faculdade. Ele nunca se enxergou como alguém capaz de falar em público, mas foi esse mentor que o encorajou.
O que o mundo pode ser?
Uma das coisas mais intrigantes desses jovens, na sua perspectiva, é a forma como encaram “negativas”. E a forma de encararem hoje a “gerontocracia”, que lidera nações e empresas, tem base nos mal-entendidos que seu comportamento digital, construtor de narrativas e na relação conflituosa com os modelos de trabalho provoca. Esses jovens acreditam no poder da empatia e no quanto ela ocupa um papel central em sua vida e suas expectativas. A inclinação pela narrativa faz deles pessoas que apreciam as histórias e as parábolas para se engajarem. Por outro lado, sim, eles contestam modelos pré-concebidos, refutam tradições e querem fazer diferente (mas qual geração não quis fazer desse modo quando jovem?).
Eles não se declaram exatamente felizes com o mundo que recebem e com o modo com os mais velhos lideram e tomam decisões. Em sua idade adulta, que tem entre 5 e 10 anos, já viveram uma pandemia, quarentenas, movimentos sociais, inflação, crises políticas e guerras e, mesmo sendo a grande maioria dos consumidores, são sub-representados nos boards, nos governos e nos espaços de liderança. Aqui há um viés claro. Os jovens querem avançar rápido, sem compreender que a evolução para o poder e a liderança influente passa por maturidade, e por serem testados e provados diante das adversidades da vida. Decisões exigem habilidades que os jovens não necessariamente desenvolveram, por mais que sejam conectados e digitalmente proficientes.
Mas vale considerar que sua ênfase na colaboração pode servir de ponte para criar formas mais plurais e mais arejadas de liderança. Chamar esses jovens para desenvolver soluções em conjunto tem boas chances de enquadrar problemas e trazer bons resultados. Eles realmente querem a presença do “oldie but goldie”, da experiência para ajudar a formar sua personalidade e seu estilo de liderança. Andrew Roth destacou um ponto fundamental: “Essa é uma geração que ainda não construiu seu legado, pois ainda pensa demais no hoje”. Talvez o nosso mundo não tenha permitido a esta geração pensar em qual seria esse legado e os condicionou, ou motivou, a pensar sempre no agora e no imediato.
Senso de urgência
Viver experiências intensamente é outra de suas características. Isso porque a Geração Z não tem nada a perder e, por isso, alimenta uma enorme ansiedade que se expressa como senso de urgência diante de problemas que parecem insolúveis (e para os quais parecem ter explicações e visões ingênuas), tais como a desigualdade e as injustiças sociais. Eles têm absoluta consciência de que os mais velhos precisam trabalhar mais para sustentar uma vida mais longa. É perfeitamente claro para eles que o sistema não comporta um futuro de pessoas aposentadas precocemente, mas é necessário que as instituições ouçam e estejam dispostas a colaborar com os mais jovens para criar novas ideias que reduzam essas assimetrias.
Os espaços de trabalho, o ambiente corporativo também parece hostil demais para esses jovens cheios de idealismo. Na percepção deles, as empresas ainda parecem inseguranças para que um jovem possa ser ele mesmo e se sentir bem. Não há espaço para relacionamentos autênticos e construtivos, ao contrário. “Segurança psicológica não parece fazer parte da preocupação dos líderes, e é falso que os jovens queiram expor seus dramas e colocar todas as convenções abaixo no primeiro dia do trabalho”, observa Tiana Day. Ela faz questão de ressaltar que as empresas podem ser mais confortáveis e “open mind”, mais curiosas para gerar valor com o talento da Geração Z. Arejar organizações tão obcecadas com a própria sobrevivência (e com os bônus do trimestre) pode ser positivo para os negócios.
E o futuro desses futuros líderes?
Liderar colocando emoção e empatia em todos os momentos é um dos aspectos que parece encantar os jovens nessa vontade de liderar recém-descoberta. Encontrar novos recursos e oportunidades, e também entornar as gerações seguintes, fazem parte de seu arsenal de gestão. Os jovens ainda encaram o ativismo de peito aberto, como enfatizou Dillon St. Bernard, ele mesmo um storyteller e uma voz que acredita no poder das histórias para mobilizar times.
De todo modo, o futuro não será fácil. Não há necessidade de remover todas as barreiras e desafiar as gerações anteriores. Para eles, o processo é de construção permanente e de humildade para aprender.
Quem sabe quais as histórias e o legado que a Geração Z vai deixar na sua experiência como líder? O tempo vai dizer. De todo modo, é promissor saber que há jovens dispostos a assumir o fardo e a responsabilidade de liderar e de aprender a liderar.