Ainda que a pandemia tenha começado no primeiro trimestre de 2020, só agora está sendo possível avaliar com mais clareza os impactos econômicos causados por ela. Na carteira dos consumidores, a crise econômica ainda deve perdurar, sobretudo com as novas variantes do vírus e os atrasos no calendário de vacinação.
Desde março do ano passado, no Brasil, o último trimestre de 2020 foi o pior momento da pandemia para o consumo fora de casa, o que concretiza o cenário de crise econômica. Já dentro do lar, o consumo teve saldo positivo. É o que diz a mais recente edição do estudo Consumer Insights, produzido pela multinacional Kantar.
Impactos do auxílio emergencial na crise econômica
A razão para o saldo positivo do consumo dentro de casa, destaca o relatório da Kantar, está relacionada ao auxílio emergencial da Caixa Econômica. As classes C, D e E, recebedoras do benefício, foram primordiais nesse saldo.
Para 2021, espera-se uma retração ainda maior. Além do aumento na taxa do desemprego, a evolução dos preços e o vai e vem do auxílio emergencial são fatores que podem impactar o consumo no país.
Ainda que haja um cenário promissor com a aplicação da vacina no Brasil, houve mudança de hábitos causados pela pandemia. Isso tem impacto direto no consumo alimentício e traz novas progressões para 2021.
“O ano de 2020 terminou com saldo positivo dentro do lar graças aos gastos maiores das classes CDE. Para 2021, o desafio é sustentar isso, já que a frequência de compras tem uma tendência orgânica de queda e o volume médio por compra cai”, declara David Fiss, Diretor de Serviços ao Cliente & Novos Negócios da Kantar.
Consumo fora do lar
Entre outubro e dezembro de 2020, o consumo fora do lar caiu em todos os cenários. O estudo ressalta que último trimestre apresentou queda de 5,8% em relação ao anterior. Em comparação com o mesmo período em 2019, o consumo foi ainda pior: registrou queda de 28,8%.
De acordo com a Kantar, a retração foi pior em diversas categorias. Como destaque, enquadram-se água mineral, bebidas quentes, água de coco, energéticos, sanduíches (incluindo hambúrgueres), iogurtes, doces, biscoitos e barras de cereal.
Um dos motivos para a queda no consumo desses alimentos está na alta dos preços. A pesquisa mostra que, em comparação com o mesmo período em 2019, as refeições subiram 16%. Já para bebidas quentes e doces, houve aumento de 15% e 14%, respectivamente.
Entre os aumentos registrados nas bebidas frias, as vendas de cervejas da Ambev registraram aumento de 25% na pandemia.
Ainda assim, Para se ter ideia, em 2019 o consumidor pagava em média R$ 22,80 em uma refeição. Em 2020 — e deve seguir assim também para 2021 —, a mesma refeição tem o valor de R$ 26,30.
Consumo dentro do lar
Diferente do apresentado no gasto fora de casa, a aquisição dentro do lar apresentou aumento com todas as cestas de consumo. Esse crescimento ocorreu principalmente entre as classes mais baixas, que receberam o auxílio emergencial.
Nos primeiros meses da pandemia, por exemplo, essas cestas apresentaram o dobro de crescimento. A classe DE, que representa ¼ das casas brasileiras, registrou o maior percentual de variação de gastos nos dois primeiros trimestres de 2020. O consumo subiu de 9% para 14% de março a junho. Vale destacar que dentro dessa classe, 72% dos membros receberam o benefício monetário do governo.
Ainda que tenha apresentado expansão de gastos, a taxa caiu do segundo para o terceiro trimestre: de 8% para 6%. Para as classes AB e C, o crescimento foi sustentável ao longo dos anos. Nota-se que 61% dos integrantes da classe C receberam o auxílio emergencial.
As categorias de cesta mais beneficiadas pela injeção do montante foram mercearia doce, perecíveis e higiene & beleza. Para os domicílios que não receberam o auxílio, as cestas de bebidas e mercearia salgada tiveram melhor desempenho.
É importante ressaltar que o consumo dentro de casa, alavancado pelo auxílio emergencial, teve destaque nas regiões Norte, Nordeste e Grande Rio de Janeiro.
Produtos mais consumidos
Entre os produtos mais comprados em 2020, durante a pandemia, o cloro sai em disparada. Para redobrar os cuidados com a higiene, o produto ganhou 18,3 pontos de penetração de 2019 para 2020.
Seguidos dele, outros itens que cresceram em presença na casa dos brasileiros de todas as classes foram o azeite (11,7 pontos de penetração), presuntaria (11,6), pão industrializado (8,1) e ketchup (7,9).
Em destaque para as classes AB, houve maior consumo de batatas congeladas (8,2) e manteiga (7,3). Já para a classe DE, houve crescimento no consumo de empanados (11,3).
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