Um estudo feito recentemente pela equipe de pesquisas da consultoria global Accenture chegou a um número inédito e contundente: a década dos anos 2000 foi a primeira, da história, em que o preço das commodities cresceu mais do que o PIB.
Isto significa que, se até então, nossos ganhos de produtividade haviam sido suficientes para seguirem sustentando uma demanda crescente sem parecer que os recursos poderiam um dia faltar, este modelo acabou. E os recursos já estão fazendo falta.
De 1975 até 2000, segundo o estudo, para cada 1 ponto percentual de crescimento do PIB global, o preço dos produtos básicos caiu 0,5%. Isso aconteceu mesmo a demanda por eles crescendo também – para cada 1% de PIB, demandamos 0,4% mais energia, minerais e alimentos do planeta. A partir de 2000, porém, a relação se inverteu. Para cada 1% de PIB, o preço das commodities cresceu 1,9% – praticamente o dobro.
As commodities são o grupo de produtos comercializados no mundo inteiro que estão na base de tudo o que consumimos ou precisamos para sobreviver: petróleo, energia, metais, alimentos . E o fato de elas começarem a nos responder com preços mais altos significa algumas coisas importantes.
A primeira, e mais imediata, é o que a comunidade científica e ambientalista já vem alertando há décadas: o planeta não dá conta de tudo o que consumimos. A projeção da Accenture é que, até 2050, mantido nosso ritmo atual, precisaremos de três planetas Terra para nos manter.
A segunda é: essa conversa de “planeta” finalmente chegou às nossas vidas. E ela é mais do que aquecimento global ou derretimento de geleiras em calotas a 50 mil quilômetros de distância de nós. Ela vem em um outro formato que é muito mais efetivo em mexer com as pessoas: a vida ficou cara.
Comer ficou caro, abastecer o carro ou pagar a conta de luz ficou caro, o que por sua vez significa que abastecer a indústria também ficou caro e os produtos que ela nos oferece também ficarão. Concreto, ferro e aço ficaram caros de forma que construir e adquirir casas, por exemplo, fica caro com eles também. Manter as cidades fica caro, as contas públicas ficam caras, os impostos ficam caros.
Tudo isso eram coisas muito baratas para as classes médias do século passado. E é esse modelo que acabou.
Por fim, a terceira conclusão é: não é só o planeta que é pouco. Nós que somos muitos. A grande revolução nos anos 2000 não foi tão simples quanto estarmos consumirmos mais destes recurso – a proporção, em verdade, continua a mesma ou em muitos casos é até mais eficiente, como por exemplo nos automóveis, que hoje são bem mais eficientes no uso de combustível do que no século passado.
A revolução foram todos aqueles 5 bilhões que estavam excluídos do consumo e que passarem a integrá-lo. A grande revolução dos anos 2000, que é aliás o que está por trás do famoso boom das commodities, foi a chegada dos países emergentes, notadamente a China, à economia global.
Até 2004, para se ter uma ideia, 54% da riqueza do mundo estava concentrada nos países desenvolvidos, onde está apenas 15% da população. E, bem, para só 15%, uma Terra inteira é mais do que suficiente de fato.
Foi só nesta década que os países emergentes, onde estão os 85% restantes das pessoas, passaram finalmente a representar mais da metade do PIB global. Em 2014, a proporção estava em 57% x 43%, com a vantagem para os emergentes.
Quer dizer. A China começou a comer, a comprar casas, a usar energia elétrica. E a Índia, a África e a América Latina também. E isso, ao que parece, abalou o pequeno clube de beneficiados para quem, até então, só um planeta sempre havia sido, sim, o suficiente.
Tudo isso torna a necessidade de repensar o “business as usual” ainda mais latente – não porque é injusto, porque justiça nunca foi o que moveu a humanidade. Mas porque agora ele finalmente começou a bater no bolso.