O consumo dos 60+ no Brasil ultrapassa R$ 1,6 trilhões segundo o Instituto Locomotiva e se constitui como um segmento de consumidores que vêm ganhando importância nos últimos 10 anos com a perspectiva do envelhecimento da população. Mesmo com mais relevância no mercado, ainda há muitas oportunidades para melhorar a experiência do consumidor grisalho, que costuma enfrentar inadequação dos serviços e produtos que foram concebidos sem levar em conta suas necessidades ou anseios.
Um dos obstáculos que os consumidores mais velhos encaram é o idadismo ou etarismo, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) se refere a estereótipos, preconceitos e discriminação direcionados às pessoas com base na idade que têm. Atualmente a diversidade e a inclusão de minorias são temas prioritários, porém nem sempre o idoso é lembrado neste contexto. O preconceito e a falta de entendimento com o público idoso são barreiras que precisam ser ultrapassadas para o mercado poder atender suas demandas.
No Brasil há uma cultura que valoriza o jovem, sendo este o público-alvo da maioria das marcas, o ideal da juventude é o estilo de vida mais promovido na comunicação. Há uma associação direta do envelhecimento a algo ruim que deve ser evitado por todos. O fato é que brasileiro está envelhecendo e esse olhar precisa mudar rapidamente e ser mais inclusivo levando em conta as mudanças que o envelhecimento traz e os impactos na sociedade.
Do ponto de vista de consumo, uma pesquisa recente realizada pela Sociedade Brasileira de varejo e consumo (SBVC) denominada “Hábitos de compra do consumidor 60+” demonstrou a insatisfação ao realizar compras. Com relação às lojas físicas, os grisalhos reclamam de produtos caros, filas nos caixas, lojas muito cheias, dificuldade de acesso, falta de local para descanso e deslocamento. Os fatores que mais influenciam a decisão de compra estão descritos no infográfico, com destaque à qualidade do atendimento e valor (preço) dos produtos.
Ressaltando a questão do atendimento, em artigo publicado na Folha em 14 de outubro de 2023, denominado “Brasil exclui do consumo idosos 60+ que já superam o total de jovens de 20”. Muitos idosos relatam situações que sofreram etarismo em lojas de varejo, com prestatodores de diversos serviços e instituições financeiras, prejudicando o atendimento e criando atritos na jornada. Os relatos mencionam desrespeito, desprezo, falta de paciência, infantilização do idoso e todo tipo de pré-julgamentos preconceituosos.
É importante evidenciar a importância dos 60+ nos rendimentos dos domicílios no Brasil. A pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em conjunto com o Serviço de proteção ao crédito (SPC) demonstrou que em 2023, no Brasil, 43% dos idosos são os principais responsáveis pelo sustento da casa. No âmbito geral, 91% dos idosos contribuem com o orçamento do lar, sendo que em 25% dos casos colaboram com a mesma quantia que os demais membros da família e somente 9% não ajudam com as despesas. Isto significa que os grisalhos possuem renda e poder de compra.
Portanto, já está mais do que na hora da sociedade, estado e mercado valorizarem as pessoas idosas, evitando o idadismo na forma como enxergamos o envelhecimento e promovendo respeito às pessoas com 60+. Há necessidade de realizar um esforço de mudança que gere mais inclusão e empatia com os mais velhos.
* Tania Zahar Mine é CEO da Trade Design e professor de pós-graduação da ESPM