Quer seja para estabelecer um fundo de emergência, planejar uma viagem ou realizar sonhos, a poupança permanece como uma das alternativas mais utilizadas e valorizadas por aqueles que buscam segurança ao guardar seu dinheiro. Fato é que a prática de poupar é uma ferramenta fundamental para a gestão financeira pessoal. Ademais, do ponto de vista do consumo, a poupança é uma excelente forma de alcançar metas específicas, como comprar um carro, realizar melhorias na casa ou fazer uma viagem.
Isso sem contar que, ao destinar uma parte da renda mensal para a poupança, as pessoas se preparam para imprevistos. E criam uma base sólida para projetos futuros. Essa disciplina financeira promove não apenas a estabilidade econômica, evitando o endividamento, mas também uma tranquilidade mental, uma vez que o indivíduo se sente mais seguro ao saber que possui recursos disponíveis para enfrentar situações adversas.
História
No Brasil, a poupança existe há mais de 160 anos. A primeira legislação que regulou a estrutura dos depósitos de poupança no Brasil é o Decreto nº 2.273/1860. Mais tarde, em 1924, o primeiro Congresso Internacional de Economia, em Milão, na Itália, estabeleceu o dia 31 de outubro como o Dia Mundial da Poupança. Nesse 2024, a data completa um século de existência. Seu objetivo é simples: conscientizar as pessoas sobre a importância de poupar dinheiro e desenvolver hábitos saudáveis de gestão financeira.
“Sempre acreditei que é fundamental destinar recursos à poupança, pois é uma maneira simples de economizar”, diz o construtor civil Luiz Carlos Eleoterio, associado do Sicredi. Ele integra o grupo de mais de 53 milhões de brasileiros que optam por essa solução financeira, segundo a pesquisa Raio X do Investidor, realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Na visão de Adriana Zandoná, gerente de desenvolvimento de negócios da Central Sicredi PR/SP/RJ, “a poupança é ponto de partida para atingir metas. Isso por ela ser uma opção simples e segura”. Em suas palavras, a modalidade é especialmente recomendada para aqueles que estão iniciando a organização financeira, possibilitando a acumulação de recursos tanto para uma reserva quanto para a realização de objetivos. “Muitas pessoas se tornam investidores ao observar o crescimento de suas economias na poupança. Poupar é o primeiro passo rumo à educação financeira”, afirma.
Planejamento e poupança
É desse modo, explicado por Adriana, que Luiz Carlos vê o ato de poupar. “É um caminho para construir o futuro, onde cada real guardado auxilia na estabilidade financeira. Inclusive, ele conta que foi com o incentivo do Sicredi em relação à educação financeira que percebeu a importância de poupar. Hoje, ele tem em mente que cultivar o hábito da poupança é essencial para a construção de um futuro financeiro mais estável e promissor.
Outro aspecto relevante da poupança é o seu papel na cadeia de crédito do sistema financeiro nacional. Grande parte dos recursos que a caderneta capta destina-se a financiamentos imobiliários e ao crédito rural para a agricultura familiar.
Enquanto a Anbima indica que os brasileiros continuam escolhendo a poupança como a opção mais popular, o Sicredi observa um cenário semelhante. No primeiro semestre de 2024, a instituição financeira apresentou um crescimento positivo nos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, alcançando um aumento de R$ 1,32 bilhão. Durante esse período, o número de poupadores ultrapassou 1,48 milhão, com um total acumulado de R$ 10,27 bilhões na caderneta de poupança.
Somente na região norte do Paraná e sul de São Paulo, a cooperativa Sicredi registrou um aumento de 18% na carteira de poupança. O percentual assegurou à instituição a terceira posição no ranking regional de investimentos nessa modalidade, conforme dados do Banco Central do Brasil (BC). “Acreditamos que um dos principais fatores para o nosso crescimento é o diferencial do Sicredi em oferecer o melhor atendimento ao cliente. Nosso objetivo é sempre fornecer soluções personalizadas para suas necessidades. Não visamos lucro e, assim, crescemos juntos”, esclarece o diretor de negócios da Sicredi Norte Sul, Alex Henrique Possi.
Poupança e inadimplência
Conforme levantamento feito pelo Serasa, mais de 70 milhões de brasileiros enfrentam problemas de inadimplência. Essa situação impacta especialmente a faixa etária de 41 a 60 anos. Diante deste fato, o educador financeiro Douglas Araújo destaca a negociação das dívidas como um dos fatores essenciais para conquistar a liberdade financeira. O outro fator está no ato de poupar, cortar o consumo supérfluo e não fazer empréstimos.
Ele acaba de lançar um livro sobre o assunto. Em “Cresça e Enriqueça”, publicado pela Citadel Grupo Editorial, o empreendedor social enaltece a importância de compreender e relação entre saúde emocional e vida financeira a fim de bloquear o consumismo desenfreado. Na página 117 da obra, Douglas diz assim: “a pessoa quer dar a si um presente para suprir alguma carência, vai fazer ‘shoppingterapia’. Vê algo de que gosta, não pode comprar, mas passa no cartão, parcela e se endivida. Faz isso sem um planejamento e lá na frente, não agora, essa decisão errada, feita sem consciência, sem exercer autocontrole, vai se juntar com outra dívida, e com outra dívida, e vai te fazer mal”.
De acordo com Araújo, após reconhecer a importância do planejamento e do autocontrole, o próximo passo é definir metas financeiras que sejam claras e viáveis. Ao estabelecer objetivos e investir em educação financeira, segundo ele, é possível mudar a relação com o dinheiro.
Diferenças entre aplicações
Os investidores consideram a poupança a aplicação mais tradicional e conservadora do Brasil, proporcionando liquidez imediata e isenção de imposto de renda, embora seus rendimentos costumem ser mais baixos. Já o Tesouro Direto é composto por títulos públicos emitidos pelo governo, que têm como objetivo financiar a dívida pública e são vistos como investimentos seguros no país. Por sua vez, o CDB é um título de renda fixa emitido por bancos. Ao investir, a pessoa está emprestando dinheiro à instituição financeira e, em troca, recebe uma rentabilidade. Essa modalidade pode ter diferentes tipos de rentabilidade. A versão pós-fixada rende um percentual do CDI, a taxa média de empréstimos entre bancos, que segue de perto a Selic.
No prefixado, a taxa é definida na hora da compra, ideal se a expectativa for de queda dos juros. O CDB atrelado à inflação combina o IPCA com uma taxa fixa, protegendo o investidor contra perda de poder de compra. Todos os CDBs têm garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até R$ 250 mil por CPF e instituição.
Onde investir?
Mas, diante de tantas opções, qual investir?
João Victorino, educador financeiro e professor de MBA do Ibmec, explica que, como todo investimento, cada opção oferece vantagens e desvantagens. “Então, cabe a pessoa fazer uma avaliação de qual modalidade é melhor para o próprio perfil”.
Especificamente sobre a poupança, já que hoje é o Dia Mundial da Poupança, os principais benefícios, apontador por João Victorino é que ela é simples de movimentar, não sofre incidência de tributos e pode ser sacada a qualquer momento. “Para quem nunca investiu, é um bom “treino” e na Reserva de Emergência, tem a segurança necessária. Porém, a rentabilidade limita-se a 70% da Selic mais a TR (Taxa Referencial). Quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano ou quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês mais a TR”.
O fato negativo, em sua visão, é que a poupança se torna menos interessante em períodos de alta inflação. Outra desvantagem é a questão do aniversário do depósito. Calculam-se os rendimentos com base na data de aniversário da aplicação. Caso o resgate ocorra antes do aniversário, o investidor não receberá os juros referentes àquele mês, o que diminui a atratividade da poupança para quem busca liquidez imediata.
Em síntese, a decisão entre CDB, poupança e Tesouro Direto varia conforme os objetivos e a estratégia de cada investidor. Não existe uma opção que seja universalmente superior ou inferior. Muitas vezes, a combinação das três alternativas pode oferecer um equilíbrio entre segurança, rentabilidade e liquidez, de acordo com o momento e as metas do investidor. “Vale lembrar que a escolha mais adequada será feita com base em um melhor entendimento do tema”, finaliza o especialista.