Diversidade e inclusão são temas que estão ganhando cada vez mais atenção e ações das empresas. E, certamente, isso representa um grande avanço para as pautas igualitárias. Contudo, será o suficiente?
Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial de 2021, por exemplo, será preciso mais de 100 anos para acabar com as disparidades salariais entre homens e mulheres. Ainda assim, segundo o Gartner, 69% das organizações citam a diversidade e inclusão da força de trabalho como uma prioridade estratégica.
E, para Lauren Romansky, vice-presidente administrativa de recursos humanos do Gartner, um grande diferencial da atualidade é que a Geração Z (nascidos entre 1995 a 2010) está cada vez mais inserida no mercado de trabalho e, à medida que isso acontece, é essa a geração que mais está catalisando as pautas inclusivas nas empresas.
“Vimos em algumas de nossas pesquisas que realmente são os funcionários mais jovens que são mais apaixonados pelo tema da diversidade e inclusão, que veem a raça como algo em que desejam que as organizações se envolvam, têm planos e realmente aspiram trabalhar em organizações que valorizam a diversidade”, afirma Romansky.
“Quando olhamos para esses sentimentos e ouvimos através de nossas conversas com líderes de RH, acreditamos que a resposta geracional será uma diferença real, pois pensamos sobre o poder de permanência e a oportunidade para que este seja um momento que conduza mudanças realmente extensas e consistentes”, completa.
Diversidade e inclusão – indo além do discurso
Desde 2012, o Grupo Carrefour Brasil mantém uma estrutura voltada exclusivamente para os temas de Diversidade, Inclusão e Equidade, que reúne várias áreas da empresa e busca reforçar conceitos e garantir uma cultura de inclusão.
Segundo Kaleb Machado, gerente de Diversidade e Inclusão do Grupo Carrefour Brasil, é essa estrutura que assegura os padrões de conduta no tratamento com as pessoas, na busca e acolhimento da diversidade nas práticas de gestão dos negócios e na contribuição para um mundo mais sustentável.
“A existência de uma estrutura robusta como essa é importante para garantir que a diversidade e a inclusão sejam parte da cultura e das vivências em todo o nosso ecossistema. Nisso, englobamos nossos mais de 100 mil colaboradores no Brasil, além de nossos clientes e fornecedores”, exemplifica Kaleb Machado.
Atualmente, 48% dos colaboradores do Grupo Carrefour Brasil são compostos por mulheres, sendo que 37,99% das posições de liderança são ocupadas por elas. No recorte racial, 63,90% dos colaboradores e 54,19% da liderança se autodeclaram pretos ou pardos. A companhia também emprega mais de 80 pessoas trans no Brasil.
“Internamente, promovemos uma intensa agenda de comunicação, treinamentos de lideranças e revisão de processos. As prioridades são as frentes de diversidade de gênero, racial e sexual, bem como a inclusão de pessoas com deficiência, mas também levamos em conta outros temas, como as diferentes crenças religiosas e nacionalidades”, pontua o gerente do Carrefour.
Entre as ações para colaboradores, há uma política específica, com conceitos e orientações sobre a conduta a ser adotada, além da realização de eventos de conscientização e divulgação de manuais, cartilhas e vídeos.
Já na Natura &Co – grupo formado por Avon, Natura, The Body Shop e Aesop, são formados grupos de interesse nos principais países da América Latina onde atuam. No Brasil são quatro grupos, que reúnem mais de 400 colaboradores. O objetivo é amplificar as vozes que representam grupos minorizados na empresa e ter processos e benefícios cada vez mais inclusivos.
Esses grupos estão organizados em quatro pilares de atuação: equidade de gênero, pessoas com deficiência, equidade étnico-racial e LGBTQIA +. “Com essa rede ampla, promovemos ações que fomentam a educação para a inclusão, estimulam o engajamento dos colaboradores e também orientam as estratégias da empresa, para que nos tornemos cada vez mais inclusivos”, garante Milena Buosi, gerente de diversidade e inclusão da Natura &Co América Latina.
Alguns dos resultados na Natura &Co na América Latina nos pilares de atuação, são:
Equidade de gênero:
● 51% de mulheres em cargos de liderança. “Para atingirmos esse índice, além de treinamentos e campanhas de conscientização, temos como prática ter 50% de mulheres finalistas em todos os processos de seleção para cargos de liderança”, enfatiza Milena Buosi.
● Licença-maternidade de seis meses e licença-paternidade de 40 dias. A iniciativa inclui casais do mesmo sexo e casos de adoção. Atrelados à licença, são oferecidos treinamento e orientações sobre o nascimento e os cuidados com os filhos, ressaltando a importância da divisão de tarefas.
● Protocolo estabelecido em 2020 para apoiar colaboradores que enfrentam situações de violência doméstica.
● Signatária dos Princípios do Empoderamento Feminino (WEPs), da ONU, que busca promover a equidade de gênero em todas as atividades sociais.
● Participação na Unstereotype Alliance, da ONU: uma plataforma que busca erradicar estereótipos de gênero prejudiciais em todos os conteúdos de mídia e publicidade.
Inclusão de pessoas com deficiência:
● Desde os anos 80, a Natura possui pessoas com deficiência em seu quadro de funcionários. Ao final de 2020 representavam 7,3% dos colaboradores.
● Nos anos 2000 foram lançadas as primeiras embalagens da linha Erva Doce com tradução para braille.
● Em 2013, a Natura inaugurou o Centro de Distribuição São Paulo, um espaço concebido especialmente para incluir pessoas com deficiência auditiva e intelectual, de forma completamente integrada com os outros colaboradores. Atualmente, elas representam 20% dos colaboradores da unidade.
Valorizar a diversidade sexual e de gênero:
● A empresa garante a adoção do nome social para pessoas trans e, há 15 anos, oferece benefícios de saúde a casais LGBTQIA +.
● “Impulsionamos oportunidades de trabalho e renda para pessoas trans. Em parceria com a Casa 1, organização que fomenta a cultura e o acolhimento desse público, oferecemos cursos de maquiagem para transexuais e contratamos esses profissionais para atuar em nossas lojas no período do Natal”, diz Milena Buosi.
Promoção da igualdade étnico-racial:
● Em 2020, 100% das novas vagas de estágio na Avon Brasil foram preenchidas por pessoas negras. Isso foi resultado do compromisso assumido em 2016 com o Selo Pró-Equidade de Gênero e Raça, que estabeleceu metas de contratação de estagiários e gerentes de setor.
● Em 2019, a Natura deu início a uma nova estratégia para o programa de estágio, com o objetivo de ampliar a atração de candidatos autodeclarados negros. Não há mais exigência de diploma universitário, domínio de idioma estrangeiro ou limitação de idade.
Alavancando o potencial competitivo
Valorizar a diversidade e a inclusão, além de estar em sintonia com as normas internacionais de direitos humanos, com a legislação do país e com as boas práticas de responsabilidade social, também representa um diferencial competitivo, que agrega valor ao negócio.
“Toda a riqueza originada dessa diversidade de perfis de colaboradores em todo o nosso ecossistema traz como benefício adicional um olhar diferenciado sobre a forma como atuamos no mundo. Por meio disso, conseguimos ter um entendimento de nossos clientes, que, assim como no ambiente interno, refletem uma diversidade incrível de perfis.
Com esse olhar, é possível oferecer soluções adequadas para todos os clientes, melhorando a satisfação deles, ao mesmo tempo em que agregamos resultados positivos do ponto de vista financeiro”, reflete Kaleb Machado.
Indo além do marketing
A divulgação de iniciativas voltadas para a diversidade e inclusão por parte de empresas, tanto nos meios de comunicação quanto em redes sociais, é necessária e desejável.
Imagine a seguinte situação: uma pessoa está procurando emprego e gostaria de se inserir profissionalmente em uma empresa que tenha esses valores em sua cultura. Para que essa pessoa encontre esses espaços, as ações da companhia precisam ser públicas e noticiadas.
O mesmo acontece com um cliente que procura uma empresa que trabalha proativamente com base nos princípios de responsabilidade social e ambiental. Porém, isso só se sustenta quando ações práticas e efetivas são realizadas diariamente por essas empresas. Caso contrário, uma hora ou outra, a realidade daquela companhia virá à tona.
Portanto, para deixar claro que a empresa trabalha realmente pela diversidade e inclusão são necessárias ações reais, com impactos diretos nos seus colaboradores, clientes, fornecedores e toda a comunidade que interage com as operações da companhia.
Além das ações práticas do dia a dia e melhora nos indicadores, pode-se notar esse trabalho pela participação ativa das companhias em iniciativas institucionais e compromissos relacionados às diferentes frentes de diversidade e inclusão.
“Como exemplo podemos citar o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, que conta com a participação do Carrefour desde sua fundação em 2013, além de outras entidades que a companhia também é signatária como a Rede Brasil do Pacto Global, Movimento Mulher 360 e a Rede Empresarial de Inclusão Social”, finaliza Kaleb Machado.
Segundo a gerente de diversidade e inclusão da Natura &Co América Latina, Milena Buosi, além das ações estruturantes que refletem a estratégia de negócios da marca, muito além do que uma campanha de marketing, a empresa tem formalizado compromissos públicos com metas definidas para garantir um ambiente de trabalho diverso e inclusivo.
“O principal é nosso Compromisso com a Vida, com metas definidas até 2030 a ser alcançadas por todas as empresas do grupo, um plano abrangente de sustentabilidade, igualdade e inclusão. Mas, também participamos de vários movimentos públicos, como o Movimento Mulher 360, Inclusão Social de Jovens Negras e Negros no Mercado de Trabalho de São Paulo e o #MaisDoQueVocêVê criado por Natura, Avon e The Body Shop e que culminou em nosso patrocínio à Parada do Orgulho LGBT de São Paulo”, completa Milena Buosi.
+ Notícias
O que está por trás das melhores empresas para as mulheres trabalharem?
É necessário trabalhar a diversidade para atingir resultados esperados