Hoje, vemos um excesso de anúncios estampados nos mais diferentes veículos, tanto que assinaturas de streaming que, inicialmente, prometiam um ambiente com zero propagandas agora já incluem com alguns anúncios durante a experiência do usuário.
Mas até que ponto esse modelo é sustentável e faz sentido para a jornada do consumidor? Seria o futuro do marketing sem marcas? Quais são as próximas tendências para o futuro e como as empresas poderão se destacar nesse cenário?
Bruno Peres, consultor, professor e coordenador dos cursos de marketing digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), explica.
Uma ideia do que será o futuro do marketing
Os anúncios são uma das formas mais antigas de se promover produtos ou serviços e sua derrocada não será de um dia para o outro. Método bem estabelecido na indústria, atualmente não se tem informações ou pesquisas científicas de que o cenário está prestes a apresentar uma transformação 360.
O que se tem atualmente, para Bruno Peres, é a contextualização da propaganda, que cada vez mais não é feita de forma massiva, mas segmentada. “Isso até aumenta a eficiência dela e diminui qualquer ruído. O ruído, quando acontece, é causado por um erro de público-alvo. Quando uma publicidade é assertiva, esse incômodo não existe”, detalha.
Um exemplo bem claro e recente desse fenômeno foi a divulgação da série “Senna”, da Netflix, no metrô de São Paulo, no túnel que faz a baldeação de passageiros das linhas Verde e Amarela. O problema é que a ação de marketing não saiu como o esperado e resultou em um grande tumulto no local, fazendo com que muitos confundissem a emulação dos sons de um autódromo com um tiroteio ou alerta de segurança para evacuação imediata.
A situação saiu tanto de controle que houve correria, tumulto e uma das pessoas que passava pelo local acabou pisoteada e precisou ser encaminhada às pressas para atendimento médico. Com faixas coloridas, sons de carros e luzes vermelhas, amarelas e verdes, o ambiente chamou a atenção de todos, mas a moça se assustou ao gritarem que era para evacuarem o local imediatamente.
No caso das plataformas de streaming, essa é uma estratégia, que se bem feita, vem para somar, e não diminuir: afinal, a publicidade tradicional ainda funciona.
“Outros exemplos são a criação de comunidades, participação em eventos, patrocínios, redes sociais digitais e influencers. Essas são outras formas de as marcas serem lembradas, não se restringindo apenas aos anúncios em websites ou televisão. Dessa forma, os profissionais de marketing têm explorado outros canais que continuam existindo ou se intensificaram com o avanço da internet”, afirma Bruno Peres.
Criar conexão é a chave
Já quando o assunto é o impacto de anúncios integrados na experiência do usuário em plataformas digitais, Bruno Peres acredita que seja a segmentação.
“Sempre que temos anúncios segmentados, ou seja, baseados em comportamento, há menos ruído e o impacto é bem menor. Cada vez mais que a publicidade for integrada com a utilização de uma plataforma, menor é a reação negativa do usuário em relação àquela publicidade”, comenta.
“Então, fazer com que a propaganda faça parte do conteúdo com publis de influenciadores tem crescido muito. É uma parte importante e as empresas vêm criando aplicativos para as próprias marcas, porque você acaba fazendo uma comunicação da sua marca sem, de fato, comunicar. Você produz conteúdo, gera autoridade e entrega algo”, completa o especialista.
Além disso, em um cenário com menos presença explícita de marcas, as empresas podem se diferenciar e criar conexão emocional com seus públicos produzindo conteúdo e eventos.
“Temos cada vez mais a criação de comunidades. Ao invés de manter a propaganda explícita, como outdoor e banner, nós caminhamos rumo a uma forma de divulgação que possa gerar mais engajamento, principalmente jogos e promoções de eventos. Tudo que é meio de funil gera engajamento”, explica.
Inovação estará em pauta daqui para frente
O futuro do marketing ainda é incerto, dado o volume de tendências criado quase que diariamente por meio das redes sociais digitais. Contudo, o profissional arrisca dizer que a relação marketing x sustentabilidade ainda tem um longo caminho para percorrer tendo em vista os anúncios massivos.
“Os anúncios estarão cada vez mais integrados com o seu dia a dia, através do seu relógio, óculos e carro. A inovação será através do Metamarketing, que é o Marketing 6.0”, revela. O conceito é explorado pelo nome mais importante do marketing mundial, o americano Philip Kotler, em um livro com o mesmo nome lançado esse ano dos Estados Unidos, mas ainda inédito no Brasil.
“A sustentabilidade ainda é uma longa discussão e, no marketing, as práticas são muito superficiais. A Inteligência Artificial tem um grande consumo de energia e isso não está em pauta. Desta forma, ainda não se vê um futuro breve sobre isso, embora algumas empresas tentem falar, mas as conversas ainda são muito rasas e o modelo de anúncios é segmentado e assertivo, mas ele vai aumentar”, descreve Bruno Peres.
Para finalizar, o especialista reforça que o mercado de anúncios não está em declínio, uma vez que somos impactados por produtos o tempo todo por influenciadores digitais em ascensão e anúncios segmentados.
“Eles estão presentes em diferentes pontos da sua rota do dia a dia, no seu celular, no jogo que você joga, no seu relógio e em vários pontos específicos. E mesmo assim, não há uma redução nessa tendência ou a sensação de incômodo por parte do usuário”, acrescenta.