Você já pode até ter ouvido falar da carne feita em laboratório: a experiência da startup holandesa Mosa Meat causou furor e muitas notícias a respeito, e deve chegar ao mercado em 2021. A promessa é de suprir o aumento do consumo de carne animal, que deve crescer em 70% até 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), utilizando uma versão feita em laboratório. Afinal, se já há crise de sustentabilidade na criação de bois e outros animais, imagina dentro de 30 anos.
A mesma ideia de focar na sustentabilidade e em como é possível usar a tecnologia para obter rendimentos sem impactar na natureza mobilizou mais uma empresa a tentar criar sua versão de laboratório para outro alimento bastante popular no mundo todo. Trata-se do mel, que originalmente se colhe das colmeias de abelhas e que a MeliBio, outra startup, desta vez na Califórnia, busca recriar. A empresa quer chegar na fórmula perfeita do produto não só para ser a pioneira no mercado a produzi-lo como também para diminuir a pressão sobre as espécies já comprometidas com a atual demanda de mel, em especial nos Estados Unidos.
Em entrevista para o portal de tecnologia “Fast Company”, Darko Mandich, CEO da startup californiana, diz que a missão da MeliBio é também resolver o problema do impacto que as abelhas têm em manter a biodiversidade: “Existem 20 mil espécies de abelhas selvagens e nativas. E essas espécies estão comprometidas com a atual produção de mel, que depende totalmente da apicultura comercial”, explica ele sobre o cenário atual. “Decidimos usar a ciência para produzir mel exatamente como as abelhas fazem, mas removendo-os da cadeia de abastecimento para que possamos ajuda-las a prosperar”, disse Darko Mandich ainda para a FC.
Mel em testes
Ainda sem data para chegar ao consumidor final, o mel produzido pela MeliBio já passou por uma primeira testagem. O processo é similar àquele que produz células de laticínios isolando o DNA da proteína do leite, dispensando a necessidade de vacas no processo. O leite de laboratório também já é uma realidade e foi criado pela empresa Perfect Day, nos Estados Unidos, desde 2016.
A versão inicial do mel de laboratório se saiu bem, segundo diz o CEO da MeliBio: textura, viscosidade e sabor lembravam o do mel de abelha original. Um teste às cegas deixou os degustadores convocados sem descobrir qual era o produto feito pela ciência e qual era o vindo das abelhas. Segundo ele, 14 empresas já assinaram cartas de intenção de compra do produto para usá-lo quando estiver finalmente pronto.
O mel de laboratório poderá ser usado na indústria de alimentos, e até pela de cosméticos – dando aroma ou textura para sabonetes, xampus e outros produtos de beleza. O próximo passo é conseguir uma rodada de investimento que garanta um custo menor para esse produto do que o mel de abelha natural. Assim, desestimula-se o uso do inseto, que pode se recuperar das demandas comerciais de consumo do alimento.
Além do apelo de ser produzido de maneira ecologicamente correta e de proteger o meio-ambiente – ponto de atração para consumidores da GenZ, os mais preocupados com o tema entre as gerações – o mel de laboratório também tem grande potencial para crescer entre veganos e vegetarianos. Vale lembrar que o mercado de alimentos livres de proteína animal deve crescer cerca de 31 bilhões de dólares até 2026. Ou seja, o mel com carimbo científico pode ter um belo caminho pela frente em um comportamento de consumo que está em franca expansão.
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