Todo cartão de crédito funciona como uma forma de empréstimo pré-aprovado. O nome desse empréstimo é crédito rotativo, e está disponível para todos os titulares. Trata-se de um dos tipos de empréstimo mais caros do mercado. Portanto, pode se tornar uma dívida difícil de pagar quando não utilizado adequadamente.
Em suma, o crédito rotativo do cartão de crédito é usado por indivíduos que não conseguem quitar o valor total da fatura até a data de vencimento.
No dia 27 de maio, os juros cobrados pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo estavam na casa de 425% ao ano, em março. No mês anterior, esse índice era de 422% ao ano. A informação é do Banco Central, que garante: esse é o maior nível desde dezembro do ano passado, quando a taxa atingiu 442% ao ano.
O aumento de 2,2 pontos percentuais em abril ocorreu mesmo com a imposição, desde janeiro deste ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de limite para o valor total da dívida dos clientes no cartão de crédito rotativo. Em outras palavras, o débito não pode ultrapassar 100% do valor original da dívida.
Especialistas em finanças garantem: o rotativo do cartão deve ser evitado. Desse modo, é aconselhável que os clientes bancários quitem integralmente o valor da fatura mensal.
Quando o rotativo do crédito é acionado?
Assim que uma pessoa paga menos do que o valor total da fatura ou apenas o valor mínimo, a diferença é somada ao montante da próxima fatura, sobre o qual incidirão os juros. Esses juros do crédito rotativo estão entre os mais elevados do mercado, podendo chegar a mais de 1.089,37% ao ano, conforme dados do Banco Central.
No Brasil, existem dois tipos de crédito rotativo. São eles, em primeiro lugar, o regular; e, em segundo lugar, o não regular.
No caso do crédito rotativo regular, o cliente paga, no mínimo, o valor estabelecido como mínimo na fatura pela instituição financeira do cartão de crédito. Nesse meio tempo, a diferença entre o valor pago e o total será acrescida à fatura subsequente, com acréscimo de juros.
O crédito rotativo não regular é acionado quando o cliente não paga nem mesmo o valor mínimo da fatura. Em síntese, as taxas de juros são ainda mais elevadas em comparação ao crédito rotativo regular.
Lei de limite ao crédito
Assim como no Brasil, em outros países, conforme um titular de cartão de crédito não quita o valor total da fatura no vencimento, o saldo remanescente é transferido para o mês seguinte. É óbvio que a incidência de juros é também mais alta do que outras formas de crédito pessoal.
A diferença é que, mesmo com a imposição de um limite no Brasil – Lei nº 14.690/2023, que limita a dívida ao dobro do montante inicial, ou seja, 100% –, o Brasil continua cobrando a maior taxa de juros rotativos do mundo.
A Zetta, a associação de empresas tecnológicas que oferecem serviços financeiros digitais, vê como um avanço significativo a nova maneira de divulgar os juros do crédito rotativo de cartão. De fato, para a entidade, a legislação aumenta a transparência das taxas realmente aplicadas nessa categoria. “Analogamente, isso reflete os impactos positivos da nova regulação para combater o chamado ‘efeito bola de neve’ dos juros no cartão”.
Ao apresentar a porcentagem da dívida original cobrada em juros a cada mês, a nova classificação se torna mais representativa da realidade, mostrando de forma clara o valor dos encargos pagos pelos clientes que entram no crédito rotativo do cartão. Ademais, a evolução histórica da classificação demonstrará, na prática, a implementação da nova regra para o crédito rotativo do cartão de crédito.
A Zetta prioriza a transparência e a educação financeira como pilares essenciais para uma inclusão financeira saudável.
O crédito no Reino Unido
No Reino Unido, por exemplo, a taxa média de juros do cartão de crédito é de 22,2% ao ano, variando conforme o tipo de cartão e a pontuação de crédito, classificadas como “boas” ou “ruins”. Foi por lá, inclusive, que surgiu o conceito de dívida persistente, que ocorre quando, ao longo de 18 meses, o consumidor paga mais juros do que o valor da dívida. Isso acontece quando o cliente paga apenas o mínimo da fatura consecutivamente. Nesse caso, o banco emissor do cartão deve entrar em contato com o cliente e oferecer alternativas de crédito, com juros mais baixos. Isso tem reduzido a quantidade de pessoas endividadas e a inadimplência.
Em setembro de 2018, a Autoridade de Conduta Financeira (FCA) estabeleceu no Reino Unido que credores devem contatar os clientes nessa situação. As regras inicialmente se aplicavam somente a cartões de crédito, mas foram estendidas também a cartões de lojas.
Cartão de crédito nos EUA
Já nos Estados Unidos, a média da taxa de juros anual do cartão de crédito é de 24,37%. Esse é o índice mais elevado desde 2019. As taxas máximas atingem 27%, com um limite estabelecido de 29,99%, semelhante ao da Venezuela. Por lá, os consumidores escolhem cartões de crédito com base nos benefícios oferecidos, na anuidade e nas taxas de juros.
Outra curiosidade é que nos EUA, o crédito começa a contar a partir da data da compra, acarretando em juros imediatos. Já no Brasil, os titulares dos cartões têm até um mês e uma semana para efetuar o pagamento da fatura sem incorrer em juros.
Nos Estados Unidos, a taxa de juros média anual do cartão de crédito é de 24,37%, a mais alta desde 2019. As taxas máximas chegam a 27%, com um limite estabelecido de 29,99.
Parcelamento sem juros
Os consumidores americanos utilizam mais cartões com programas de bonificação emitidos em lojas. No Brasil, os consumidores têm que se relacionar com bancos para terem cartões de crédito. Isso proporciona aos americanos um aumento no poder de compra baseado no crédito ao consumidor e em taxas de juros mais baixas.
Nos EUA, não existe a opção de parcelar sem juros. O valor do produto já tem embutido o custo dessa operação. Em países como Austrália e Peru, o parcelamento oferecido pelo lojista, como no Brasil, não existe.
Na Espanha, os juros do cartão rotativo variam entre 20% e 30% sem um limite. Algum tempo atrás, o Supremo Tribunal de Espanha considerou essas taxas excessivas, levando a ações judiciais de consumidores em busca de reembolso.
Pix e cartão de crédito
Nos últimos anos, a digitalização da economia tem transformado profundamente a forma como as pessoas realizam transações financeiras. O Pix é a tecnologia mais impactantes nesse cenário, uma vez que ele revolucionou a maneira como transferências de dinheiro são feitas, tornando-as instantâneas e disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. No entanto, mesmo com a crescente popularidade e agilidade do Pix, o uso dos cartões continua a prosperar. Isso se deve a uma série de fatores que tornam os cartões uma opção atrativa e conveniente para muitos consumidores.
Segundo dados da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), os pagamentos com cartões somaram R$ 965 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o que significa um crescimento de 11,4% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Entre os meses janeiro de março de 2024, o Brasil contabilizou 10,8 bilhões de transações com cartões de crédito. Esse foi um crescimento recorde histórico de 11,3% na comparação com o período homólogo. Por consequência, em média, são 120 milhões de transações por dia.
Crédito nas empresas
O uso constante do cartão de crédito é irrefutável. Vale aqui comentar o fato que as pessoas mais imediatistas enxergam essa modalidade como mais rápida, principalmente no consumo presencial. Sem contar o fato que o crédito é a opção mais oferecida pelos negócios de todos os portes e segmentos. Pesquisa conduzida pela SumUp, empresa global de tecnologia e soluções financeiras, revelou que 97% dos empreendedores concordam – total ou parcialmente – que oferecer diversas opções de pagamento, incluindo cartões de crédito, impulsiona as vendas de seus negócios.
Apesar disso, de acordo com os resultados da pesquisa, o cartão de crédito é o método de pagamento mais prevalente entre esses empreendimentos, com 39% dos entrevistados indicando que é a preferência de seus clientes. O Pix está empatado. A modalidade é manifestada por 38% dos participantes como uma forma de pagamento comum. Somente 7% dos empreendedores veem o dinheiro em espécie como a opção mais usual.
Crescimento do Pix
O Pix surgiu como uma das modalidades de pagamento mais ágeis no cenário financeiro. Esse sistema de pagamento instantâneo, lançado pelo Banco Central em novembro de 2020, conquistou rapidamente a confiança e a adoção de uma ampla gama de negócios em todo o país, impulsionando um crescimento significativo em sua utilização.
Uma das causas por trás da sua alavancagem é a sua agilidade e conveniência. Ao permitir que transferências de valores sejam feitas instantaneamente, a qualquer momento, o Pix supre a barreira da restrição do horário bancário. Ademais, elimina atrasos associados às transações tradicionais.
Em resumo, empresas ganham em eficiência operacional. Afinal, agora podem receber pagamentos e liquidar transações de forma instantânea, reduzindo a necessidade de gerenciamento de fluxo de caixa e melhorando o capital de giro.
Experiência do cliente
Para Alexandro de Araujo, CEO da TNS Latam, que tem o objetivo de facilitar a relação entre mercado e empresas, apesar do crescimento indiscutível do Pix, é fundamental pensar na experiência do cliente antes de avançar ainda mais. “Os números comprovam o crescimento do Pix. Logo, o mercado de crédito e débito se tornam, consequentemente, ameaçados. Entretanto, ainda não vislumbramos tanto essa ameaça se tornando real, porque não houve, pelo menos até esse momento, uma grande substituição de um meio de pagamento para o outro. Além disso, ainda é necessário aprimorar a experiência de consumo com um todo, tanto para o comprador (PDV) quanto para o vendedor, por isso a preocupação com a automação“, explica.
Ele detalha que, com as novas funcionalidades do Pix (como o Pix automático), que estarão disponíveis no fim de 2024, o impacto deve ser mais intenso. “Então, os desafios para o mercado de cartões será continuar aprimorando a experiência de compra enquanto tenta não perder o protagonismo frente a novas funcionalidades do Pix”..
O que torna o crédito ainda frequente?
Primeiramente, os cartões de crédito oferecem uma ampla gama de benefícios e vantagens, como programas de recompensas, seguro de compra, proteção contra fraudes e a possibilidade de parcelamento de compras. Esses incentivos não apenas atraem os consumidores, como também incentivam seu uso frequente. Além disso, os cartões de crédito são amplamente aceitos, em estabelecimentos físicos e online, ao redor do mundo.
Outro aspecto importante é a questão da segurança. Os cartões de crédito geralmente vêm com recursos avançados de segurança. Em suma, ele vem com a tecnologia de chip e PIN, autenticação biométrica e monitoramento de atividades suspeitas em tempo real. Em resumo, isso concede aos usuários a sensação de se sentir seguro ao realizar transações. Primordialmente, isso é crucial em um ambiente digital onde as preocupações com fraudes e roubo de dados são constantes.
Outro ponto crucial é o período de crédito rotativo. E assim os consumidores brasileiros se sentem à vontade de adiar o pagamento de suas compras, situação que pode ser útil em situações de emergência ou para gerenciar melhor o fluxo de caixa pessoal.
Atenção do consumidor
Diante da ascensão do Pix, surge a inevitável reflexão sobre o futuro dos meios de pagamento. Será que os cartões de crédito continuarão a ocupar um lugar de destaque?
A análise dos dados revela que o Pix conquistará uma fatia considerável do mercado de pagamentos até 2026. Entretanto, embora o PIX tenha revolucionado a economia, os cartões de crédito continuam a desempenhar um papel significativo. Em suma, sua perpetuação se dá por causa da conveniência, segurança e benefícios adicionais. Por fim, o cartão de crédito está se adaptando à era digital, mantendo-se preferencial para muitos consumidores em todo o mundo.
CCX
No dia 6 de agosto, o Credit and Collection Experience (CCX) reunirá especialistas, lideranças e empresários. A ideia é propor soluções para os desafios da jornada dos consumidores brasileiros no acesso ao crédito e na resolução de dívidas.
Diante de transformações no setor, motivadas por tecnologias recentes como a Inteligência Artificial generativa, Big Data e Machine Learning, chega o momento de aprofundar conhecimentos para construir a sustentabilidade financeira e econômica do país.
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