Há atualmente, no mundo todo, uma discussão sobre a importância da diversidade nas empresas. De modo geral, a pauta tem como pano de fundo a busca por mais igualdade e respeito às questões de cor, gênero, orientação sexual, idade e condições físicas. Em alguns países, como o Brasil, existem, inclusive, leis específicas para garantir que determinadas minorias tenham direito a uma cota no quadro de funcionários das organizações.
Porém, a questão vai muito além de cumprir a lei, de ter empatia ou de agradar os consumidores e a comunidade: empresas que apostam na formação de equipes considerando a diversidade ganham em inovação, criatividade, produtividade e gastam menos.
Entenda a importância da pluralidade nas organizações e de que forma ela aumenta a competitividade.
Diversidade nas empresas: o contraste entre a teoria e a prática
Pare e reflita: a empresa em que você trabalha, de fato, promove a diversidade? O número de mulheres é equivalente ao de homens? Qual é a proporção entre negros e brancos? Pessoas com diferentes orientações sexuais, mais velhas e com algum tipo de deficiência física representam qual fatia do quadro de funcionários? Agora, analise os cargos de liderança: eles são representativos?
Apesar de a diversidade ser uma pauta de destaque na sociedade moderna, as empresas brasileiras ainda têm um longo caminho a percorrer para serem, de fato, inclusivas e plurais.
A pesquisa “Diversidade Nas Empresas – O Que Os Dados Nos Contam”, realizada em 2019 pela Opinion Box em parceria com a HSM Management, entrevistou 2.025 pessoas que trabalham em empresas com mais de 10 funcionários e revelou que, na prática, a pluralidade de perfis profissionais nas organizações não é tão real como aparenta ser.
Embora 65% dos entrevistados acreditem que as empresas em que trabalham apoiam a diversidade e colocam em prática soluções para a promoção da igualdade no ambiente corporativo, os dados mostram números que contrastam com essa percepção.
De acordo com o levantamento, 29% das empresas não possuem nenhuma pessoa com deficiência; 44% não têm nenhum transexual em seu quadro e 1 em cada 4 profissionais avaliam que menos de 5% de seus colegas são negros. Além disso, 37% dos entrevistados disse que já houve algum caso de discriminação na empresa em que trabalham.
Outro dado que merece destaque é relacionado à composição de homens e mulheres no quadro organizacional: a pesquisa da Opinion Box revelou que, apesar de a população brasileira ter mais mulheres (51,7%) do que homens (48,3%), metade das empresas têm mais colaboradores homens do que mulheres.
A este contexto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) acrescenta ainda outro dado alarmante: apenas 13,6% das vagas de liderança são ocupadas por mulheres e elas recebem, em média, 30% menos do que os homens pelo mesmo trabalho desempenhado.
“É preciso trabalhar a diminuição da desigualdade, seja ela fora ou dentro de uma organização. Os profissionais precisam ser respeitados independente de sua idade, cor, gênero, condições físicas ou orientação sexual. Garantir que esse espaço exista também é responsabilidade das organizações, que devem promover práticas inclusivas, oferecer igualdade de oportunidades, estimular mudanças de cultura e criar novas políticas”, avalia a psicóloga Melina Záccaro Garcia Gil, analista sênior de Recursos Humanos, que reconhece que algumas empresas já estão nesse caminho, no entanto, muito ainda precisa ser feito para que se consiga uma justa igualdade e respeito.
Diversidade melhora criatividade, inovação e competitividade
A insuficiente promoção da diversidade nas empresas passa pela falta de entendimento das potenciais contribuições que a pluralidade pode trazer para o ambiente corporativo, com impactos positivos na produtividade, no clima organizacional e na redução de gastos.
“As organizações que verdadeiramente oferecem ambientes e espaços inclusivos tendem a ser mais criativas e, consequentemente, mais inovadoras, uma vez que na resolução dos problemas ou criação de novas ideias existe a diversidade na maneira de encarar uma situação e o olhar diferenciado segundo pontos de vistas diferentes”, explica a psicóloga.
Outro impacto destacado por Melina Gil é a melhora no clima motivacional. De acordo com ela, um ambiente inclusivo pode reduzir problemas de faltas e de alta rotatividade.
“Outro ponto importante que podemos citar é a melhora do clima motivacional por ser mais inclusivo. Com isso, questões como baixo engajamento, absenteísmo e turnover são diminuídas, logo a produtividade aumenta e os gastos são reduzidos”, destaca Melina Záccaro Garcia Gil
O relatório “A Diversidade Como Alavanca de Performance”, publicado pela McKinsey, reforça as considerações feitas pela analista sênior de Recursos Humanos e reafirma a relevância do vínculo entre diversidade – definida como uma maior proporção de mulheres e uma composição étnica e cultural mais variada na liderança de grandes empresas – e maior lucratividade.
De acordo com o estudo, as empresas que apostam na diversidade têm 33% mais chances de ter uma melhor performance financeira, além de 27% mais chances de superar concorrentes em criação de valor a longo prazo.
Retenção de talentos, melhora na experiência do cliente e motivação dos funcionários também estão entre as contribuições que a diversidade pode trazer às empresas, segundo o relatório.
Formando equipes com diversidade
De acordo com Melina Záccaro Garcia Gil, a formação de uma equipe diversa está longe de ser apenas uma questão de contratação ou de ter um número de vagas direcionado para essas pessoas.
“Esse é apenas um começo. O primeiro passo é reconhecer os dados demográficos da empresa e, assim, entender a diferença entre a realidade atual e o que se busca em termos de igualdade social”, orienta a analista sênior de Recursos Humanos.
Outro passo importante é oferecer um ambiente apropriado e saudável para que essas pessoas possam se desenvolver profissionalmente.
“Para isso, elas precisam ser acolhidas e respeitadas. A revisão das políticas e dos procedimentos existentes, a formação de comitês de diversidade, a abertura de canais seguros de comunicação, o alinhamento da cultura e práticas são ações que podem ajudar no início desse processo”, enumera.
Vale ressaltar que, diferente do que muita gente acredita, apostar na diversidade não requer abrir mão do perfil profissional buscado pela organização, afinal, as qualificações profissionais devem continuar sendo consideradas.
“Portanto, por mais que seja um grande desafio, as organizações que conseguem aliar esses pontos de transformação à sua cultura acabam sendo as que mais rápido se adaptam e se tornam mais duráveis e fortes”, pontua a psicóloga.
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