Em busca do tempo perdido
Estes dias trazem muitas informações para um grande número de varejistas brasileiros. Quase dois mil varejistas frequentarão os corredores e salas do Jacob Javits Convention Center durante o 104º NRF Big Show em Nova York. Mais de uma centena estão conosco na delegação BTR NOVAREJO. Mas de que tipo de informação falamos? O congresso da NRF tradicionalmente traz muito conteúdo em paineis, keynote sessions, debates, cases e apresentações diversas durante quatro dias. Novas tecnologias, processos, ideias, práticas, filosofias, conceitos e táticas são discutidos nas salas do evento. Organizar o conteúdo e oferecer uma sequência lógica do que é mais relevante para o varejista é uma exigência. Ampliar a lente, oferecendo um contexto mais amplo, no qual a informação produzida no evento seja reprocessada como conhecimento para aplicação prática do varejista brasileiro, de acordo com a sua realidade, já demanda um trabalho mais extenso e profundo, de análise e correlação. Este é um dos objetivos da organização do Grupo BTR NOVAREJO: avaliar a informação gerada no congresso NRF Big Show, processar, analisar, produzir insights, conceituar e contextualizar, indo além. Mas há uma característica presente no conteúdo da NRF há anos e que se incorporou de tal maneira ao varejo americano (e expandiu-se para outros mercados) que acabou impulsionando todas as diversas tendências listadas recentemente. O negócio do varejo, nos EUA e centros mais desenvolvidos, obedece à lógica da velocidade extrema. Mais do que mercadoria, espaço, centavos e empregados, tempo é a variável que não pode ser desperdiçada. O varejo é o negócio da corrida contra o relógio. A lógica das novas tecnologias de meios de pagamento, de transação financeira, de criação de experiências e até mesmo de storytelling têm como objetivo reduzir dramaticamente a perda de tempo para que o varejo possa incorporar eficiência incansavelmente. Se o amigo leitor é varejista, vale a reflexão: olhe para a sua operação e veja quanto tempo se desperdiça nos detalhes da operação do negócio: da reposição de mercadorias ao tempo de impressão dos cupons fiscais, da organização das mercadorias à organização das filas, do espaço destinado à circulação dos consumidores à atitude dos funcionários nas lojas, a economia de tempo é visível e implacável. Para um varejista americano, a obsessão com o tempo é paranoica: a cadeia de valor estende-se por diversas lojas que vão girando as mercadorias, aplicando descontos progressivos. Se o magazine da rede "A" não girou o produto em, digamos, 30 dias, este produto será repassado a um magazine "B", um "bargain" ou outlet. E se o produto não girar em outro tanto de tempo, será destinado a outra rede varejista que trabalha no esquema de preço baixíssimo: os US$ 0,99. Essa lógica funciona para alimentos, produtos cosméticos, eletrônicos e muitos outros. Uma lógica implacável: ou gira rápido ou fora! Manter lojas abertas com espaços ociosos e mercadorias encalhadas é inconcebível. O ecossistema varejista está habituado a essa lógica: os consumidores recorrem às lojas continuamente, em busca de novidades. Lojas que não mudam suas mercadorias continuamente deixam de ser visitadas, filas que se prolongam sem que as pessoas percebam que se mantêm em movimento são rechaçadas. Os processos são desenhados para que todo o processo de compra flua veloz, eficiente e que seja percebido como SERVIÇO! Ou seja, a loja "X" presta um bom serviço porque ela é funcional e rápida. Olhem a Amazon: sua eficiência é toda baseada na velocidade do giro transacional. Quanto mais transações ela conseguir gerar por segundo, maior será a sua solidez e o seu alcance. Mesmo nesses anos de crise financeira, a Amazon continuou expandindo operações e crescendo dramaticamente. Lucro? Pensem em giro! Sua capacidade de investimento e expansão é diretamente proporcional à velocidade de expansão das transações no seu e-marketplace. Antes de pensar em abrir novas lojas, o varejista brasileiro precisa focar no aumento da velocidade do giro dentro das mesmas lojas: recuperar o tempo perdido e não convertido em vendas a cada minuto em que mantém as lojas abertas. Olhe profundamente para o espaço, a organização das mercadorias, a circulação e o comportamento dos clientes, as formas de pagamento, a organização e gestão dos estoques. Quanto mais rápida for a loja, melhor ela será para o cliente e para o caixa. Em tempos de crise, otimizar o tempo nas lojas é o melhor investimento. Estudar o ciclo de venda de cada categoria de produto vendida para mapear o tempo ideal de exposição é determinante para que a loja não mantenha produto ocioso. A força da eficiência, não por acaso o tema do Brazilian Retail Week, que acontecerá no final de julho em São Paulo, é, amplamente, a capacidade de ser veloz. Fast retail é a meta nesses tempos de informação circulando em ritmo vertiginoso e de consumidores plugados 24 horas no celular. Uma frase exposta nas lojas H&M em Nova York retrata com perfeição a lógica do tempo no negócio varejista: "recebemos produtos novos todo dia. Não é um bom motivo para você fazer o mesmo?" O varejista vencedor não é aquele que persegue o caixa alto e o estoque baixo. É aquele que busca girar o estoque da loja no menor tempo possível e que se empenha em girá-lo continuamente mais rápido. Como diria Peter Drucker, não é o grande que engole o pequeno. É o rápido que engole o lento. *Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.
- Redação
- 0 min leitura
Recomendadas
MAIS MATÉRIAS
Rua Ceará, 62 – CEP 01243-010 – Higienópolis – São Paulo – 11 3125 2244
Copyright 2024 por Grupo Padrão. Todos os direitos reservados.