À medida que a Inteligência Artificial evolui, sua capacidade de interpretar e interagir com as emoções humanas redefine o papel da tecnologia na arte, no design e na comunicação. No SXSW 2025, um painel de especialistas explorou como agentes conversacionais, uma inovação de imenso potencial, evoluem para autênticos sistemas de feedback emocional e narrativas geradas por IA. Os agentes autônomos estão ampliando vozes diversas e criando experiências profundamente imersivas.
O debate reuniu Carlos Calva (MidBrain), Timmy Ghiurau (The Point Labs), Mikayla Graham (PwC) e Harry Yeff (Reeps100) para discutir o impacto dessas tecnologias no futuro das interações digitais. Desde histórias moldadas por dados emocionais em tempo real até IAs que reagem e evoluem com os sentimentos do usuário, o debate trouxe uma visão fascinante sobre como podemos construir experiências mais autênticas e emocionalmente conectadas no mundo digital.
Podemos falar em “IA Emocional”?
Há muitas definições sobre Agentes de IA e as diferenças destes sistemas com os “Agentics”. Os Agentics são capazes de “perceber emoções”, e, por isso, são grandes desafios para o design. Estamos falando de personalidades “sintéticas”, que podem emular personalidades reais e se amoldar, de acordo com a interface a diferentes tipos de usuário. A grosso modo, um “Agentic AI”, usando áudio, vídeo, voz, texto, tem habilidades para manter interações fluentes e emocionais com humanos.
Então, sim, é possível falar em “IA Emocional”, não no sentido de sentir emoções por si, como sistemas, mas de transmitir emoções – com destaque para a entonação da voz.
Nesse sentido, Harry Reif, um dos principais especialistas em sistemas de IA e arte a partir da voz, vem explorando a natureza da expressão para educar e estimular “dados a terem voz”, o que incrementa exponencialmente a capacidade de interação de Agentics de IA com seres humanos.
A construção desses sistemas obedece a 3 pilares, baseados na colaboração entre humanos e IAs, na mentoria para educar e desenvolver as LLMs e na oposição para que aprendam o que não seriam emoções positivas em uma interação. A emoção é mais persuasiva que a evidência.
Portanto, o que o painel mostrou foi uma evolução no desenvolvimento dos sistemas que partem do “human centric” para “society centric”, justamente para ampliar o alcance e a fluência das IAs para lidar com a complexidade e a imprevisibilidade das emoções humanas, sem perder de vista, a segurança e a integridade das informações.
IAs precisam de storytelling
Outro elemento essencial na construção das “IAs emocionais”, passa pela construção de uma história que dê sentido à forma pela qual esses sistemas irão lidar com o mundo. Vejam: as pesquisas sobre IA já incluem estipulação e percepção do mundo real. Além de como as emoções impactam a forma com que nós, humanos, aprendemos.
O que nos torna um grande cozinheiro ou um designer talentoso? Quais as perspectivas únicas que construímos do mundo que fazem parte da nossa história? Estamos no ambiente de IAs “Multimodais”, que detém uma personalidade particular, plástica e sintética, mas capazes de colaborar com humanos e motivar a criação de emoções diversificadas nas interações existentes em ambientes como os de games, de lojas ou de filmes, por exemplo.
O nível de pesquisa evolui em uma velocidade acima da compreensão. Imaginem, por exemplo, que as IAs emocionais podem acessar memórias e, até mesmo, ter senso de empatia com nosso momento emocional e demonstrar alteridade (tentar compreender o que sentimos e por que sentimos).
Nesse sentido, esses novos sistemas de IA são fundamentados em um design centrado realmente nas emoções e na maneira com reagimos uns com os outros nas mais diversas situações. Assegurar um comportamento com “calibragem emocional” de uma IA em momentos de interação, traz novas perspectivas (e desafios) para estabelecer conexões autênticas e representativas.
IAs podem ser inspiradoras?
Poderemos criar Agentics de nós mesmos? Seria possível criar entidades que emulem nossa forma de pensar? A rigor, podemos criar, de forma palpável, as vozes da nossa consciência? São questões novas que colocamos no radar e que podem redimensionar a experiência do cliente em níveis inimagináveis.
Com esse avanço, IAs podem substituir e até mesmo criar disrupções nos mercados de autoajuda, coaches e influenciadores, com personalidades marcantes e carismáticas.
Qual seria o nível de autonomia de uma IA com essa, digamos, habilidade? E que uso faríamos de um sistema com essa capacidade? As oportunidades representam desafios mentais e cognitivos para nós, porque, a rigor, é possível criar sistemas com capacidade de “representar” (no sentido artístico, de atuação) personas e personagens que tenham maior aderência com nosso momento e situação.
Trabalhar com essas ferramentas desafia nossos limites e nos coloca diante novos contextos éticos? Os Agentics que exibem “emoções” estão atuando com uma determinada “entonação” e nível de sentido para obter de nós uma resposta esperada e necessária? A rigor, são capazes de influenciar nossos vieses e nos levar a tomar decisões que não necessariamente queremos em um primeiro momento?
Estamos falando de pesquisas em curso, perguntas novas com as quais designers estão sendo confrontados e que exploram territórios desconhecidos. A primeira camada que as empresas enxergaram na adoção das IAs generativas estava ligada à produtividade e à eficiência. Mas, repentinamente, a busca por conexões significativas dos sistemas com pessoas, a serviço das marcas, abriu um mundo de perspectivas.
Qual o papel dos nossos sentidos em um mundo no qual há sugestão calculada, estimulada por sistemas com personalidades convincentes e com extrema capacidade de persuasão?
É um processo que talvez possa entrar em curto-circuito e nem de longe alcançará tamanho poder. IAs são um produto do design humano e podem ser modeladas de acordo com nossas expectativas e curiosidades. Mas queremos, queremos muito, ver sistemas transpirando emoções e revelando fragilidades que possam nos fazer sentir humanos. E isso pode nos reconectar justamente com o que temos de melhor: nossas emoções e nossa capacidade de desprogramar a realidade para recriar sociedades, mercados, empresas e nós mesmos.