Qual é a relação entre a crise climática e o desejo de ter filhos?
Talvez não se trate apenas de mudanças ambientais, mas de como essas transformações estão redefinindo o comportamento humano.
A ecoansiedade, ou ansiedade climática, vai além de uma preocupação ambiental. Caroline Hickman, da Universidade de Bath, define esse sentimento como “um sofrimento que surge ao percebermos o impacto das mudanças climáticas em nossas vidas e no futuro das próximas gerações”.
Compreender as respostas à ecoansiedade exige um olhar atento para as gerações. Cada uma delas processa a crise climática de maneira única.
Entre as gerações, a Geração Z desponta como aquela que mais vivencia essa preocupação. Eles cresceram em um cenário onde as mudanças climáticas não são apenas notícias distantes, mas experiências que moldam escolhas, sonhos e valores. Para eles, o futuro não é algo garantido, mas um campo incerto que exige atenção e ação imediatas.
Uma escolha carregada de significado
Como pensar em ter filhos no futuro, se as crianças do presente já estão em perigo?
Essa questão resume o dilema de muitos jovens que enfrentam a ecoansiedade.
Um estudo publicado pelo The Lancet revelou que mais de 40% dos jovens de 16 a 25 anos, em países como o Brasil, afirmaram estar hesitantes em ter filhos devido às mudanças climáticas. Esse dado não é apenas impactante; é revelador. Ele expõe como o comportamento humano está sendo profundamente transformado pela percepção de que escolhas individuais têm implicações globais.
“Ter filhos deixou de ser apenas uma decisão pessoal; tornou-se um dilema ético e ambiental. Para muitos, pensar no futuro de uma criança em um mundo incerto é uma escolha que reflete medo, mas também uma imensa empatia pela vida.”
Marcas na mira de consumidores conscientes
Geração Z não consome apenas produtos; consome narrativas e valores. Eles exigem autenticidade, sustentabilidade e ação concreta. São agentes de mudança, não espectadores.
Essa geração, ao mesmo tempo ansiosa e engajada, traz um comportamento único ao cenário global. Eles não querem apenas consumir; querem transformar. A ecoansiedade os leva a priorizar marcas que demonstram compromisso com a sustentabilidade e transparência, e a rejeitar aquelas que permanecem inertes frente à crise climática.
Essa preocupação não se limita às escolhas de consumo. Ela permeia carreiras, relacionamentos e até os valores mais íntimos. A Geração Z quer mais do que um futuro sustentável – eles querem um presente que faça sentido.
Um chamado para marcas que falam com a Geração Z
Para esta geração, ser reciclável já não é suficiente. Eles querem mais: compromisso real, ações concretas e uma visão ampla que conecte propósito e impacto. Ignorar essa demanda significa perder relevância para consumidores que não aceitam passividade.
Três dicas para marcas que desejam conquistar a Geração Z:
- Vá além do reciclável: redefina seu portfólio, eliminando produtos insustentáveis e investindo em metas transformadoras que demonstrem compromisso real com o futuro;
- Reflita o otimismo possível: aborde a crise climática com responsabilidade, mas destaque ações concretas que inspirem esperança e mostrem caminhos viáveis para a mudança;
- Conecte-se com a jornada emocional: Entenda os medos e aspirações dessa geração e mostre que sua marca é uma aliada que se preocupa e age com empatia.
Diversidade geracional e a força das conexões
Entender o comportamento das gerações é mais do que analisar tendências; é compreender os valores que as movem e conectam. Cada geração reage ao mesmo desafio de formas distintas, e é nessa diversidade que encontramos o poder de transformação.
Diante da crise climática, gerações distintas oferecem perspectivas complementares. Enquanto algumas priorizam ações estruturais e soluções práticas, outras trazem a urgência e a inovação necessárias para acelerar mudanças.
Essa interação entre experiências de vida e olhares diversos é um elemento fundamental para enfrentar os desafios do presente e construir um futuro habitável.
Tati Gracia é referência em comportamento de consumo e marketing de empatia no Brasil.