Desde que as redes sociais surgiram, o objetivo sempre foi fazer publicações para que você pudesse mostrar o que quisesse, dentro da proposta da rede em questão. Por exemplo, no Instagram, o propósito é postar fotos e vídeos, enquanto no X (antigo Twitter) é compartilhar pensamentos escritos em tempo real, apesar de ainda haver a utilização de imagens, que são mais memes e gifs do que as de cunho pessoal.
O ponto é que há usuários que postam muito mais do que outros, seja porque se identificam mais com determinado aplicativo ou porque gostam de compartilhar suas informações com os seguidores. No entanto, atualmente existe uma crença de que a Geração Z, pessoas de 13 a 27 anos, são as que mais se expõem na internet e que não ligam para questões envolvendo privacidade. Será mesmo?
Dados de uma pesquisa realizada pela Luzia, plataforma de assistente de Inteligência Artificial (IA), apontam que mais de 80% da GenZ brasileira já deixou de utilizar algum tipo de aplicativo por preocupação com a privacidade dos dados. Além disso, a mesma pesquisa também aponta que 81% de jovens brasileiros costumam evitar aplicativos que podem “invadir” suas privacidades.
Sendo assim, essa conversa de que a Geração Z – apenas por serem jovens –, não estão atentos a esse ponto é equivocada. Afinal, os dados acima não só refletem o crescente cuidado com a segurança digital, mas também como essa geração, que nasceu conectada, está se tornando mais consciente e crítica sobre como suas informações são tratadas, o que é algo bem importante nos dias de hoje.
A GenZ é considerada cronicamente online e utiliza bastante as redes sociais todos os dias, e justamente por isso, tende a saber sobre os perigos que estão presentes no ambiente virtual. O ponto é que, apesar da internet não ser uma terra sem lei, algumas questões ainda são de difícil resolução para a justiça brasileira, como o roubo de dados pessoais para fins não autorizados previamente.
Além do fato de que esse posicionamento da Geração Z representa um grande alerta vermelho, servindo como um sinal claro para as marcas e para a creator economy de maneira geral: se você não conseguir construir uma relação de confiança com seu público, especialmente os jovens, eles vão embora sem pensar duas vezes e isso pode se tornar um problema sério para a sua empresa.
Recentemente, o movimento “feed zero” ganhou bastante força e repercussão na mídia, após entrevista da correspondente Kim Garcia, gerente de estratégia e pesquisa cultural da Meta. O feed zero acontece quando um perfil é ativo no Instagram, utilizando o app para outras finalidades, mas não possui nenhuma foto publicada. Essa tendência, mapeada pela Meta, constatou que a maioria dos usuários que adotam o formato, fazem parte da Geração Z.
Você deve estar pensando: mas essa não era a geração da hiperexposição? Não necessariamente, e o feed zero só reforça esse ponto, pois não deixa de ser uma estratégia da GenZ para se blindar, adotando uma postura bem mais reservada nas redes sociais, priorizando assim publicações efêmeras, com tempo determinado, como os stories, em que vídeos e fotos desaparecem após 24 horas. Sem contar a ausência de foto do perfil, ou uso de imagens de artistas e animes.
Essa blindagem atua como uma busca maior por privacidade, que tempos atrás não era uma pauta tão grande entre as pessoas dessa faixa etária, que publicavam milhares de fotos e vídeos na internet, no antigo Orkut, por exemplo. Além disso, tal atitude vai ao encontro do desejo da GenZ de não querer ter um histórico que possa ser consultado, evitando pegadas digitais.
Inclusive, cada vez mais perfis possuem contas fechadas e isso pode acontecer por inúmeros motivos, como por exemplo, a preocupação com o próprio emprego. Afinal, se as empresas estão usando como requisito manter uma boa imagem em público, aquele story na balada de madrugada pode não pegar bem para a imagem e estética que deseja ser passada na internet.
E percebemos que as redes sociais não estavam tão cientes dessa movimentação. A prova disso é que o Instagram liberou o recurso de postar até 20 fotos/vídeos de uma vez em um carrossel no feed. Porém, é importante deixar claro que muitas vezes a ausência de fotos e vídeos no feed de maneira “eterna”, está coligado ao fato desses jovens não sentirem que possuem a foto perfeita, o melhor momento, a melhor viagem com os amigos, o melhor prato de comida, etc.
A GenZ sofre com essa questão de se comparar com os outros e ficam receosos sobre a ausência de aprovação imediata que as interações, ou seja, curtidas e comentários, trazem. Recentemente, ouvi de uma gerente de marketing que questionou o seu irmão de 14 anos sobre não fazer posts e ele respondeu: “não faço viagens, nem tenho um trabalho legal como o seu para ter motivo para publicar”. O que exemplifica o ponto.
Neste sentido, é cada vez mais urgente que as marcas comecem a prestar atenção no público consumidor ao seu redor e passem a se adequar aos novos comportamentos que vão surgindo e se transformando com o passar do tempo. Colocar um estereótipo, em uma geração que já nasceu muito conectada, e portanto acostumada e aberta a mudanças, pode não ser uma boa escolha.
Não estou falando para mudarem radicalmente todas as ações da noite para o dia, adotando uma nova postura que fuja dos seus propósitos, mas é necessário ter estratégias que contemplem todos os grupos, os que gostam de postar e aqueles que não fazem publicações, mas utilizam sim o aplicativo quase que diariamente. É o famoso: com qual Geração Z você, marca, quer trabalhar?
Está claro que as empresas que entenderem esse movimento, assim como outros que tendem a surgir, e adotarem práticas transparentes e éticas, têm muito a ganhar com essa geração que valoriza segurança e autenticidade. No fim das contas, a Geração Z não quer só uma boa experiência de usuário, quer ser respeitada em todas as etapas dessa jornada. E superar esses desafios permite estratégias de negócios mais assertivas para os novos consumidores, que vêm com demandas não lineares de comportamento.
Luiz Menezes é fundador da Trope, uma consultoria de geração Z que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócio. Aos 24 anos, Luiz é nativo digital, creator, apresentador, empresário e empreendedor.