Enquanto o mantra da revolução industrial era fazer mais com menos através das máquinas, as sucessivas revoluções tecnológicas vêm apontando cada vez mais para um futuro de integração entre ciência, tecnologia e produção. Afinal de contas, o que produz mais valor hoje em dia, trabalhar mais ou trabalhar melhor?
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Na era das expectativas
Para tentar entender esse paradigma sobre a incorporação da eficiência e da produtividade à cultura corporativa no varejo, a edição de novembro do Ciclo de Encontros NOVAREJO reuniu executivos de diversos segmentos do setor. O encontro foi mediado por Jacques Meir, diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão, e Cauê Oliveira, diretor de Educação Corporativa do Great Place to Work Brasil, instituto de pesquisa parceiro da NOVAREJO no estudo Melhores Empresas Para Trabalhar GPTW NOVAREJO.
De acordo com Meir, a crise tem um lado muito positivo: ?ela educa no sentido de desmascarar as ineficiências?. ?Como fazer mais com menos sem confrontar uma cultura corporativa e sem criar no colaborador a noção de que ele é descartável a qualquer momento, e não faz parte de um projeto maior??, provocou Meir na abertura do debate realizado na manhã desta quarta-feira (25).
Segundo Cauê Oliveira do GPTW, poucas vezes os novos líderes são questionados se querem liderar pessoas. ?Você nasce líder ou se desenvolve como tal? Peter Drucker, o pai da administração moderna, fez uma boa pergunta: você quer ou não ser líder??, argumentou o executivo. ?O que se espera é que ele cuide de pessoas, e poucas vezes o colaborador promovido sabe disso. Cuidar de pessoas envolve contratar com foco na cultura, ou seja, atrair pessoas que dividem os mesmos valores e filosofias?, sugeriu Oliveira.
?Acreditamos que ouvir as pessoas, entender sua percepção, e a partir disso transformar o dia a dia delas, trabalhando fortemente a liderança, é o caminho para o engajamento, a criatividade, e o aproveitamento das oportunidades que a crise nos dá?, acrescentou Eduardo Marcondes, consultor do Great Place To Work.
Para Luis Moura, diretor de Operações na América Latina e Caribe da Kronos, a análise de eficiência e retroalimentação de processos pode impactar diretamente a produtividade no varejo. ?Mais de 100 varejistas no mundo utilizam ferramentas para automatizar e permitir que os executivos tenham uma visão mais presente e on-line sobre a força de trabalho. A decisão pode representar cerca de 30-40% do custo operacional do varejo?, explica.
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Na pauta do varejo
?Produtividade é a palavra do momento para o varejo?, afirmou o diretor de Serviços aos Clientes e Recursos Humanos da C&C Casa e Construção, Jorge Jubilato. ?Até dois anos atrás os resultados sobrepunham qualquer eficiência. Agora com a crise é o momento de olhar para dentro, analisar processos e rever procedimentos. Muitas oportunidades acabaram sendo negligenciadas no momento de pico”, disse.
Responsável pela área de desenvolvimento de gestores e equipes de lojas Cia. Hering, Mônica Melo defende que as empresas têm feito um trabalho importante de dar energia para alguns processos, embora o esforço seja difícil de ser traduzido na linha de frente. ?Percebemos que fazer com que as pessoas queiram desempenhar um processo diferente tem um impacto expressivo em nossas ações. Não necessariamente aquilo que diretores e investidores discutem e acreditam ser importante faz sentido para replicar aos colaboradores lá na ponta?, explicou Mônica.
Com três pontos de venda e 40 funcionários, Roberta Suplicy, fundadora da Urban Remedy, revelou que as barreiras enfrentadas pelas pequenas e médias empresas não são menores neste sentido. ?Faz três meses que estou premiando funcionários de destaque e o premiado vai muito bem até a semana seguinte, depois volta para o patamar regular. Muitas vezes a premiação motiva um funcionário e desmotiva outros que não ganharam reconhecimento?, relatou a empreendedora.
Assumindo que ?quem é bom já está empregado?, o grupo à frente de marcas como Forum, Triton e Tufi Duek acredita que é possível transformar a nova geração de colaboradores em bons profissionais. ?Vendas envolvem muita emoção, pois você não precisa de uma camisa para viver. Portanto, motivamos a linha de frente diariamente?, garante Wellington Oliveira, supervisor de varejo do Grupo AMC Têxtil.
De acordo com Daniella de Oliveira, gerente de Recursos Humanos da Pizza Hut, a produtividade é um dos grandes desafios do varejo, entretanto não é o maior ou único. ?Em período de crise as pessoas comem menos fora de casa e a Pizza Hut ainda é visto como uma opção um pouco cara?, disse a executiva. ?Nosso negócio está nas pessoas que atendem o cliente nos restaurantes: se eles não estiverem motivados, não quiserem vender mais, nosso faturamento não vai crescer.?
Por outro lado, é preciso gerar conhecimento também, segundo João Batista Ferreira Service Thinker e Head of Institutional Relations da Escola de Inovação em Serviços (Eise). ?Temos que refletir e pensar em informações que transcendem o dia a dia, ou seja, ciência. Isso implica dificuldade na definição de modelos de trabalho. Porque quando tudo aquilo que você coloca na vitrine vende, não tem problema. Agora quando há uma ?dor de barriga? na sociedade essa condição exige uma reflexão?, conclui o especialista.
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