Toda geração fala, mas nem sempre é ouvida.
De um lado, jovens cheios de ideias, mas com medo de parecerem frágeis. Do outro, profissionais experientes que carregam uma bagagem valiosa, mas muitas vezes se sentem invisíveis. Entre eles, quem tenta equilibrar tudo ao mesmo tempo: carreira, filhos, pais, metas e identidade. Estamos todos no mesmo cenário, mas não no mesmo ritmo. E talvez seja aí que comece o ruído.
Por trás de reuniões produtivas, entregas pontuais e relatórios bem-feitos, existe um incômodo que não aparece nas planilhas: o desgaste emocional coletivo. Um cansaço que não tem idade, mas que se expressa de formas diferentes em cada geração. Um incômodo que não tem nome nos indicadores, mas que impacta diretamente o engajamento, a criatividade e a retenção de talentos.
O problema não é só de saúde emocional. É de cultura. É de modelo mental. É de estratégia.
Enquanto buscamos novas tecnologias para acelerar resultados, deixamos de ouvir o que as pessoas estão tentando dizer mesmo sem palavras. O colaborador que “desliga a câmera” virou símbolo de uma geração que não se sente segura para participar por completo. O líder que evita conversas difíceis talvez tenha esquecido que escuta também é parte da entrega.
Segundo o estudo da B2Mamy + Kiddle Pass (2024), 9 em cada 10 mães brasileiras estão em estado de exaustão. 63% das mulheres identificam a liderança como uma das principais fontes de sobrecarga. Jovens relatam falta de propósito. Profissionais maduros sentem-se descartáveis. E mesmo com dados assim, ainda tratamos tudo isso como “questões pessoais”.
Mas não são. São sintomas culturais de um modelo que valoriza a entrega, mas desvaloriza o vínculo. Que exige presença constante, mas oferece pouco espaço para simplesmente existir com autonomia e segurança emocional.
A boa notícia? Há caminhos. Empresas que adotam políticas reais de escuta, apoio à parentalidade, incentivo à diversidade etária e liderança empática já observam ganhos não apenas em clima e bem-estar, mas em inovação, retenção e ROI.
O desafio não é técnico – é relacional.
Não se trata de mais uma pauta de RH, mas de uma decisão estratégica: Como queremos que as pessoas se sintam enquanto constroem resultados conosco?
A escuta entre gerações não é romantismo. É inteligência organizacional.
A presença com empatia não é gentileza. É uma nova forma de liderar.
O cuidado não é um custo. É um investimento com retorno garantido – humano e financeiro.
Talvez o que sua equipe mais precise agora não seja de ferramentas de IA. Mas de mais espaço para se reconhecer, pertencer e construir junto.
Esse não é apenas um desafio do futuro do trabalho. É o desafio do agora.
Tati Gracia é referência em comportamento de consumo e marketing de empatia no Brasil. Analista comportamental, gerontóloga e autora do livro “Empatia, Humanização além do Marketing“.