Durante o período mais grave da pandemia, as discussões sobre quais aprendizados teríamos como sociedade e quão benéficos seriam para o pós eram constantes. A preocupação com o bem-estar, tanto físico quanto mental, refletiu-se nas reformas e cuidados com a casa, que cresceram vertiginosamente no período. As vacinas chegaram, os números da Covid-19 diminuíram e estamos chegando ao tão falado pós-pandemia. Então eu pergunto: e o que mudou realmente?
Durante a fase de isolamento social, a população reconheceu a importância de investir no conforto dos lares e na manutenção da saúde das edificações. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto) da construção cresceu 9,7% em 2021, após registrar uma queda de 6,3% em 2020. Foi o melhor desempenho no setor desde 2010.
Mas essa preocupação com a qualidade de nossas casas permanece a mesma? Em julho de 2020, o Termômetro da Anamaco (estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Anamaco em parceria com a FGV- IBRE com lojas varejistas de material de construção) mostrava o claro reflexo do maior tempo em casa em razão da quarentena e do home office, no qual as famílias em geral promoveram consertos, manutenções e reformas.
O indicador sobre o aumento das vendas nos últimos três meses passou de 42% em junho para 54% em julho. Já no mesmo período de 2022 o crescimento nas vendas dos varejistas entrevistados em julho foi de 29% contra 23% no mês anterior. Os registros de queda foram de 26% em julho e de 22% em junho.
Os estudos da ABRAMAT também confirmam essa tendência. Em abril, o faturamento das indústrias de materiais de construção apontou 0,8% de queda em comparação com o mês anterior. Os quatro primeiros meses desse ano tiveram queda de 9,3% na comparação com o mesmo período de 2021 e retração de 8,5% na comparação com o mesmo mês de 2021. A demanda por materiais na obra do setor imobiliário diminui, pois além da inflação e alta de juros, com a volta das demais atividades, os consumidores direcionam os gastos para fins que tiveram fortes restrições na pandemia, como eventos, passeios e viagens.
Pandemia e problemas de insalubridade no Brasil
Porém, é fundamental lembrar que os problemas de insalubridade continuam. 85% dos contratempos nas construções do país são causados por umidade e aproximadamente 80% dos imóveis brasileiros sofrem com esse problema, segundo o IBI (Instituto Brasileiro de Impermeabilização). Existem mais de 16 milhões de casas em situações precárias no país. São 20,6 milhões de domicílios sem rede de esgoto, 6 milhões de casas sem coleta de lixo e 2 milhões sem água encanada, segundo a ONG Habitat para a Humanidade Brasil e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). A presença constante mofo, umidade e bolor tem impacto direto em nossa saúde, podendo piorar gravemente os casos de doenças respiratórias.
A australiana Amie Skilton teve um caso tristemente emblemático: ao conviver com mofo sem saber por meses, ficou com sintomas físicos graves e foi diagnosticada como se tivesse a doença de Alzheimer. Embora casos como este sejam apenas parte dos 25% da população mundial que tem vulnerabilidade genética às toxinas do mofo, o convívio em locais afetados pela umidade pode ocasionar ou agravar asma e rinite em qualquer pessoa, principalmente crianças e idosos, que representam alto índice de mortalidade por doenças respiratórias. No Brasil, 20 milhões sofrem com asma, a doença é responsável pela 4ª causa de internações hospitalares no SUS (Sistema Único de Saúde). São mais de 30 milhões de brasileiros que sofrem com sinusite.
Somam-se a isso os impactos no desempenho profissional, como baixa produtividade, cansaço repentino, problemas de atenção, perdas de memória e resultados abaixo do esperado. O assunto é sério, mas parece que os lapsos de memória já estão se espalhando. Que tal olharmos com atenção para o ambiente em que vivemos, investir na prevenção e evitar sermos lembrados do que deveria ter sido feito no pior momento? A hora de refletirmos e mudarmos para que outra tragédia global não aconteça é agora.
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