O isolamento social provocado pelo novo coronavírus provocou abrupta interrupção em várias redes de abastecimento que são um ativo estratégico essencial para vários setores da economia brasileira. Por outro lado, as mudanças que a covid-19 provocou no âmbito das cadeias de suprimentos estão trazendo de volta o foco em impulsionar a produção local de setores críticos e o desejo do consumidor de apoiar as empresas locais. Observa-se esse fenômeno tanto no comércio internacional quanto no interior de cada país.
De fato, a duração e a gravidade da crise têm afetado a extensão na qual as cadeias de suprimentos são interrompidas e por quanto tempo, incentivando as empresas a reconsiderarem onde as operações estão situadas nesse processo. Além disso, será agregada inteligência ao supply chain, pois as empresas não podem mais ser pegas desprevenidas, como ocorreu agora, quando um micro-organismo parou o mundo. A incorporação de tecnologias, automação robótica e a cibernética reduz o risco de interrupção e o custo da produção doméstica, permitindo, também, tomada de decisões em tempo real e potencializando a capacidade de resposta. Além disso, visando criar resiliência, é necessário examinar criticamente os processos e reestruturar fluxos e redes.
Os riscos e casos concretos de paralisação do fornecimento geraram um imediato questionamento sobre a dependência regional ou internacional, que vinha sendo a base lógica da globalização. Exemplo emblemático da pertinência dessa preocupação está no fato de 75% das empresas norte-americanas reportarem interrupções nas cadeias de suprimentos chinesas. O mais grave é que 44% delas não tinham qualquer plano alternativo para substituir o abastecimento. Fica claro que os produtos de consumo, alimentos, bens de capital e insumos precisam ir aonde está o consumidor, seja ele pessoa física ou jurídica.
O que fazer?
Ação imediata, enquanto não haja vacina disponível contra o novo coronavírus, é cuidar com muito rigor da saúde e proteção de todos os envolvidos nas cadeias de suprimentos, adotando os necessários protocolos de segurança, distanciamento social, máscaras e testes clínicos. Tais providências respondem à responsabilidade das empresas perante seus colaboradores, clientes e a sociedade, evitam novos colapsos do sistema e garantem um tempo de operação consistente.
Outra providência importante que as empresas devem adotar, ainda no contexto relativo à conjuntura atual de enfrentamento da crise, é instituir novos fluxos de receita a partir das cadeias de suprimentos criadas pela pandemia, ajudando as organizações que precisam investir ou alienar seus ativos específicos referentes a esse mercado contingencial. Também é preciso identificar possíveis indisponibilidades de oferta e construir buffers de produção e/ou de estoque, para garantir o atendimento à demanda.
Mais do que nunca, devem ser exploradas as integrações verticais de produção e distribuição, como estratégia para gerar estabilidade. Assim, é importante criar recursos localmente para estar mais perto dos clientes, aumentar a resiliência e a sustentabilidade e contribuir para as economias da comunidade, produzindo ou disponibilizando mercadorias quando e onde elas são necessárias. Ou seja, ir aonde o mercado está.
* André Coutinho é sócio-líder de advisory da KPMG no Brasil e na América do Sul.
+ Notícias
Lojas autônomas: Hiperproximidade e inteligência artificial no varejo
Veja lições e expectativas para o varejo brasileiro no pós-pandemia