As healthtechs estão cada vez mais segmentadas para oferecer inovação ao consumidor e a aposta de destaque para o próximo ano são as femtechs, voltadas para a saúde e o bem-estar da mulher. Atualmente, das 900 healthtechs mapeadas pela empresa de inovação Distrito, apenas 23 estão focadas no público feminino, mas a estimativa é que essas empresas possam movimentar até US$ 50 bilhões nos próximos cinco anos, segundo o Inside Heathtech Report.
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Mais do que uma simples segmentação de público, as femtechs promovem uma maior liderança feminina no mercado de startups e o mais importante: prometem ouvir as dores das mulheres e entregar soluções, melhorando a experiência das clientes com serviços e produtos de saúde e bem-estar.
Avanço das femtechs: consumidoras sendo mais ouvidas
Apesar da expectativa de crescimento, o investimento em femtechs ainda é mínimo. Outro relatório do Distrito, o Female Founders Report 2021, aponta que apenas 0,04% do total de investimentos feitos em startups brasileiras em 2020 foram para empresas fundadas exclusivamente para mulheres.
“O número de femtechs ainda é muito baixo, assim como o investimento. Existe muito espaço a ser explorado, estamos ganhando força e avançando, mas sinto ainda um grande receio dos investidores”, afirma Marina Ratton, CEO e idealizadora da Feel, femtech pioneira no Brasil no desenvolvimento de produtos naturais e veganos voltados ao segmento de sexual wellness. Para ela, a falta de investimentos está ligada à homofilia, ou seja, os investidores, em sua maioria homens, decidem geralmente por apostar em empresas com lideranças masculinas.
A realidade vem mudando aos poucos, mas são as próprias mulheres as responsáveis por isso. Neste ano, a Feel recebeu sua primeira rodada de investimentos, sendo que 84% deles vieram de investidoras-anjo. Ou seja: femtechs são a nova aposta de empresas fundadas por mulheres, que desenvolvem soluções para o público feminino e recebem apoio de quem conhece a realidade desse segmento e entende a importância da existência desse tipo de empresa.
Experiência da cliente é o foco
Em um ambiente ocupado por centenas de healthtechs, as femtechs ainda podem conquistar público porque as mulheres têm demandas e poder de compra, mas poucas soluções lhe são ofertadas, especialmente quando o assunto é intimidade. “A Feel é uma plataforma de pesquisa. Queremos explorar gaps que a indústria não está explorando. É uma femtech que desenvolve produtos cocriados com as clientes”, destaca a CEO da Feel.
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A startup foi criada quando Marina Ratton percebeu que havia oportunidades no segmento de saúde feminina, mas pouca inovação. Além disso, a maioria dos produtos não é desenvolvida pensando em customer centric. “Para criar a Feel, parti de pesquisas sobre intimidade feminina e sobre as experiências das consumidoras. Mapeamos que 64% delas estavam insatisfeitas com as jornadas de compra e com os produtos oferecidos. Um exemplo: muitas mulheres têm ressecamento vaginal, mas pouco se fala sobre isso. Então, ou elas tentam ‘se acostumar’ a isso ou buscam produtos na gôndola masculina da farmácia, o que é uma falha na jornada, pois as mulheres precisam e usam lubrificantes”, explica a CEO da Feel.
Atualmente, a Feel oferece dois produtos naturais e veganos (lubrificante íntimo e óleo hidratante) e a intenção é ampliar o catálogo em breve.
Para oferecer produtos e serviços de saúde pensando na experiência das mulheres, ouvi-las é fundamental. Assim, diferentemente das indústrias que criam produtos e geram necessidades, as femtechs observam as demandas e inovam para transformar o dia a dia das consumidoras.
Segundo Marina Ratton, para uma boa experiência, é necessário que o produto tenha ingredientes adequados para o organismo feminino, além de uma estética pensada em funcionalidade. “O design faz a diferença. Um produto bonito, no local certo das lojas, vai causar menos desconforto na compra. É preciso pensar inclusive em como ele será usado – nosso lubrificante, por exemplo, possui frasco pump, que libera a quantidade adequada”.
O sentir na pele que traz soluções
É comum femtechs surgirem das próprias dores das fundadoras. É o caso da Fertilid, primeira femtech de autoexame de fertilidade do Brasil. A criadora, Amanda Sadi, descobriu em exames de rotina problemas graves, capazes de levar à infertilidade, aos 30 anos de idade. A notícia a pegou de surpresa, já que não esperava ter que se preocupar com esse assunto tão cedo. Foi por causa dessa experiência que surgiu a Fertilid, uma plataforma educacional sobre saúde reprodutiva.
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O objetivo da femtech é que pessoas com ovários assumam o controle de sua própria fertilidade, por meio do monitoramento dos hormônios femininos. A partir disso, é preciso evitar surpresas como a de Amanda Sadi ao descobrir um teratoma de ovário, endometriose e reserva ovariana baixa. Enquanto as soluções disponíveis pretendem resolver a infertilidade, a Fertilid tem o intuito de fornecer informações sobre a reserva ovariana a fim de que a pessoa usuária tenha poder de decisão e consciência sobre sua fertilidade.
Todo o processo é feito de casa, através do site da Fertilid, onde a usuária pede o kit de exame que será entregue em domicílio e enviado com a amostra para o laboratório analisar os valores hormonais. O resultado é interpretado por especialistas, disponibilizado na plataforma e a cliente pode ainda marcar uma consulta online para tirar as dúvidas. O serviço da femtech foi pensado para oferecer informação e conexão com o próprio corpo, com privacidade e praticidade.
Impacto positivo e verdadeiro das femtechs
Se comparadas com outros segmentos, as femtechs ainda têm uma pequena fatia no mercado de tecnologia para a saúde, mas já é possível encontrar startups para diferentes interesses e, o mais importante: capazes de provocar impacto positivo na vida das pessoas.
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A Gestar, por exemplo, é uma femtech que conecta profissionais de saúde materno-infantil humanizados a gestantes, mães e pais com o objetivo de transformar o cenário obstétrico por meio de tecnologia. Assim como Amanda Sadi, a fundadora da Gestar, Lettycia Vidal, teve a ideia a partir da própria vivência, ao perceber que a mãe havia sofrido violência obstétrica, e quis levar conteúdo sobre o assunto a outras pessoas, de forma a promover melhores experiências.
Assim como as empreendedoras, a nova consumidora passou a compreender melhor suas dores e procurar por produtos e serviços que melhorem sua qualidade de vida. As femtechs chegaram para solucionar essas dores, investigando a jornada da cliente e cocriando produtos e serviços. Para Marina Ratton, as mulheres ainda precisam provar para os investidores de que são capazes de fazer a diferença, mas o interesse nas femtechs já foi demonstrado e o crescimento expressivo dessas empresas durante a pandemia serviu como atrativo para esses olhares. “A liderança feminina é bem-vista pelas consumidoras, que têm olhar crítico”, salienta sobre a parte mais importante no desenvolvimento dessas empresas.
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