Las Vegas (EUA) – Ao contrário do que se imagina, o mercado norte-americano sofre com a exclusão financeira tanto quanto países emergentes. E, por isso, é terreno fértil para startups de serviços financeiros. Algumas delas provam que atuar com o público que está fora do mercado financeiro tradicional não é assistência social, mas um bom negócio. Duas delas estiveram no primeiro dia do Money 20/20, maior evento de tecnologia e inovação de meios de pagamento e sistema financeiro do mundo, que acontece nesta semana em Las Vegas (EUA).
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Em uma conversa descontraída, puxada por Kathleen Utecht, managing partner do Core Innovation Capital, Raul Vazquez, CEO da Oportun, e Doug Ricket, fundador e CEO da PayJoy, o foco foi como é atuar no mercado de negócios de impacto – aquele setor cujas empresas ajudam a resolver um problema que já existe e, ao mesmo tempo, ganham dinheiro com isso.
No caso de Vazquez, muito dinheiro. É que a Oportun atua em um mercado carente nos Estados Unidos. Ele concede crédito para quem não tem pontuação de crédito suficiente no mercado tradicional, principalmente para o público latino. De origem latina, Vazquez via de perto, entre seus amigos e parentes, essa carência. Assim, ele entrou no negócio em 2012. “Foi um risco, porque você fica pensando em toda a sua carreira até ali, mas queria fazer algo diferente”, conta o executivo, que construiu sua trajetória profissional em empresas como Walmart, onde chegou a ser presidente do Walmart West. Ele também teve sólidas passagens na Staples. De 2006, quando foi criada, até aqui, a Oportun concedeu mais de US$ 2,2 bilhões em crédito para mais de 690 mil consumidores.
No mesmo sentido, Ricket está em um mercado emergente potencial. Depois de uma experiência pessoal na África do Sul, o empreendedor criou a PayJoy. No país africano, onde fazia um trabalho voluntário, ele viu um amigo ter a perna amputada e só conseguiu ter condições de ter uma perna mecânica com a ajuda da comunidade, que conseguiu, por meio de um único celular, juntar dinheiro para o tratamento. Ali, Ricket viu quantas vidas podem ser mudadas somente por conta de um aparelho.
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Assim, ele desenvolveu em 2009 a tecnologia pay-as-you-go, que basicamente financia smartphone para quem não tem um – e mesmo para pessoas sem histórico de crédito ou conta bancária. Funciona assim: o consumidor se registra na plataforma do PayJoy em uma loja local parceira. Esse registro pode ser pela conta do Facebook ou pela identidade. A plataforma aprova o crédito, o consumidor escolhe o plano que for mais flexível em termos de pagamento e as taxas são bem abaixo do mercado. O lojista, por sua vez, instala o software da PayJoy e assim que as parcelas são pagas integralmente, o telefone é desbloqueado. O sistema funciona como se fosse nosso carnê.
Embora atuem em mercados potenciais, os empreendedores têm desafios, como se manter sustentável em um mercado cujo público é emergente. “É preciso ter foco para construir uma empresa sustentável financeiramente”, afirma Vazquez. “Claro que acreditamos na missão, mas é preciso ser sustentável e ganhar escala”, completa Ricket. No caso da PayJoy, Ricket ainda tem de enfrentar fraudes tanto do lado do lojista, como do próprio consumidor que tem acesso. “Esse é nosso principal desafio”, diz.
“Essa foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha carreira”, conta Vazquez. Para lidar com negócios de impacto, como a Oportun, o empreendedor acredita que é preciso se importar com as pessoas. “Porque no final, eles precisam recomendar seus negócios às pessoas”, afirma. Para o empreendedor, o que move a empresa todos os dias é uma palavra: compaixão. “Parece esquisito falar sobre isso em negócios, mas a gente fala muito sobre compaixão, porque é se colocar no lugar do outro e entender a importância desse acesso para o nosso público”, diz.