Segundo a ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétricos), o momento é de otimismo para o mercado de eletromobilidade no Brasil. Ela registrou um aumento de 43% na venda de carros elétricos no país em 2022. O crescimento vai ao encontro de expectativas mundiais já lançadas por alguns estudos.
A empresa de consultoria global Boston Consulting Group, por exemplo, prevê que até 2030 a frota de veículos elétricos plugáveis e veículos elétricos a bateria vai aumentar 160 vezes, chegando a cerca de 507 mil unidades circulando nas ruas e estradas de todos os cantos do globo.
Por outro lado, o mesmo estudo afirma que, para dar conta destes novos números, será preciso um investimento de R$ 14 bilhões na infraestrutura de carregamento para mobilidade elétrica até 2035. O dado faz sentido também para a realidade brasileira, uma vez que o grande desafio do país é justamente a ausência desta infraestrutura.
Diante do cenário que traz, ao mesmo tempo, boas expectativas e dificuldades a serem vencidas, conversamos com o responsável pela área de mobilidade elétrica da Smart Infrastructure da Siemens, Paulo Antunes, que nos ajuda a fazer um raio-x deste mercado em ascensão.
A empresa hoje atua na definição do mercado de infraestrutura inteligente e adaptável e está focada em atender os desafios da urbanização e das mudanças climáticas, inclusive por meio da conexão de sistemas de energia, edifícios e indústrias.
Pontos fortes do mercado de mobilidade brasileiro
“Se tem um país no qual a mobilidade elétrica faz todo o sentido, é no Brasil”, afirma o executivo da Siemens Smart Infrastructure, considerando principalmente que o país tem um percentual excelente de geração de energia elétrica renovável.
Enquanto a média mundial de fontes renováveis na matriz elétrica é de 28%, o Brasil tem mais de 85% de sua geração “verde”. “Isso faz com que um veículo elétrico em operação tenha de fato uma emissão de CO2 muito baixa e acabe com a emissão de outros poluentes nocivos para a população urbana”, completa.
Ele gosta de ressaltar os benefícios ambientais e econômicos com um mercado de eletromobilidade fortalecido.
“Por conta da matriz elétrica altamente renovável, o Brasil é um excelente local para se produzir baterias e veículos com baixa pegada de CO2. Isso pode gerar emprego de qualidade e incluir o país na cadeia global de produção de veículos elétricos”, enfatiza, lembrando também que este sistema produtivo é um aliado para o cumprimento das metas de descarbonização do transporte.
Além disso, o impacto no custo de manutenção do carro elétrico também se torna atrativo no cenário brasileiro. No abastecimento, por exemplo, a economia pode chegar a mais de 60% no valor em reais por quilometro rodado em comparação com um veículo movido a combustível fóssil. Já na manutenção propriamente dita a redução do custo é em media de 30%.
Desafios para o avanço do carro elétrico no Brasil
Fazendo coro aos dados levantados por estudos que reconhecem a importância de investimentos em infraestrutura, o responsável pela área de mobilidade elétrica da Smart Infrastructure, Paulo Antunes, acredita que o otimismo no mercado de eletromobilidade só não é maior devido à ausência de uma política clara sobre mobilidade elétrica no país.
Isto reflete não apenas no fato de que os carros elétricos hoje são todos importados, o que traz uma grande diferença de preço entre os modelos elétricos e a combustão, mas também na falta de infraestrutura de carregamento destes veículos. Enquanto as iniciativas neste sentido no setor privado ainda são tímidas, no setor público elas são praticamente inexistentes.
“É o típico dilema do ‘ovo e a galinha’. Por não ter ainda uma infraestrutura adequada no país, muitos deixam de embarcar na onda dos veículos elétricos. Por outro lado, não contamos com tantos investimentos em infraestrutura de carregamento devido ao tamanho ainda pequeno da frota. Então, o que vem, ou o que deve vir, primeiro?”, pontua o executivo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a atuação governamental foi essencial para fomentar uma estrutura pública de carregamento, ajudando a massificar a adoção desta tecnologia.
Já no Brasil, ainda são poucos os locais para carregamento público e os carregadores existentes são, em sua maioria, do tipo carga lenta, que demora algumas horas para a carga completa do veículo. Assim, o ponto de virada para este mercado estaria em tornar a experiência de carregamento o mais próxima possível do que o consumidor está acostumado com um carro a gasolina ou etanol.
“O carregamento ultrarrápido carrega a bateria de 20% a 100% em mais ou menos 20 minutos, com carregadores com potência de 150kW. Observamos também que os veículos novos suportam cada vez uma carga mais rápida, e assim vão tornando mais fácil o deslocamento entre cidades com a possibilidade de carregar toda a bateria em questão de minutos”, explica Paulo Antunes, sobre a tecnologia de carregadores ultrarrápidos que a Siemens inclusive está trazendo para o Brasil.
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Experiência do consumidor na mobilidade elétrica
O executivo da Siemens Smart Infrastructure conta que, em uma pesquisa recente com os colaboradores da empresa, foi identificado que o maior motivo de resistência para a aquisição de um carro elétrico é a ausência de infraestrutura de carregamento rápido. Por isso, defende a necessidade de uma política orientada para a mobilidade elétrica, que gere incentivos para instalação de postos públicos de carregamento.
“Ninguém quer passar pela situação de ficar horas parado, com a família no carro, esperando o carregamento em uma viagem”, exemplifica.
Um segundo entrave é a diferença de preço entre o veículo a combustão e o elétrico. Ainda que algumas marcas tenham reduzido o preço do modelo elétrico nos últimos tempos, ainda há margem para outros tipos de incentivo, como redução do IPVA, entre outros.
Superadas estas barreiras de custo e infraestrutura, a experiência do consumidor com a eletromobilidade tende a ser satisfatória, representando uma mudança definitiva.
“Veículos elétricos têm zero emissões, grande redução da poluição sonora, aceleração instantânea, bastante tecnologia embarcada, o que torna a experiência de uso bem atrativa, entre outros benefícios. Em contato com alguns proprietários, percebi que, aqueles que se adaptaram à rotina da recarga, não pensam em retornar ao veículo a combustão”, reforça Paulo Antunes.
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