Você sabia que muitos brasileiros não visitam o dentista regularmente? Seja por conta do custo, rotina agitada, falta de tempo ou até mesmo de conscientização. Não importa. Fato é que somente no ano de 2024, 32% dos brasileiros não se sentaram na cadeira do dentista. O dado consta em uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo), com o apoio do Conselho Federal de Odontologia (CFO).
O levantamento mostra que o nível de escolaridade impacta diretamente o acesso à saúde bucal. Neste sentido, 46% dos brasileiros com escolaridade básica não realizaram uma consulta odontológica nos últimos 12 meses.
Conforme os dados, 68% dos brasileiros consultaram um dentista no último ano, com as mulheres sendo as principais responsáveis por essa estatística. Dentre os entrevistados que visitaram o dentista, 70% relataram ter realizado procedimentos de higiene bucal, enquanto 39% buscaram serviços de obturação e restauração dentária.
Finanças e dentista
Entretanto, os dados apontam para uma desigualdade no acesso aos atendimentos odontológicos. Isso porque 75% dos pacientes com ensino superior procuraram dentistas, em comparação com apenas 54% dos brasileiros que possuem escolaridade básica.
A pesquisa ainda destacou que a renda está fortemente relacionada à frequência das consultas. Para se ter uma ideia, 80% das pessoas que recebem mais de 10 salários mínimos vão regularmente ao dentista. Enquanto isso, apenas 59% daqueles que ganham até um salário mínimo buscam atendimento odontológico.
Paulo Henrique Fraccaro, CEO da Abimo, enfatiza que a condição financeira é crucial para o acesso ao dentista, dado o alto preço dos tratamentos. “Atualmente, uma simples obturação pode custar entre R$ 500 e R$ 800. Sem condições financeiras adequadas, muitos acabam postergando as consultas, transformando o que poderia ser um tratamento simples em um problema mais complexo”, explica. Ele menciona também que o Governo Federal tem se esforçado, via Ministério da Saúde, para oferecer serviços odontológicos à população carente através de assistência técnica financiada pelas prefeituras, com o apoio da União. “No entanto, a implementação tem sido lenta, dificultando o acesso e intensificando as desigualdades”.
Dificuldade em chegar no dentista
A dificuldade de acesso aos serviços odontológicos para a população de baixa renda reflete-se em índices alarmantes de problemas dentários não tratados. Isso porque muitos pacientes que adiam tratamentos acabam enfrentando consequências graves, como infecções e doenças periodontais, que podem levar à perda de dentes e a complicações de saúde mais sérias.
Os dentistas também alertam que, além da questão financeira, a falta de informação e conscientização sobre a importância da saúde bucal contribui para a subutilização dos serviços. Muitas pessoas ainda não reconhecem que a saúde oral é parte essencial do bem-estar geral, impactando não apenas a qualidade de vida, mas também a saúde mental e a autoestima.
Assim, abordar a questão da saúde odontológica de maneira integrada e multifacetada é essencial para reduzir as desigualdades e assegurar que todas as camadas da população tenham acesso a cuidados dentários adequados e efetivos. O fortalecimento das parcerias entre governo, sociedade civil e profissionais da saúde se torna uma prioridade para reverter esse quadro.
Sistema público de saúde
Sobre o sistema público de saúde, a pesquisa revelou que 23% dos pacientes buscaram atendimento odontológico pelo SUS, sendo essa parcela composta principalmente por indivíduos com menor escolaridade e renda. Em contraste, 74% dos atendimentos ocorreram na rede privada, evidenciando que a demanda por serviços particulares ainda é muito superior à procura pelo SUS.
“A pesquisa fornece dados relevantes sobre o comportamento dos brasileiros em relação ao atendimento odontológico e destaca a necessidade de um aumento na oferta de serviços de Saúde Bucal na rede pública”, ressalta Claudio Miyake, presidente do CFO. “Felizmente, há uma expectativa de gradual melhoria através da aplicação da Política Nacional de Saúde Bucal, estabelecida pela Lei nº 14.572 de 2023, que incluiu o Programa Brasil Sorridente no SUS. Esse foi um avanço significativo que deve garantir maior acesso aos tratamentos odontológicos, especialmente para aqueles em situação de vulnerabilidade”.
Perfil dos dentistas no Brasil
Outra novidade do estudo é perfil dos dentistas no Brasil. O material revela que apenas 35% dos profissionais atuam com convênios odontológicos, percentual que sobe para 39% entre as dentistas. Ademais, 86% dos dentistas entrevistados realizam procedimentos estéticos, que englobam ortodontia e tratamentos de estética dentária, como clareamentos e lentes de contato dental.
Em contrapartida, a medicina estética voltada para harmonização orofacial é a disciplina menos comum entre os consultórios odontológicos, com pouco mais de um terço dos dentistas afirmando praticá-la. Dos entrevistados, 8% planejam introduzir a técnica no futuro, 12% têm interesse em explorar essa oportunidade, enquanto quase metade (46%) não demonstra interesse em realizá-las. Contudo, nota-se uma maior difusão dessa prática em consultórios da região Sul (44%) e em consultórios maiores (43% nos que possuem pelo menos três cadeiras).
O estudo, conduzido entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024 contou com a consultoria italiana Key-Stone.