O mercado de crédito no Brasil vem enfrentando desafios pontuais nos últimos anos. Taxa de juros elevadas, concentração de mercado, inadimplência, falta de educação financeira e impacto econômico geral são alguns deles. Isso destaca a necessidade de avanços em diversas áreas para evolução do setor, o qual, encontra na Inteligência Artificial (IA) uma grande aliada para enfrentar esses desafios
Neste contexto, e com a proximidade do Dia Internacional da Mulher (8 março), conversamos com três especialistas em finanças sobre o cenário atual de crédito no Brasil e o impacto das novas tecnologias. Confira!
Crédito e novas tecnologias
Rafaela Cavalcanti é cofundadora e CEO da CloQ. Rafaela expandiu vários negócios internacionalmente em quatro continentes. Graduou-se summa cum laude pela Universidade Federal de Pernambuco e possui MBA pela Vrije Universiteit Amsterdam. É fellow da Cartier Women’s Initiative e do FMI. É Youth líder da SDSN da ONU e também graduou no curso Social and Impact Entrepreneurship executive education da INSEAD, um dos melhores MBAs do mundo.
A CloQ é startup brasileira que oferece nano-crédito com transparência, rapidez, flexibilidade nos dias de pagamento, juros justos e atendimento humano.
CM: Quais são os principais desafios na oferta de crédito sustentável para população de baixa renda hoje no Brasil. As novas tecnologias podem auxiliar nesse desafio?
A oferta de crédito para a população de baixa renda no Brasil enfrenta desafios como: a falta de informações sobre o histórico financeiro, comprovante de renda e documentos requisitados em excesso. Esse cenário dificulta a obtenção de aprovações para empréstimos, cartões de crédito e até mesmo serviços como telefonia e internet. Sem um score de crédito inclusivo, milhões de brasileiros permanecem de fora do sistema financeiro, limitando suas oportunidades econômicas.
Tecnologias inovadoras, como IA para a análise de dados alternativos, estão ajudando a enfrentar esse desafio ao permitir novas formas de avaliação de risco, baseadas em padrões de consumo e comportamento digital. Isso viabiliza a acessibilidade de produtos. No entanto, a tecnologia sozinha não basta. Para garantir uma inclusão financeira efetiva, é essencial a colaboração entre governos, instituições financeiras e empresas privadas na criação de políticas e programas e produtos voltados para essa população em específico. Além disso, marcos regulatórios mais flexíveis e iniciativas de educação financeira são fundamentais para assegurar que essas soluções sejam sustentáveis a longo prazo.
Democratização da educação financeira
Eduarda Gouvêa é vice-presidente do Conselho Deliberativo da Droom Investimentos. Eduarda tem formação acadêmica em Direito e especialização em Gestão de Pessoas. A executiva e investidora, é membro da Comissão Nacional de Precatórios da OAB e da Comissão de Precatórios da OAB/RJ. A experiência e conhecimento em processos de Direito Creditório levaram a advogada a atuar com aplicações financeiras em precatórios na Droom Investimentos — empresa fundada por sua família e que tem sob gestão mais de R$ 8 bilhões em ativos judiciais. Eduarda defende a educação financeira e investimentos democráticos e seguros.
Nos últimos anos, a Droom disponibilizou investimentos em ativos judiciais tokenizados, dando acesso a todos para um mercado antes restrito a investidores institucionais.
CM: Novas tecnologias como IA podem auxiliar na educação financeira e na democratização segura do crédito no Brasil?
Novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, são ferramentas que beneficiam, e continuarão beneficiando, o mercado de inúmeras maneiras, inclusive fomentando a educação financeira. Se considerarmos que, no Brasil, não temos a cultura de valorizar a educação financeira básica nas escolas, por outro lado, já existem diversas iniciativas com IA que promovem trilhas de conhecimento personalizadas e dinâmicas para a população em temas relacionados a finança.
Com relação ao acesso a crédito, a tecnologia permite análises mais precisas de dados, agilizando as decisões estratégicas de instituições financeiras e, ao mesmo tempo, beneficiando quem precisa desse tipo de financiamento. Esse movimento estimula a economia e o desenvolvimento de novos negócios. Além da IA, a blockchain democratiza, por exemplo, a negociação de precatórios, permitindo que os credores recebam valores de forma mais ágil, sem ter que aguardar anos – às vezes décadas – na fila de pagamento do Estado, o que impacta toda a economia ao aumentar poder de compra de milhões de brasileiros que possuem um título como esse.
Open Finance e IA
Ingrid Barth é especialista em Open Banking e cofundador e CEO do Pilotin, fintech que ajuda os brasileiros a se tornarem pilotos de suas vidas financeiras através de dados. Com mais de 20 anos de experiência nos ramos de finanças e inovação, é chair do Startup20, grupo de engajamento oficial de startups e empreendedorismo do G20, e foi a primeira mulher presidente da Associação Brasileira de Startups, onde atuou por quatro anos. A profissional também foi cofundadora e COO do Linker, banco digital PJ vendido para a Omie, e fez parte do banco Neon, onde foi responsável pela construção da conta digital para PMEs na companhia. Também foi membro por quatro anos do conselho deliberativo do Open Banking com o Banco Central do Brasil.
CM: Como o Open Finance combinado com as novas tecnologias, como IA, pode impulsionar o crescimento sustentável de crédito no Brasil?
O Open Finance ainda mais atrelado à Inteligência Artificial é uma ferramenta excelente para impulsionar o crédito sustentável no Brasil. O Open Finance consegue trazer informações – que até então não estavam sendo utilizadas – para a análise do crédito, como por exemplo, o comportamento de consumo positivo – que os modelos mais tradicionais não usavam por conta da dificuldade em acessar os dados. E com a IA, isso fica ainda mais poderoso. De uma maneira muito inteligente e rápida é possível hiperpersonalizar as ofertas de serviços financeiros, em especial do crédito. A ideia é que a IA consiga fazer com que o crédito seja saudável e hiperpersonalizado de acordo com o perfil de cada um dos consumidores. Tudo isso usando os dados financeiros e de comportamento de consumo.