Você sabe distinguir um endividado de um inadimplente?

Antes de responder essa pergunta, é importante especificar que um estudo inédito da Serasa, divulgado recentemente, expôs que o número de brasileiros inadimplentes atingiu um recorde na série histórica. Em suma, as pessoas com o “nome sujo” passaram de 59,3 milhões em janeiro de 2018 para 70,1 milhões em janeiro de 2023, em um período de cinco anos.

Além do aumento no número de inadimplentes, o valor médio das dívidas por pessoa também cresceu. Precipuamente, o valor passou da casa de R$ 3.926,40 em janeiro de 2018 para R$ 4.612,30 em janeiro de 2023. O acréscimo é de 19%.

Idosos endividados

Observou-se um impacto significativo entre os idosos, com um aumento de 17% no número de inadimplentes na faixa etária de 60 anos ou mais, em comparação com cidadãos de idade inferior a 60 anos, que registraram um aumento de 12%.

No que diz respeito ao gênero, as mulheres apresentam um aumento de 18% no valor da inadimplência, enquanto entre os homens o aumento foi de 16%. As dívidas financeiras foram as que mais subiram, com um aumento de 71%.

A Serasa aponta que a inflação e as altas taxas de juros foram os principais fatores que impulsionaram o aumento da inadimplência no país durante o período analisado.

Cartão de crédito: o vilão dos endividados

Marcia Moro, presidente na Associação Brasileira de Procons (Procons Brasil), um dos principais vilões da inadimplência hoje é o cartão de crédito. Isso porque, segundo ela, a maioria dos consumidores tem extrema dificuldade em compreender a dinâmica desse modelo de pagamento. “A falta de obter informações precisas por parte de quem oferta crédito ou a ausência da informação da rotação do crédito, de apenas 30%, bem como a exigência de pagamento integral no mês seguinte, são algumas das principais causas do endividamento”.

A fim de evitar o acúmulo de dívidas com juros exorbitantes, é importante que o consumidor adote medidas para equilibrar suas finanças. Uma opção viável é negociar com a instituição financeira emissora do cartão de crédito, buscando a redução dos juros ou a renegociação da dívida.

Ademais, é válido explorar alternativas de empréstimo com taxas de juros mais baixas, como empréstimos pessoais ou consignados, que podem oferecer condições mais favoráveis ao consumidor.

Porém, antes de se comprometer com qualquer forma de empréstimo, é necessário analisar as condições contratuais e verificar se o valor das parcelas corresponde à sua capacidade de pagamento. “É recomendado também evitar contrair novas dívidas, controlar os gastos e criar um planejamento financeiro eficiente. Com essas medidas, é possível buscar soluções para quitar as dívidas com cartão de crédito e adotar uma postura mais consciente em relação às finanças pessoais”, salienta Marcia Moro.

Crédito consignado

Outro vilão do bolso dos brasileiros é o crédito consignado. “Inegavelmente, as agências de créditos encontram clientes indefesos e frágeis para seus programas de vendas. Há um descontrole na venda de consignados, e as pessoas acabam adquirindo o crédito além de sua capacidade financeira de pagamento, gerando a inadimplência”, informa Marcia Moro.

Como exemplo, ela cita os servidores públicos do Rio Grande do Sul. Por lá, ela conta, o desconto em folha facilitado, aliado à falta de reposição salarial e ao aumento da margem, contribuíram – e muito – para que as pessoas se endividassem. “De outra parte, o crédito oferecido e fornecido de forma irresponsável é um agravante. Só para exemplificar, mesmo quando o cidadão está negativado ou sem margem, as empresas aplicam o respectivo desconto nas contas correntes. É uma bola de neve, eu mesmo sei de casos em que as pessoas têm desconto desde 2013 ou 2014”.

Sobre a diferença de endividado para inadimplente, Maurício de Faria, comercial do Grupo KSL, especialista em cobrança jurídica amigável, comenta que a definição de endividado é: a pessoa que tem dívidas, mas que não estão em atraso. “Ou seja, é o cidadão que possui recursos para pagar seus débitos mensalmente”.

Inadimplência

Já o inadimplente é aquele que deixou de pagar suas parcelas ou dívidas. “Este não tem mais condição financeira para arcar com as promessas de pagamento que fez”, acrescenta.

Dessa maneira, quando alguém está endividado, significa que possui um compromisso financeiro, como um empréstimo bancário. Porém, essa pessoa tem condições de manter um plano de pagamento consistente e regular, com condições de usar seus recursos para quitar dívidas.

“Em outras palavras, ao obter um empréstimo em um banco e designar um cronograma de pagamentos mensais, a pessoa endividada comprova capacidade e disposição de honrar seus compromissos financeiros”, enaltece Maurício de Faria.

Por outro lado, a inadimplência ocorre quando o devedor não cumpre com suas obrigações financeiras dentro do prazo estabelecido, o que pode resultar em consequências negativas, como juros adicionais e impactos na sua reputação creditícia.

Logo, enquanto o devedor mantém um plano de pagamento, a inadimplência representa uma falha nesse compromisso, acarretando potenciais repercussões financeiras adversas.

Desorganização financeira

O especialista explica que, geralmente, o endividamento ocorre por falta de organização financeira, desemprego ou problemas de saúde. A situação leva a impactos na vida financeira e pessoal de um indivíduo, uma vez que, quando alguém se vê sobrecarregado por dívidas, gera-se estresse financeiro junto a uma série de consequências adversas.

Em termos financeiros, o não pagamento de dívidas pode resultar em juros acumulados, penalidades e até mesmo ações legais por parte dos credores. Além disso, a qualidade de vida pessoal pode ser afetada à medida que a pessoa se depara com dificuldades para pagar contas básicas e manter um padrão de vida desejado. A saúde mental pode ser impactada por sentimentos de ansiedade, estresse e baixa autoestima.

Por sua vez, a inadimplência traz consigo o pagamento de juros e encargos, além de dificuldades de acesso a crédito devido ao indivíduo ficar marcado no mercado financeiro. Para evitar a inadimplência, é importante manter um controle financeiro e organizar eficientemente as receitas e despesas.

Inadimplentes no Sudeste

Um levantamento da empresa Recovery, pertencente ao Grupo Itaú, revelou que 46% dos inadimplentes do Brasil estão na região Sudeste. Ademais, 25% estão no Nordeste, 12% no Sul, 8% no Centro-Oeste e 4% no Norte. O estudo foi feito com base no perfil de 33 milhões de CPFs de brasileiros com dívidas ativas sob gestão da empresa no ano passado.

Além disso, os dados revelam que o número de acordos feitos para quitar dívidas em 2023 foi 10,3% maior do que em 2022.

Isso resultou em um total negociado por essa faixa etária de mais de R$ 80 milhões em 2023, em contraste com o total de R$ 6,7 bilhões negociados por todas as faixas etárias. 

Pessoas com idade entre 18 e 25 anos surpreenderam em 2023 com um aumento de 58% no volume de acordos feitos em comparação ao ano anterior.

Foram fechados um total de 442 mil acordos, resultando em R$ 239 milhões negociados.

“O aumento no número de jovens fazendo acordos para quitar suas dívidas reflete um engajamento em iniciar suas vidas financeiras de maneira mais saudável”. A fala é da head de Cobrança, Atendimento e Centralidade no Cliente do Grupo Recovery, Claudia Andrade.

Em relação aos tipos de dívidas mais comuns, empréstimos são a principal causa de endividamento para mais de 11 milhões de brasileiros, seguido pelo cartão de crédito que levou mais de 9,9 milhões de CPFs à inadimplência. Além disso, créditos consignados e financiamento de veículos também são tipos frequentes de dívidas entre os brasileiros.

A Era do Diálogo

O evento A Era do Diálogo de 2024 irá debater o problema do superendividamento, que está na 12ª edição. Programado para acontecer no dia 7 de maio, no Hotel Renaissance, em São Paulo, o encontro unirá vozes para moldar o futuro das relações consumeristas.

Assim, A Era do Diálogo é um espaço para reunir diversos elos da cadeia de prestação de serviço. O propósito é fortalecer a compreensão mútua e encontrar soluções para desafios enfrentados tanto em nível individual quanto coletivo. Saiba mais em: A era do dialogo