Recrutar o colaborador certo é um desafio que todas as empresas enfrentam. Existem várias estratégias que podem ser utilizadas para encontrar um profissional alinhado não apenas com as habilidades técnicas exigidas, mas também com a cultura, os valores e o propósito da empresas. Ter uma boa compatibilidade é fundamental para o sucesso a longo prazo. Fazer escolha errada pode não apenas prejudicar a produtividade e a harmonia da equipe, mas também resultar em custos substanciais, incluindo o tempo e os recursos investidos em processos seletivos.
Durante o painel “O colaborador certo na empresa certa”, realizado no CONAREC 2023, especialistas compartilharam suas perspectivas e estratégias para otimizar o processo de recrutamento e seleção. O painel foi mediado por Ingrid Zenatti, Presidente TownSq Brasil e Co-fndadora da CLG Educação. Entre os participantes estavam Christiana Mello, Diretora da Unidade de Recrutadores da Catho Online, Solange Freitas, CEO da Flex Business, e Tiago Yonamine, Fundador da Trampos, que trouxeram valiosas contribuições para a discussão.
O papel da inteligência artificial na triagem
O uso da inteligência artificial (IA) na triagem inicial de candidatos é uma tendência em ascensão no campo de recursos humanos. Segundo Christiana Mello, Diretora da Unidade de Recrutadores da Catho Online, as empresas muitas vezes contratam com base nas habilidades técnicas, mas acabam desligando funcionários devido à falta de ajuste cultural. “A Catho ajuda a fazer essa primeira triagem, permitindo que os empregadores identifiquem o ajuste cultural por meio de perguntas personalizadas”, diz.
A diretora acredita que a inteligência artificial torna o trabalho de recrutamento e seleção de candidatos mais eficiente e ágil. Uma das estratégias destacadas por ela foi o uso de questionários personalizados. Mello mencionou que cerca de 30% das empresas que utilizam a Catho para contratar adotam essa abordagem. Esses questionários consistem em duas ou três perguntas projetadas para avaliar se o candidato se encaixa culturalmente com a empresa em questão.
CONAREC 2023
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Um estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), Daniel Blumen e Vanessa Martines Cepellos, corrobora essa tendência. Eles realizaram entrevistas com profissionais de RH de empresas farmacêuticas no estado de São Paulo e descobriram que a IA está transformando o trabalho de recrutamento e seleção de candidatos.
Mello também ressaltou a importância da assertividade no processo de contratação. Somos um marketplace de emprego, de um lado tenho os candidatos e do outro lado os empregadores, o b2b, tenho que ter assertividade no processo. “É preciso achar a pessoa certa para aquela vaga que vai ficar na empresa. Cada contratação tem de um mês a três de procura, mais o tempo da curva de aprendizado. Tudo isso tem um custo”, pondera.
Entretanto, a implementação da IA no processo de recrutamento não está isenta de desafios. Alguns profissionais de RH expressaram preocupações com a diminuição do contato humano no processo de seleção. Além disso, existe a preocupação de que algoritmos possam introduzir vieses nos processos, já que alguns candidatos podem não ter as habilidades tecnológicas necessárias para serem localizados por meio de busca ativa.
Enfatizando o Fit Cultural
Na Flex Business, o processo de contratação é diferenciado. Ele prioriza o fit cultural e a adaptabilidade. A entrevista de seleção não se baseia apenas nas habilidades técnicas, mas também incorpora testes de perfil comportamental. De acordo com Solange Freitas, CEO da Flex Business, o foco é reduzir o turnover e manter uma abordagem de apoio durante o período de experiência.
“Contratamos jovens com pouca experiência no mercado, a menos que a vaga seja altamente técnica. O processo inclui uma conversa inicial online com o gerente responsável, seguida por testes de avaliação. Nossa entrevista não é só baseada na parte técnica, fazemos um teste de perfil comportamental, buscamos o fit cultural”, afirma.
A Flex Business tende a não dispensar funcionários durante o período de experiência, por entender que é fundamental ter tempo para a curva de aprendizado e o alinhamento de expectativas. Cada novo funcionário recebe um padrinho, geralmente um colaborador mais experiente, para auxiliá-lo em suas necessidades. Freitas também enfatizou a importância de reconhecer e engajar os colaboradores. “Se preocupem com a jornada do funcionário. Se preocupe mais com as pessoas que estão na empresa. Deixe que os colaboradores participem, preocupe-se em fazer com que eles se apaixonem pela empresa”, compartilha.
A evolução do recrutamento digital
As plataformas digitais estão desempenhando um papel fundamental na transformação do recrutamento e seleção de candidatos. Para Tiago Yonamine, Fundador da Trampos, uso dessas plataformas oferece mais pontos de contato com os candidatos, resultando em uma redução significativa na taxa de desistência ao longo do processo seletivo. “Hoje em dia o candidato também está avaliando a empresa e avalia também esse processo de feedback. Os recrutadores estão disputando os talentos. Conseguimos também diminuir o tempo necessário para encontrar o candidato”, afirma.
Yonamine observou que com a crescente adoção do trabalho remoto ficou mais importantemanter a conexão e o engajamento com os colaboradores. Em um ambiente “remote first”, é essencial ter cuidado para evitar que os profissionais se desconectem do processo. Ele também compartilhou uma estratégia importante para o sucesso contínuo das empresas: manter um banco de profissionais pré-selecionados.
“Isso envolve realizar entrevistas e manter um grupo de candidatos qualificados em reserva, prontos para serem contratados quando necessário. Essa abordagem permite que as empresas ajam com agilidade diante de mudanças no quadro de pessoal ou de expansões em áreas específicas”, diz.
Diversidade e inclusão nas contratações
A busca pela diversidade nas contratações surge não só para promover a inclusão e a equidade no recrutamento, mas também para acompanhar o colaborador ao longo de toda a sua jornada na empresa. Essa abordagem não apenas fortalece a cultura organizacional, mas também contribui para o sucesso a longo prazo da empresa no mercado.
Segundo Daniel Poli, Gerente Executivo de Sustentabilidade, Diversidade e Impacto na Cielo, é necessário buscar a diversidade no processo seletivo. O recrutamento evoluiu para uma abordagem que não apenas avalia os candidatos, mas também busca elementos de inclusão. A estratégia de diversidade envolve a medição da composição da empresa e a identificação de eventuais lacunas.
Para promover a diversidade de maneira eficaz, é necessário investir na identificação e no planejamento dessas lacunas como parte integrante da estratégia de negócios. “É preciso definir uma estratégia de diversidade e isso passa por metrificar sua organização, entender a composição da sua empresa. Como está seu processo de atração? Você está recrutando mulheres e pessoas negras? Ou seja, esse processo passa pela medição dos seus gargalos. Para isso, é preciso mapear, investir, e planejar. Quando a diversidade encontra um caminho na estratégia de negócios, ela passa a ser um valor”, afirma.
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